quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Um Carnaval de águas passadas

Os organizadores e representantes de entidades participantes do Carnaval de Rua de Pelotas bem que se esforçaram para retomar a folia na segunda-feira mas, apesar de nenhum novo imprevisto atrapalhar a festa, ficou claro desde o início da noite que as enxurradas do final de semana, além de provocarem danos à estrutura da passarela, foram responsáveis por esfriar o clima carnavalesco.

Os efeitos colaterais das chuvas eram sensíveis nas arquibancadas quase vazias no início do concurso oficial de bandas e na expressão dos foliões que assistiam ao desfile. Camarotes e arquibancadas pareciam alheios e apáticos diante do fuzuê que acontecia no meio do sambódromo durante boa parte do tempo. A plateia demorou a ser contagiada pela animação.

O próprio prefeito Fetter Júnior (PP) admitiu que as circunstâncias prejudicaram a folia: “Com todos os problemas que a cidade vem enfrentando esse não é realmente o melhor clima para se fazer festa. Eu mesmo ainda estou meio devagar por causa dos últimos dias. O que Pelotas vem enfrentando não é pouco!”, desabafou.

Sobre os problemas na estrutura, ele afirmou: “Fizemos o que foi possível para consertar o estrago em tempo hábil. Faltou o arremate, o visual da passarela não ficou com a qualidade que a gente queria. Mas os engenheiros asseguraram que não havia risco para o desfile, então deixamos a critério das entidades a decisão de desfilar ou não”.

O desafio de dar sequência ao Carnaval de Rua foi prontamente aceito pelos diretores das bandas, que tiveram a responsabilidade de recomeçar a festa e reanimar os foliões. “Estava todo mundo louco pra sair. A gente estava com tudo pronto, só aguardando a liberação”, falou entusiasmado Paulo Xavier, alegorista da banda Leocádia, segunda a entrar na passarela.

“A gente achava que nem ia sair desfile, por isso o pessoal se dispersou um pouco, mas tudo bem”, disse o folião Luiz Eduardo Guedes, que há mais de cinco anos vem de Porto Alegre com a família para pular o Carnaval com a Girafa da Cerquinha. “Está muito bom, mas podia estar melhor”, confirmou o integrante da banda que inaugurou a noite de desfiles e que começou com poucos minutos de atraso, por volta das 21h05min.

Com uma média de 400 componentes por entidade, oito bandas participaram do concurso este ano. Apesar do aparente desânimo, não se pode negar que houve picos de empolgação na passarela. Em número e entusiasmo, a presença dos foliões na plateia foi crescente até a metade do concurso e foi minguante durante a participação das últimas escolas até as 3h30min da madrugada, quando um público reduzidíssimo assistia à entrada da Lobos da Cerca, entidade que encerrou o concurso oficial de bandas.

Segundo a secretária de Projetos Especiais, Cláudia Ferreira, seis mil foliões estiveram nas arquibancadas, mesas e camarotes durante a noite. Um número que, garante ela, é superior ao público do concurso de bandas nos Carnavais anteriores. “Considerando que a confirmação de que haveria desfiles só foi divulgada no final da tarde e em virtude de todos os problemas que enfrentamos, a presença do público foi muito além da nossa expectativa.”


Problemas nos camarotes

Por causa dos danos à cobertura de 38 camarotes foi preciso redistribuir o público naqueles que não tiveram a estrutura abalada. “Por hora vamos remanejar as pessoas que estão aqui, mas até amanhã (terça-feira, quando ocorreram os desfiles das escolas de samba mirins) vamos ter uma solução definitiva”, garantiu a secretária.

No entanto, a segunda banda já estava na passarela e do lado de fora ainda havia foliões insatisfeitos procurando um bom lugar para assistir ao desfile. “A gente entende que a chuva tenha atrapalhado, mas a organização do Carnaval deveria se prevenir desses problemas. A gente paga um valor que não é barato e quando chega a hora tem que encarar essa situação”, reclamava Jane Miranda, insatisfeita por ter sido encaminhada para um camarote próximo à dispersão.


Presença ilustre

Um dos camarotes mais badalados, fotografados e visitados pela imprensa na noite da segunda-feira foi o ocupado pelo jogador Taison, destaque do campeonato Gaúcho com a camisa do Internacional. O pelotense de 21 anos, que revelou ser torcedor da escola de samba General Telles, aproveitou a folga para curtir o Carnaval com a família na terra natal.


O hit da vez

Unanimidade na passarela, a música Ciumenta, de César Menotti e Fabiano, foi o hit da vez no concurso de bandas esse ano. O pegajoso refrão - repetido pelas oito bandas que desfilaram - ficou na ponta da língua dos foliões e deve ficar “grudado” na cabeça de muitos ainda por um bom tempo.

Embaladas por essas e outras músicas populares, as bandas levaram ao sambódromo a alegria sob várias formas e temas. A Girafa da Cerquinha pintou de laranja e amarelo a avenida ao exibir sua simpática mascote. A Leocádia fez campanha pela doação de órgãos trazendo em seu carro alegórico a águia símbolo da entidade de asas abertas sobre um coração.

O apito da banda Meta foi mais uma vez símbolo da criatividade e inovação dos mestres de bateria, que empolgaram de vez o público presente com suas paradinhas e coreografias.

Depois veio a Ki Bandaço, com gueixas na comissão de frente sambando em passos miúdos, e refrões originais que levantaram o público dos camarotes e arquibancadas. A homenagem ao mundo oriental estava presente também em outros detalhes, como as lanternas do carro alegórico, os leques e os chapéus em forma de cone que reluziam sobre as cabeças dos ritmistas.

Com pom-pons multicoloridos e chapeuzinhos de aniversário, a Entre a Cruz e a Espada entrou na passarela cantando Parabéns a Você para comemorar seus dez anos, e lembrou no carro alegórico os temas que animaram a banda nos Carnavais passados.

A Dona da Noite abriu o desfile com o hino do Grêmio Esportivo Brasil de Pelotas, mas a sua homenagem foi mesmo para um time áureo-cerúleo. E não era o Esporte Clube Pelotas. Apesar da semelhança do escudo, bem possível de ser confundido, a Dona da Noite lembrou os 75 anos do Osório Futebol Clube. As grandes bandeiras e sombrinhas, assim como os bonecos gigantes, marcaram o desfile da entidade.

Às 2h40 um enorme réptil em traje de gala entrou na passarela, marcando o início do desfile da banda Camaleão, penúltima a se apresentar no concurso. Para encerrar a madrugada, a empolgada bateria da Lobos da Cerca - a despeito do pouco público que ainda permanecia na Estação Férrea àquele horário - ainda chegou a empolgar os remanescentes foliões desfilando de cor-de-rosa e balançando seus grandes guarda-sóis.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Cidade / P. 4 | Publicado em: Pelotas, Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

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