quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Para evitar que a casa caia

Nativistas se mobilizam para organizar show em benefício do pagamento das dívidas da União Gaúcha

Um abrigo para a cultura sulina, palco de lançamento e projeção de grandes nomes da música nativista, refúgio da história. A sede do CTG União Gaúcha João Simões Lopes Neto está prestes a ruir no terreno instável das dívidas, mas à entidade - que já foi casa de tantos - não faltam ativistas para segurar suas estruturas.


Sensibilizados com a situação que coloca em risco um dos mais importantes centros de tradicionalismo e preocupados em manter a União Gaúcha em atividade, músicos nativistas estão mobilizados para ajudar o CTG a colocar as contas em dia. A maior parcela é devida ao Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) e se refere ao pagamento de direitos autorais por execução pública de obras musicais. Curiosamente, os músicos pretendem ajudar a arrecadar fundos para pagar... os próprios músicos. Assim eles esperam afastar de vez o fantasma da hipoteca.

A idéia partiu da MP Promoções, responsável por empresariar músicos do porte de César Oliveira e Rogério Melo, que propôs à patronagem do CTG a organização de um show em que a bilheteria seria revertida para o pagamento da dívida. "Essa situação que estamos acompanhando nos jornais me deixa triste, e não acho que seja difícil reunir pessoas interessadas em ajudar. Há muita gente que se importa com isso", afirmou o produtor Pierre da Luz.

Segundo informações do vice-patrão Jamir Rodrigues a dupla de cantores teria manifestado interesse em participar da bailanta, assim outros músicos "da casa" como Fabrício Marques, Rui Carlos Ávila, Robledo Martins e Joca Martins. Até o momento, no entanto, nenhuma das atrações foi confirmada. "Ainda estamos em fase de organização para estruturar o projeto", informou o porta-voz do CTG. A previsão é de que a festa - ou as festas, pois talvez sejam realizadas duas, uma em setembro e outra em novembro - siga os moldes do extinto Gente da Terra, que reuniu vários nomes da música nativista anos atrás no salão de baile.

Rui Carlos Ávila era um desses nomes, e por isso mesmo foi um dos primeiros a se manifestar a favor da iniciativa. "Tocar na União Gaúcha foi um grande momento da minha carreira. Esse foi um espaço que se abriu para os músicos da região, acho justo que eles agora ajudem a resolver essa situação", disse.

Pelas contas dos organizadores, se além da mobilização dos músicos o público comparecer em peso e empresários contribuirem para custear o show, a bilheteria do evento seria suficiente para recuperar a saúde financeira da entidade. "Qualquer forma de apoio é bem-vinda", destaca Pierre da Luz. "Se não der pra arrecadar todo o valor, pelo menos vamos poder tentar um parcelamento", diz Jamir Rodrigues. Interessados em colaborar com o pagamento das despesas, como o transporte, hospedagem e alimentação dos músicos, ou artistas dispostos a participar do show podem entrar em contato pelo telefone 8124-0161.

Em tudo isso há porém um ponto polêmico: os músicos irão se apresentar de graça, mas, abrir mão do cachê irá significar também abrir mão de receber os direitos autorais referentes à execução das músicas nesse show ou a cota seria incluída no orçamento de despesas? Para Pierre a decisão vai depender do bom senso do Ecad. "Os artistas certamente não irão se importar de não receber direitos autorais por este show, mas esse problema é mais burocrático, não depende somente da vontade deles. Temos que ver se o Ecad vai ceder", afirmou. O cantor Rui Carlos Ávila, no entanto, chama a atenção para a diversidade de autores do repertório nativista. Na opinião dele essa liberação não é tão certa: "Os músicos que irão se apresentar cantam músicas de outros compositores, de outras partes do Estado. Eles têm o direito de receber do Ecad e isso deve ser respeitado", defendeu.


Segundo leilão não se realiza por falta de compradores
(Ivelise Alves Nunes)

Pela segunda vez em 16 dias o mesmo motivo impediu a venda pública da União Gaúcha João Simões Lopes Neto: a falta de interessados na compra do imóvel. O leilão ocorreu na última segunda-feira e, conforme o advogado da entidade tradicionalista, Romualdo Cunha, com isso se abre um novo canal para a patronagem negociar a dívida, hoje avaliada em R$ 22 mil, com o autor da cobrança, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). “Ninguém vai se arriscar em comprar uma área e correr o risco de perdê-la mais tarde”, afirma o advogado.

Ele explica que também aguarda o julgamento do embargo de terceiro solicitado pela prefeitura de Pelotas no dia 4, quando ocorreu o primeiro leilão. O Ecad cobra da União Gaúcha dívida referente ao não-pagamento dos direitos autorais pela execução de músicas em eventos realizados entre os anos de 1999 e 2000. O valor inicial do débito era R$ 8,6 mil.

A prefeitura de Pelotas se envolveu no caso porque a área onde está localizada a sede da União Gaúcha (na avenida Ildefonso Simões Lopes) foi doada pelo município através da Lei 611 de 15 de dezembro de 1955, com aprovação da Câmara de Vereadores. O documento deixa claro que o terreno deve ter, exclusivamente, a finalidade de assentamento da entidade tradicionalista e ao sair dessa esfera tem de retornar ao patrimônio público. O processo judicial começou a tramitar em 24 de maio de 2004.


Texto: Bianca Zanella e Ivelise Nunes | Imagem: Divulgação | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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