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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Museu da Z-3


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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

As Letras no Memorial do Sete

Em cena... as letras. Registros de espetáculos que colocaram em evidência a literatura estão reunidos na mostra em cartaz no Memorial do Sete de Abril: Encenando Letras.

Veríssimo, Simões, Drummond... Nomes que já passaram em prosa e verso pelo palco do teatro estão lá, no pequeno beco da rua 15 que nem sempre os passantes se lembram de visitar. Ferreira Gullar, Nelson Rodrigues, Shakespeare, Carpinejar e o outro Veríssimo também, isso para citar apenas alguns dos célebres escritores lembrados na exposição inaugurada durante a Feira do Livro e que chega agora a sua última semana.

Ao refletir sobre Fragmentos de um discurso amoroso - obra de Roland Barthes que interpretou em 1988 - o ator Antônio Fagundes falava do temor que sentia. Isso porque "homens, mulheres, jovens ou maduros, não importa o sexo nem a idade, em todos os cantos do mundo, se identificaram e se apropriaram desses discursos de uma forma tão inalienável que deve ser difícil convencê-los de que existe sempre uma outra possibilidade de interpretação além da sua própria". E não seriam todos os livros - os bons livros - assim, reinventados a cada leitura e possuídos por quem os lê?


O que já esteve em cartaz

A coleção de cartazes no corredor estreito convida a andar pelo tempo nos registros do passado.

Lobo da Costa, o poeta pelotense homenageado na mais recente edição da Feira do Livro, teve sua biografia cênica escrita por Valter Sobreiro Júnior que deu a ela o título: Em nome de Francisco, peça encenada em 1986 pelo extinto grupo Desilab.

Naquele mesmo ano a platéia pelotense assistiu a Deus ajuda os bão, com texto de Arnaldo Jabor, e a'Os Sete Gatinhos de Nelson Rodrigues. Lembra?

Fernanda Montenegro, em 1988, foi Dona Doida inspirada pela obra da Adélia Prado. A filha, Fernanda Torres e elenco passaram por aqui com Orlando, de Virgínia Woolf.

Até mesmo o escritor japonês Ryunosuke Akutagawa dá as caras na exposição. Ele foi homenageado pela companhia uruguaia Teatro Eslabón no espetáculo En el bosque.

"Há vários nomes de escritores e atores com renome nacional e até internacional nessa mostra, mas sempre procuramos mesclar também com obras de artistas locais. Tem muita gente que se encontra aqui", diz a historiadora Érica de Lima, que divide a tarefa de organizar a programação de mostra do acervo do Memorial com a bibliotecária Magali Aquino.

A exposição recorda ainda algumas das 16 edições do Cena Literária realizadas desde março do ano passado. O projeto, realizado tradicionalmente na última quarta-feira de cada mês no foyer do teatro, apresenta ao público como elemento de provocação para o debate esquetes inspiradas na literatura.


Prestigie!

O quê: últimos dias da exposição Encenando Letras
Onde: no Memorial Theatro Sete de Abril (rua 15 de Novembro, 560-A)
Quando: até o dia 5 de dezembro, com visitação de segunda à sexta-feira das 13h às 18h30min


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Quarta-feira, 26 de novembro de 2008

domingo, 2 de novembro de 2008

Onde a história acontece

Por trás da fachada, um universo a ser (re)descoberto. A casa da rua Dom Pedro, 810, é construída de histórias; 436 metros quadrados de histórias. A porta de entrada, de vidro transparente, permite que se olhe além dela para um horizonte literário. Lá dentro, o sol que entra sem cerimônia pelas grandes janelas ilumina as escaiolas que sobem pelas paredes como heras, e recria suas formas a cada hora do dia.

Não se esqueça de dizer: a porta é de vaivém, e nunca pára. Está sempre se abrindo, para quem mais, além do sol, quiser entrar. E são muitos, sempre bem-vindos. Por ali circulam crianças, moços e velhos, quase que diariamente. Eles percorrem cômodos da residência que durante dez anos foi a moradia do escritor João Simões Lopes Neto e percorrem também as páginas dos livros com uma curiosidade alegre e sagrada. Na sala, como se saísse de uma das paredes, é o próprio Capitão quem saúda os visitantes, com um olhar jovial de quem diz: “Olá! Amigo! Apeie-se; descanse um pouco! Venha tomar um amargo!”

