segunda-feira, 27 de abril de 2009

Aaaaaaaah, Pouca Vogal

Para quem foi ao Theatro Guarany, na terça-feira passada, esperando ver um show “parado” da versão acústica resultado da fusão e redução - dita provisória - das bandas Engenheiros do Hawaii e Cidadão Quem, uma agradável surpresa. A autointitulada “menor banda do rock gaúcho” - com um repertório bastante eclético para ser definida apenas como “banda de rock” - agradou o público pelotense mestiço e órfão das duas bandas-mãe (que não acabaram “oficialmente”, mas também não têm previsão de voltar a se reunir).


Foi um espetáculo musical daqueles de se cantar do início ao fim, com um repertório que circulou entre a tríade das velhas canções de Engenheiros e Cidadão - as bandas “preferidas” dos dois músicos em novas versões - e as inéditas do Pouca Vogal. Canções como Somos quem podemos ser, Pinhal, Música inédita e O amanhã colorido marcaram a noite com belos coros da plateia.

Difícil acreditar que o público estivesse cansado da “mesmice” de anos de carreira a fio alegada pelos músicos, mas eles estavam a fim de sair da rotina de composições musicais que seguiam sempre a mesma linha, e a inovação parece ter vindo em boa hora.

Inspiradíssimos, Duca Leindecker (líder da Cidadão) e Humberto Gessinger (líder dos Engenheiros) subiram ao palco em traje a rigor - com ternos risca de giz, respectivamente nas cores vermelho e azul, e tênis. Com esse visual, levaram ao público uma energia musical que vibra em harmonia na dualidade do talento e da personalidade que existe entre os dois. “Força e delicadeza / sonho e precisão…

Versáteis, mais soltos no novo formato e livres da velha proposta musical a que estavam agarrados há bastante tempo, Gessinger e Leindecker apresentam uma ousadia melódica antes apenas esboçada em algumas músicas e arranjos avulsos.

No clima minimalista do cenário, entre parênteses, entre aspas, os azuis, vermelhos, lilases e amarelos se alternaram para conquistar também os olhares do público que ouvia atento Humberto arrasando nos acordes de harmônica e viola caipira.

Mais que um show para ouvir, Pouca Vogal possui impacto visual para ser apreciado, com elementos de encher os olhos como os malabarismos de Duca no violão. Com um som diferenciado, ele deu uma roupagem moderna para Toda forma de poder, do primeiro álbum dos Engenheiros lançado no remoto ano de 1986. Já Refrão de um bolero teve as características de blues ainda mais evidenciadas com os efeitos de guitarra acompanhando o teclado de Gessinger.

Pelo que se viu, seja para as críticas dos fãs que não aprovaram o novo estilo (e nem foram ao show, provavelmente), ou para a apreciação daqueles que estão curtindo o novo som, a mudança parece não ter volta.

P.S.: para quem já está com saudade dos Engenheiros, os 25 anos da banda estão aí e há quem aposte que Humberto voltará a se reunir com os outros integrantes para as comemorações da data. Para os fãs de Cidadão, o baixista Luciano Leindecker se recupera bem do transplante de medula que fez recentemente, e segundo o irmão, Duca, ele poderá vir a se juntar com o duo Pouca Vogal assim que tiver condições de saúde. É só esperar pra ver.


Texto: Bianca Zanella | Foto: Gustavo Vara | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / P. 7 | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 27 de abril de 2009

Nenhum comentário: