quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Obrigatório não, mas... necessário?

Na maioria dos clubes o exame médico deixou de ser obrigatório para os freqüentadores de piscinas com o aval de uma norma técnica da vigilância sanitária do município. Apesar das garantias oferecidas pelo controle da qualidade da água, ainda tem gente com o pé atrás na hora do mergulho.

Dia de sol e calor na cidade, em período de férias escolares principalmente, é sinônimo de clubes cheios. E no fundo da água cristalina, uma dúvida mergulha junto com os freqüentadores das piscinas públicas: a prática é segura para a saúde?

Em 2004, uma norma técnica operacional da Vigilância Sanitária do Município tornou facultativo o exame médico para os usuários e desde então a maioria dos clubes aboliu a prática da rotina de seus associados. Até porque, muitos permitem o acesso de visitantes, acompanhados de sócios, que nem sempre programavam a visita ao clube a tempo de fazer um exame prévio.

A norma da Vigilância Sanitária não regulamenta a forma do tratamento da água, apenas obriga as instituições a terem um responsável técnico para fazer esse controle e recomenda que antes de entrar na piscina os usuários passem por um banho de chuveiro. Nem a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nem a Vigilância Sanitária Estadual possuem normatização específica a respeito do assunto.

Segundo a coordenadora do Departamento de Vigilância Sanitária em Pelotas, Jussara Morales, o exame deixou de ser obrigatório porque o tratamento da água foi aprimorado. "O controle microbiológico o substituiu", afirma.


Análise química

Em geral as piscinas são tratadas a base de filtração - para eliminar impurezas - e cloração - para combater germes e bactérias. Eventualmente as águas devem receber também clarificantes, normalmente à base de sulfato de alumínio, para reduzir a turbidez, e um algicida para impedir o desenvolvimento de algas.

Isso, no entanto, não é garantia de segurança quanto à qualidade da água afirma o bacharel em Química Vinícius Gonçalves, que trabalha como técnico químico no Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep). Segundo ele, a fiscalização feita anualmente pela Prefeitura - apenas para a renovação do alvará - é insuficiente para dar garantias aos usuários. "Os clubes tem o responsável técnico, mas essa pessoa nem sempre acompanha de perto o tratamento", diz ele que já trabalhou nessa função. "Em geral a água das piscinas ou é de poço ou é do Sanep e na maioria das vezes é de boa qualidade. Mas, como o cloro é extremamente volátil é muito difícil manter a concentração adequada", completa Gonçalves que defende a importância do exame médico.

A opinião é compartilhada com a também bacharel em química Beatriz Farias, responsável pelo controle de qualidade nas piscinas do clube Gonzaga - um dos poucos da cidade que mantém a exigência de atestado médico para seus freqüentadores. "O tratamento com cloro evita o risco de contaminação, mas o exame médico é um parâmetro a mais, que associado ao controle da qualidade da água aumenta a garantia para o usuário", argumenta.

Para o representante da empresa Aquasan que presta assistência técnica ao Clube Brilhante, Márcio Fonseca, mais importante que o atestado médico é o tratamento da água. O clube, que chega a receber uma média de 500 pessoas por dia durante o verão, aboliu a exigência do exame médico desde a temporada passada.

"Uma água bem tratada torna o exame desnecessário. A única exigência é o uso prévio do chuveiro, que evita que as pessoas levem para a água impurezas como pó, fios de cabelo e gordura de bronzeadores e protetores solares", explica. No clube os funcionários efetuam o controle químico das piscinas três vezes ao dia e a filtração é constante.


Análise médica

Apesar do "pé atrás" de alguns, o clínico geral Nelson Duarte acredita que o uso de piscinas públicas não ofereça praticamente nenhum risco à saúde dos freqüentadores. "É seguro, tanto quanto é seguro tomar banho no Laranjal." defende ele, que em anos de trabalho em hospitais públicos diz que nunca viu casos de contaminação através de contato com a água que justifiquem o alarde. "Eu tenho mais medo de contaminação química, provocada por derramamento de óleo por exemplo, do que a contaminação provocada por coliformes fecais."

Para o médico, o excesso de cloro poderia ser mais prejudicial que a falta. "Engolir água da piscina com muito cloro é diarréia na certa e o contato com os olhos pode provocar uma conjuntivite química", diz o médico, que ainda mensiona os prejuízos para os tecidos externos como a pele e os cabelos. "O cloro deve estar na medida exata para manter a água acéptica e os clubes também devem se preocupar com a acepcia nos banheiros, vestiários, pisos e contornos das piscinas. Isso já é o suficiente."

Segundo ele não há estudos que indiquem que a incidência de infecções é maior entre os freqüentadores de piscinas públicas. Ele também diz não acreditar que as crianças sejam mais vulneráveis a adoecerem por contágio na água. "As infecções transmitidas por utensílios de manicure mal esterilizados são muito mais comuns", compara.

Para quem tiver algum machucado ou ferida aberta ele sugere que após o banho seja feito um novo curativo com aplicação de antiséptico "para garantir".

"Em geral, quando se fala de tratar a água as pessoas se preocupam mais com a aparência dela que com a qualidade efetiva. Eu já vi diretor de clube expulsar gente da piscina com vitiligo quando se sabe que vitiligo não é uma doença contagiosa, apenas por achar de 'má aparência' as manchas brancas na pele da pessoa. Isso é questão de preconceito", conclui.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Viva Bem / Páginas Centrais | Publicado em: Pelotas, Quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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