Pela leitura, quem chega vai à busca da redescoberta da cultura gaúcha e dos tesouros perdidos nas entrelinhas escritas por uma caligrafia rebuscada. O Negrinho do Pastoreio os acompanha na procura por este caminho literário que continua a ser percorrido à luz dos tocos de vela acesos pelas Lendas do Sul e pelos Contos Gauchescos. Nem sempre foi assim.


A reconstrução

Até o final da década de 1990 o local estava caindo aos pedaços. O imóvel, abandonado, por pouco não teve sua destruição decretada. Se isso tivesse ocorrido, os escombros do casario teriam enterrado uma história que, por sorte, alguém se interessou em investigar. Esse alguém era o pesquisador Carlos Sicca Diniz, que através de registros nos cartórios de Pelotas comprovou as suspeitas de que a casa havia pertencido ao mais célebre dos escritores pelotenses. No período em que viveu ali, de 1897 a 1907, João Simões escreveu a lenda O Negrinho Pastoreio.

A descoberta deflagrou uma batalha judicial que mobilizou a comunidade, desde a imprensa até os historiadores e admiradores da literatura simoniana. Sete anos mais tarde a aprovação de um projeto de lei do então deputado Bernardo de Souza transformou a casa em Patrimônio Cultural do Estado. A demolição não aconteceria, mas nada impedia que o prédio ruísse irremediavelmente - no final de um processo de degradação longo, solitário - apenas com a ajuda do tempo e da umidade.

Foi então que um grupo de pessoas disposto a devolver a casa ao seu antigo e mais notável dono apareceu. Esse grupo fundou o Instituto João Simões Lopes Neto, e através dessa instituição civil conseguiu captar recursos, restaurar o prédio e, principalmente, devolver a vida ao lugar.

"Só por ser antiga, a casa já merecia ser recuperada. Mais ainda por Simões ter vivido aqui. A sua obra é a substância desse lugar", diz o escritor Vitor Ramil, autor de Satolep (Cosac Naify, 2008), que confessa uma relação afetiva com "o homem" João. Apesar de não serem contemporâneos, a amizade entre os dois se revela no estilo da prosa e na forma como Vitor é capaz de dialogar com o conterrâneo - autor atemporal.

Ramil defende a tese de que foi a decadência econômica do município que ajudou a conservação do patrimônio histórico de Pelotas, ou pelo menos impediu que a degradação fosse maior. A falta de dinheiro não retardou a ação do tempo, mas amenizou a ação do homem, ainda mais nociva. "É paradoxal isso, mas se a cidade tivesse mais recursos para a construção civil, teria destruído muito mais prédios. Porque a mentalidade das pessoas é de construir coisas novas. As pessoas não conseguem enxergar a beleza do antigo. De certa forma, a gente continua trocando ouro por espelinho", reflete, enquanto admira as escaiolas nas paredes, que antes escondidas nas sombras do prédio em ruínas, com o restauro voltaram a ser vistas.


A reabitação

Com quase dez anos de atividades constantes, dentro e fora da Casa, o Instituto é hoje um espaço concreto habitado por significados abstratos, como as escaiolas - metafóricas e enigmáticas - descritas por Vitor Ramil. Assim, capaz de atrair ações que convergem até ela e irradiar reflexos da mobilização cultural que ocorre no seu interior, não por acaso é reconhecido como um marco sólido da cultura do Rio Grande do Sul do passado, no presente e para o futuro.

Atualmente são mantidos diversos projetos permanentes, (veja no quadro) entre eles o Núcleo de Estudos Simoneanos. O grupo, que começou antes mesmo da criação do Instituto, se reúne semanalmente e é o verdadeiro "cérebro" da instituição, pois mantém a obra de Simões permanentemente lida e discutida, agora num local que não poderia ser mais inspirador.

Além dos simonianos, circulam pelo lugar mais de 500 pessoas todos os meses – uma movimentação que mantém a casa sempre ventilada.


O novo Blau

Mais de nove décadas depois da morte de Simões, sua obra talvez nunca tenha estado tão viva. A casa tem o seu espírito empreendedor, e a alma do velho Blau refletida nas vidraças. É o novo jeito de contar histórias.

A “memória” do vaqueano está se modernizando. Até o final deste ano o Instituto deve dar início à execução do projeto de digitalização do acervo, que só depende da liberação dos recursos (R$ 40 mil) aprovados na Consulta Popular de 2006.

Mais que um ambiente de preservação de um valioso acervo de obras e peças - muitas delas raras -, a Casa do Capitão se tornou um lugar de reflexão e releituras inesgotáveis para o legado simoniano. Mais ainda: tornou-se um ponto de referência por hospedar tantas outras atividades ligadas às artes, à história, à literatura – de oficinas de teatro a reuniões do grupo dos representantes dos museus de Pelotas - de forma ampla em uma cidade ainda órfã de uma casa própria para a cultura.

“Nos interessa que a história seja preservada como um todo. É importante que o Museu da Baronesa esteja em boas condições, por exemplo, porque quando o visitante vai lá ele pode ter uma noção de como era a sociedade pelotense da época de Simões”, contextualiza o presidente do Instituto, Henrique Pires.

“Abrir as portas para a comunidade é o que justifica a existência de um espaço como esse. Uma casa que foi reformada e é mantida com recursos de renúncia fiscal tem a obrigação de estar a serviço do público”, afirma ainda, ao admitir que teme que a polêmica envolvendo desvio de recursos da Lei de Incentivo à Cultura (LIC-RS) possa comprometer a programação do ano que vem. “Por enquanto a análise dos projetos está suspensa, mas nós vamos atrás de parcerias”, garante.


Algumas atividades
- Prêmio Trezentas Onças - reconhecimento simbólico concedido anualmente às personalidades que se destacam no trabalho pela preservação da memória e divulgação da obra de Simões.

- Simões Lopes vai à Escola - projeto de aproximação do escritor com os novos leitores através de atividades que se realizam nas escolas e no Instituto. Desde 2007, já contemplou mais de 40 colégios e cerca de 3 mil alunos das redes públicas e particular de ensino de Pelotas e região.

- Blau: Centro de Estudos Cênicos - oficina permanente de teatro onde a obra simoniana é a matéria-prima da didática de formação do ator.

- Teatro Mostra Simões - projeto que incentiva a formação de grupos de teatro nas escolas por meio de oficinas preparatórias. Os grupos recebem suporte técnico para elaborar esquetes inspiradas na obra de Simões e depois apresentam as montagens em outras escolas. Este ano, 6 colégios participam diretamente e outros 14 irão receber as apresentações itinerantes até dezembro.

- Seminários - o IJSLN faz parte da comissão organizadora da Feira do Livro e anualmente promove seminários temáticos. Este ano, pela primeira vez, contará também com um estande próprio no evento.

- Prêmio JSLN de Artes Visuais - implementado este ano, o concurso incentiva a produção contemporânea de artistas gaúchos.

- Palestras e oficinas - inúmeras oficinas voltadas para o aprendizado de diversas linguagens artísticas são promovidas pelo Instituto, quase sempre com participação gratuita, ou a preços simbólicos. Além disso, palestras, debates e seções de exibição de filmes são freqüentemente realizados no auditório da Casa. No próximo domingo, Vitor Ramil inaugura a série Diálogos na Casa de Simões, quando irá discutir com leitores as interpretações de seu livro Satolep.


Novos leitores

Na escola, os alunos aprendem que "João Simões Lopes Neto foi o mais importante escritor regionalista do Rio Grande do Sul". No Instituto, onde as crianças se sentem em casa, o Simões, ou simplesmente João, assume um tom menos solene e uma importância real não para o mundo, mas para cada um dos novos leitores que são conquistados pelo carisma e pela prosa cativante do escritor.

Alana, de nove anos, acha que ele foi importante porque seus livros registraram as histórias dos gaúchos e, traduzidos, fizeram com que o Estado ficasse conhecido em todo o mundo. Ela, como os colegas, não sabe ler japonês. A tradução, para eles, nem é tão importante assim, porque apesar de viverem no Rio Grande do Sul, eles aprenderam e reconheceram suas próprias origens pelas histórias de Simões, contadas em português mesmo, mas um português carregado de sotaque.

