segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Tim em tom de alto-astral (para redescobrir o que gosto)

O ato de gostar às vezes nos limita. De tanto gostarmos de alguma coisa, esquecemos de tantas outras. Gostar vicia. Nos acostumamos a repetir o repertório na playlist por força do hábito, preguiça de variar ou falta de ousadia. Sei que nem todos são assim, mas eu sou e sei que há pessoas como eu, que raramente colocam para tocar o que vier, à critério do “gosto” aleatório do comando shuffle no mp3 player. Raramente pego Cd´s - dos poucos que ainda tenho - do fundo da gaveta. Meu mouse também já aprendeu o caminho para uma meia-dúzia de pastas de músicas que mais ouço, entre nem-sei-quantas que tenho armazenadas no computador.

As minhas variações de repertório só acontecem em experiências ao vivo. A shows me permito ir a qualquer um, ou quase qualquer um, seguindo alguns critérios pessoais básicos que não raramente eu esqueço. É nessas ocasiões, nos shows, que redescubro o que gosto. Escuto o que tocar e gosto de quase tudo.

Eu não lembrava que gostava de Tim Maia. Embora o repertório eu conhecesse de cor, assistir às interpretações das músicas é diferente. Faz a gente prestar atenção na melodia, nas letras. Ver o Tim eu só vi poucas vezes, em alguns especiais na TV. Nunca antes tinha me dedicado a ouvir a maior parte das suas músicas.

Mas aí uma certa banda pelotense, chegada na pegada do funk e do samba rock, resolveu fazer um tributo a ele, e eu, claro, não iria perder. Só a iniciativa de fazer uma pesquisa de repertório e propor uma apresentação diferenciada já vale um punhado de aplausos. É esse tipo de atitude – que poucas bandas da cena local tem – que apesar de simples fazem o cover deixar de ser “só um cover”. Além disso, ajudam a atrair um novo público que talvez não comparecesse a qualquer outro show que não fosse um “tributo a Tim Maia”.


Depois da agradável abertura musical com Zé Ricardo, a Soul da Silva subiu ao palco do bar João Gilberto com a alegria que eu já esperava. Os guris capricharam no visual - estilão anos 70 com muitas estampas e feitios de vestuário característicos da década – e embalaram o público diversificado formado por quem viveu no tempo em que Tim se rebelou à Jovem Guarda e também por quem não era nem projeto na época, mas estava disposto a aproveitar a noite retrô.

O trio de instrumentistas formado pelo guitarrista Vinicius “Cacalo” Marques, o baixista Eduardo Simões e o bateirista Renato Popó estava afinado como sempre. Daniel Balhego, o vocalista, estava em mais uma noite inspirada. Soltou a voz, dançou, pulou, rebolou e empolgou a platéia. Os metais de Alex Ribas e Estevão Hom e a percussão de Jucá de León – participações especiais do show – completaram o clima de alto astral.

Perto de mim alguém que ia pedir pra tocarem “aquela música do síndico” se deu conta de que a música não era do Tim Maia, e sim em homenagem a ele, antes de gritar o pedido, que mesmo assim não deixou de ser atendido: não ao vivo. No telão, o DVD acústico de Jorge Ben Jor completou a noite de samba-rock-funk. E aí sim, Jorge Ben cantou: eu vou chamar o síndico: Tim Maia!

O show teve ainda uma homenagem às vítimas do acidente do ônibus do Brasil de Pelotas, com gritos de rubro-negroooo puxados por alguns eufóricos torcedores xavantes. Foi nessa hora de comoção que a banda começou a tocar não sei porque você se foi, tantas saudades eu senti… e ninguém ali no bar pensou em outra coisa até o segundo e último coro do refrão.


Novidades ao microfone

Durante o show, a Soul da Silva anunciou duas novidades para serem conferidas em breve: a primeira é o site www.souldasilva.com, que deve voltar ao ar nos próximos 10 dias.

A segunda é o videoclipe da música Mistério, que fala de uma paixão entre um casal de amigos. A gravação ocorreu no domingo e uma das locações foi o bar João Gilberto. O vídeo ainda não tem data prevista para lançamento.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Nenhum comentário: