terça-feira, 13 de maio de 2008

Sétima Arte de volta ao Sete de Abril

Projeto abre uma nova janela para o cinema pelotense e volta a colocar filmes em cartaz no teatro.

No início dos anos 40 os pelotenses pagavam mil réis pela poltrona para assistir no Sete de Abril ao Programa Cineac, com "sessões contínuas das três horas da tarde em diante". Em seqüência, o público assistia aos cinenoticiários e a filmes, em sua maioria estrangeiros. Também era de costume exibirem-se projeções nos intervalos das apresentações teatrais, o que, segundo o professor e crítico de cinema Joari Reis, muitas vezes era o que salvava o público das peças sem-graça.

Quase três décadas depois que os últimos filmes entraram em cartaz na tradicional casa de espetáculos (que funcionou como cinema entre o início dos anos 40 e o final da década de 70), um projeto faz lembrar a época áurea do diversificado e tradicional circuito de cineteatros em Pelotas que tinha o teatro da praça Coronel Pedro Osório como um dos pontos principais, junto com os memoráveis Cine Capitólio, Apolo, Tabajara, Rei, Fragata, Avenida e Guarany.

Marcado para estreiar no dia 29 de maio, o Sete Imagens passa a integrar o calendário de atrações permanentes do Theatro Sete de Abril, a exemplo dos já consolidados Sete ao Entardecer e Cena Literária. Até novembro, serão sete edições do evento, onde o público poderá apreciar, a cada uma delas, a exibição de um filme de curta-metragem pelotense, e, após, participar de debates sobre a temática abordada no audiovisual. As sessões ocorrerão sempre uma quinta-feira de cada mês, às 18h30, e terão entrada franca. Os debates ainda terão continuidade durante o programa Moviola na RadioCom (104.5 FM), com participação de produtores, convidados e ouvintes, todas as segundas-feiras, às 22h30.

Inscrições terminam na sexta

Com inscrições abertas até sexta-feira (16), o projeto contemplará exclusivamente produções locais, sejam elas vinculadas a instituições de ensino ou independentes. O edital não exclui nenhum formato audiovisual, sendo aceitos, até mesmo, vídeos gravados em suportes amadores e alternativos, como câmeras digitais e celulares.

O Sete Imagens foi elaborado pela Secretaria Municipal de Cultura por intermédio do Theatro Sete de Abril e por professores da Universidade Federal de Pelotas. Os sete filmes que irão integrar o programa serão selecionados por uma comissão formada por representantes do Theatro e professores das universidades Federal e Católica de Pelotas (UFPel e UCPel) e do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet).

O objetivo principal, segundo a diretora do Sete de Abril, Annie Fernandes, é promover a reflexão sobre o papel das produções audiovisuais enquanto ferramentas de construção da memória cultural e da identidade local.

A temática em primeiro plano

"O filme não necessariamente precisa falar sobre a cidade. No momento que as personagens interagem com elementos que fazem parte do cotidiano local, isso já é uma forma de identidade e construção da memória", analisa Cíntia Langie, professora do curso de Cinema e Animação da Universidade Federal de Pelotas e que deverá estar no programa de exibições com pelo menos uma produção independente, pela Moviola Filmes. Não, não será o Katanga´s Bar. "A idéia é criar um vídeo experimental especialmente para o Sete Imagens, com uma abordagem poética sobre as cada vez mais raras salas de exibição em Pelotas", adianta ela em tom de suspense.

A proposta, aliás, tem tudo a ver com o projeto pois é justamente na contramão desse processo de encolhimento das janelas de exibição coletiva de filmes - cada vez mais substituídas pelas novas tecnologias individuais e domésticas - que o Sete Imagens surge. Se por um lado constitui uma nostálgica oportunidade de retomada a uma trajetória histórica, por outro, aparece como uma necessidade de suprimento das novas demandas, geradas principalmente após a implantação do curso de Cinema e Animação na UFPel, e estímulo à produção cinematográfica local - de olho no futuro.

Prazo curto pode atrapalhar

Na avaliação da professora Cíntia Langie, o curto prazo de inscrição - que começou no final de abril e termina esta semana - pode prejudicar a adesão ao projeto, já que os filmes, ainda que sejam selecionados para serem exibidos daqui a meses, devem ser apresentados prontos no ato da inscrição. "Não há como saber o nível técnico das produções que serão apresentadas porque o cinema local ainda é muito recente, e dificilmente haverá muitos projetos prontos à tempo de concorrer ao edital", avalia ela, que acredita que outra dificuldade seja a necessidade da própria equipe de produção dos filmes precisar providenciar os equipamentos de vídeo para a projeção.

Apesar disso, os integrantes da comissão de formatação e e seleção estão otimistas, e com boas expectativas especialmente em relação aos roteiros. Segundo a professora da UFPel Carmem Biasoli, critérios técnicos como a qualidade de imagens, áudio, iluminação, etc, serão levados em consideração na hora de selecionar os filmes para garantir um nível aceitável de qualidade, mas isso não será o mais importante.

"Temos que observar isso considerando as condições técnicas do nosso contexto local de produção, que estão longe de ser as ideais", ponderou, salientando que o principal é que os trabalhos inscritos estejam de acordo com a proposta central do projeto, de promover a reflexão temática.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Terça-feira, 13 de maio de 2008

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