Durante a leitura, orientada pela professora, os alunos formularam um glossário. "Charlador" foi uma das primeiras palavras cujo significado precisaram pesquisar. "Charlador é uma pessoa que fala muito, que conta histórias, como o Blau Nunes", explica a aluna Eduarda, mostrando que tem a lição na ponta da língua. "Ele é um tagarela", completa Arthur, arriscando um sinônimo mais próximo do seu vocabulário.

Envolvidos pela atmosfera do passeio literário, os alunos da quarta série do Colégio São Francisco de Assis soltam a imaginação. "Eu acho que o Simões era alto, magro e bigodudo", diz alguém. "Era até bem charmoso... E ele fumava! Naquela época fumar era considerado elegante! Mas hoje é bem diferente...", analisa outro aluno.
"Mesmo ele tendo a aparência de um senhor muito velho, eu acho que ele tinha mesmo uma alma de criança. Ele é muito simpático!", diz Bruna, que no teatrinho montado na escola fez o papel de protagonista do conto O mate do João Cardoso.

"As pessoas acham que museu é uma coisa chata, parada, mas esse aqui não é. A gente não deve destruir nada disso porque se a gente estragar não tem como ele escrever de novo! E eu acho que lá do céu o Simões deve estar feliz porque a gente vem visitar a casa dele e quer saber mais das histórias que ele contava", resume a colega Eduarda.


Casa velha, vida nova

Arejadas pelo folhear dos jovens as páginas amareladas dos livros são tratadas como verdadeiras preciosidades. As velhas histórias são novidade para as crianças e outros leitores que como elas dão os primeiros passos nas andanças literárias feitas há muito tempo pelo velho Blau.

A Casa do Capitão é ponto de partida para esses caminhos. É a descoberta, de que entre Simões - escritor, empreendedor - e João - o homem -, ficou estendida uma longa estrada semeada de recordações – casos, dizia –, que de vez em quando alguém reconta, como quem estende ao sol, para arejar, roupas guardadas ao fundo de uma arca...


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Estilo / Capa e páginas centrais | Publicado em: Pelotas, Domingo, 2 de novembro de 2008

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

50 Anos de Boemia

A fachada estreita com janelas enfeitadas de cortinas vermelhas com bandôs de rendas brancas e os dois lances de escada são símbolos da Pelotas noturna e dos finais de tarde de domingo. Se os degraus do Sobrado falassem, certamente teriam muito o que contar. Mas como não falam, são os seus quase sócios mais assíduos os porta-vozes da história, que completa hoje 50 anos.

O Sobrado abriu as portas pela primeira vez em 19 de setembro de 1958 como restaurante e já naquela época se tornou um dos pontos mais freqüentados da sociedade pelotense. Os almoços e jantares dançantes eram transmitidos ao vivo pela TV Tuiuti que funcionava ali perto, na rua 15 de Novembro.

O proprietário era Moacir Noronha, um homem grande, como descrevem os que o conheceram, e que tinha uma forma bastante peculiar de impor a disciplina no ambiente: "Sempre que alguém se 'se passava' o Noronha arrumava a gravata. Aquele era o sinal que todo mundo conhecia para a banda parar de tocar e aí o cidadão já sabia que era para maneirar o comportamento", conta o atual proprietário, Manoel Larroque, imitando o jeito do outro.

Adquirido em 1973 por outro Manoel, o Manoel Gianpaoli, conhecido como Maneca, a casa continuou resistindo ao "liberalismo", e preservando os bons costumes. "No meu tempo eu usava um cartão. Cartão amarelo era advertência e cartão vermelho era expulsão", acha graça o Maneca, que ainda hoje mantém sua mesa cativa no Sobrado.

Se alguém exagerasse nos carinhos com a namorada ou tentasse beijar a donzela em público corria o risco de ser mandado embora e só podia voltar se o "Seu Maneca" liberasse. "Tinha uns que pegavam um mês, dois meses de suspensão e depois podiam voltar. Mas se a coisa fosse muito feia não podiam voltar mais."

Hoje as liberdades estão maiores, mas os freqüentadores ainda prezam o ambiente familiar. "Quem não se comporta bem é convidado a se retirar", diz Larroque, atual proprietário. Beijar pode. "Mas tem que ser meio disfarçado", adverte.


