segunda-feira, 14 de junho de 2010

Crônica das palavras prostituídas

Confesso: sexo verbal sempre esteve entre as minhas preliminares favoritas. E mais: sempre tive as palavras mais como amantes que como amigas. Palavras são traiçoeiras, mas confio mais no que está escrito que em quem escreve, no que está dito do que em quem diz.

Apesar disso, se não merece a cumplicidade e a fidelidade de uma relação de amor ou amizade, acredito que cada palavra mereça, ao menos, ser cobiçada, conquistada, desejada como amante. Mas, prostituída?!

Vejo palavras jogadas sem qualquer tesão sobre páginas brancas em monitores encardidos, cor de lençol de motel barato. Amontoam-se várias ali, sem qualquer afinidade, faz-se uma orgia e tem-se um release. Depois, são lidas sem paixão, tão banalizadas quanto o sexo nos dias de hoje, vazias, usadas. São exibidas ao leitor como filme pornô de quinta em comercial de canal pay-per-veiw. Basta ler um trecho para entender o vazio contexto geral. E se for release político, então, vira pornô chanchada.

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A maior parte do que leio durante o dia é droga. Se a realidade é feia, ou não faz sentido algum, quem escreve tais relatos também é desprovido de talentos. Por isso quando chego em casa para o abraço dos cobertores prefiro ler ficção, ou documentários de autores bem escolhidos. Busco a poesia para encontrar no sono um sonho bom. Acordo com sede de mais histórias bem contadas.

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Em certos dias queria ser Carpinejar, a voz contemporânea do amor. Melhor ser escritor que jornalista, ao menos os escritores têm licença poética. Queria falar o que a maioria cala – o que eu calo – mas, para isso, precisaria sofrer como todos sofrem. Escrever pode ser perigoso...

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Noite dessas a leitura repetida quase sempre antes de dormir foi suspensa pela sensação gelada nas pontas dos dedos. A sensação de não sentir.

Até que uma brisa de inspiração que entra por baixo dos cobertores me fez sair da cama em busca de papel e caneta para não correr o risco de esquecer as palavras ao amanhecer. Perdi o papel onde rascunhei esta crônica. Tento aqui recordar o que escrevi, em garranchos sem seguir as linhas sonolentas.

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