quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A sofisticação da cor

Quem vê as criações de Francis Silva pode entender o significado da expressão “células de cor”, cunhada pela artista plástica para descrever a unidade básica de seu trabalho.

Em cada quadro, as pequenas manchas multicoloridas de tinta acrílica justapostas dão origem a formas disformes e distintas sobre o papel. A imperfeição dos contornos, a singularidade, faz pulsar o dinamismo das obras em cores vibrantes. Quase como se os corpos gerados pela cor fossem além da estática do papel, se reordenassem a cada instante diante dos olhos, reinventando as formas, como se dotados fossem de movimento.


Formada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e pós-graduada em Patrimônio Cultural pela mesma instituição, Francisca Silva - de nome artístico Francis - expõe pela terceira vez no Corredor Arte do Hospital Escola (UFPel/FAU) até o dia 4 de março.

Nascida na cidade de Santa Fé, em Rio Grande do Norte, a artista vive em Pelotas desde 1996 e é uma confessa apaixonada pela arte e pela cultura popular nordestinas. “Lá no Rio Grande do Norte a arte, a dança, o teatro sempre foram presentes no nosso meio. As artes, para mim, eram uma experiência silenciosa e individual”, relata a artista.

No currículo, além de diversas exposições individuais e participações em coletivas, consta a conquista mais recente: o prêmio na etapa regional do Salão Jovem Artista, promovido pelo grupo RBS em parceria com o Banrisul e o Governo do Estado.

A obra vencedora - Termogenia em Sul - é justamente o retrato das influências do meio sobre a atividade criativa. “Somos todos impregnados de uma memória celular e genética e de uma memória que registramos em nossas vivências. A temperatura é para mim uma grande influência. As cores do sul, do frio, do inverno são coisas com que convivo e que só me acrescentam. Até ajudam a me aquecer”, afirma ela, ainda que guarde na essência de suas expressões as imagens tropicais: as falésias características da paisagem litorânea, o céu, o mar, a seca e o calor fazem parte de um mosaico que ela reúne em formas inclassificáveis - nem abstratas nem figurativas - lembrando a tradição das areias coloridas.


Arte de cordel

“Nasci e cresci no meio de contadores de história. A partir dessas leituras de cordel tive acesso à arte, através dos gravuristas”, lembra Francis que, apaixonada pelas ilustrações das capas dos cordéis, resolveu incluir na exposição cinco obras de sua coleção de xilogravuras. A parte do acervo é assinada pelo aclamado gravurista João Borges, e também por seu irmão e filhos.


Representadas através da técnica de carimbos entalhados em madeira, as imagens ajudam a recontar fragmentos da cultura popular nordestina. Estão ali várias cenas da saga de Lampião e Maria Bonita e também dos típicos rituais do Bumba Meu Boi.

“Apesar de ser grande a minha produção, a maioria dos meus quadros é muito grande. Por isso para completar a mostra resolvi incluir essas obras, que são bastante representativas.”

Francis Silva tem uma exposição prevista para breve em Porto Alegre. Por isso, trabalha em ritmo acelerado na produção de obras inéditas. Quem quiser conhecer outras criações da artista pode encontrá-la de segunda a sexta-feira das 8h às 14h no ateliê do Instituto de Artes e Design da UFPel (IAD), na rua Alberto Rosa, 62.


Prestigie!

A exposição de obras de Francis Silva no Corredor Arte do Hospital Escola (UFPel/FAU) - na rua Professor Araújo, 538 - pode ser visitada até o dia 4 de março, diariamente das 8h às 22h.


Texto: Bianca Zanella | Fotos: Divulgação | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

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