O chapéu do Tito

"Ah! Se eu te contasse todo mundo que passou por aqui...", diz o Maneca num ar saudoso, começando a enumerar alguns nomes. Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Alcione, Moacyr Franco, Jamelão e até o mais boêmio de todos os boêmios, Nelson Gonçalves, já subiram os degraus do Sobrado. "E teve também aquela vez, quando o Waldick Soriano esteve aqui... Lembra?", pergunta ao Manoel, que fuma um cigarro sentado junto à mesa.

O Maneca conta histórias do Sobrado como se estivesse vendo de novo cada cena. "Naquele dia isso aqui tudo tava lotado... todo mundo ancioso esperando a chegada do Waldick. De repente entrou o Tito, com uma roupa e um chapéu bem parecidos e todo mundo foi pra volta dele. Aí a gente teve que acalmar todo mundo até o verdadeiro chegar." O causo teve ainda outro desfecho:
"Depois o Waldick queria trocar de chapéu com o Tito, mas o Tito não quis. O chapéu dele era um chapéu fino, e o do Waldick era daqueles que ele atirava para o público", se diverte.

Outro momento gravado na memória do Sobrado foi a festa da torcida Xavante. "Em 1985, quando o Brasil foi terceiro colocado no Campeonato Brasileiro, a gente darramava barris de choppe daqui das janelas e o pessoal lá embaixo bebia de graça", lembra o Maneca.


Os donos da casa


Depois de muitos anos de funcionamento como restaurante, em meados da década de 80 o plano econômico do presidente Sarney modificou a rotina do Sobrado. Na verdade, o comportamento do público também estava mudando. "Era um horror. Por causa do congelamento de preços e da Sunab... não tinha como manter o restaurante, aí ficou só como casa noturna", diz Maneca, proprietário na época da mudança.

Em cinqüenta anos, o Sobrado só interrompeu suas atividades entre janeiro e setembro de 2006, quando passou por reformas, durante a administração do atual proprietário, Manoel Larroque. "Mas eu sempre digo que o Sobrado não é meu, eu só administro. O Sobrado é deles", reforça ele, no espontâneo espírito da casa.

Em "eles", incluem-se as amigas e bem-humoradas Ângela, Benícia e Marlaine, que praticamente moram ali, sempre envolvidas com os preparativos do próximo baile. As histórias das três são parecidas: Ângela ficou viúva e voltou a comparecer no local que antes freqüentava com o marido. "Sem isso aqui eu não vivo!", garante ela.

Marlaine se separou, disse que já arrumou um namorado no Sobrado depois disso, mas que agora está "livre e desimpedida". "Estou aberta para o amor. Se bem que o clima daqui é tão bom que a gente nem sente falta se não tiver par para dançar. Eu me divirto igual", fala às gargalhadas.

Benícia foi ao Sobrado pela primeira vez por recomendação médica e nunca mais deixou de ir. "Eu tive depressão depois que fiquei viúva, há uns 15 anos, e o médico dizia que eu tinha que sair, me divertir. Foi aí que eu entrei pra turma".

No baile desta sexta-feira serão anunciadas as novas tituladas, outra tradição. Com a presença da Miss Pelotas Bruna Petter, receberão oficialmente as faixas a Miss Simpatia, Miss Privamera, Rainha do Carnaval e a Rainha do Sobrado.

A animação ficará por conta dos músicos da casa, com um repertório eclético, mas claro, sem esquecer a identidade do ponto, que faz sucesso e é conhecido principalmente por preservar o repertório de tangos e boleros.


Programação comemorativa

O quê: Aniversário do Sobrado
Quando: hoje, a partir das 22h
Onde: no Sobrado (calçadão da Sete, quase esquina com a rua 15 de Novembro)
Quanto: R$ 10,00 para eles e R$ 3,00 para elas


Mais

O Sobrado funciona regularmente às quartas-feiras, a partir das 21h, às sextas e aos sábados a partir das 22h, e aos domingos com matinês começando às 17h.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Tudo / Capa | Publicado em: Pelotas, Sexta-feira, 19 de setembro de 2008