terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Região sul busca espaço no cenário estadual da dança

Em tempos de incerteza a respeito do futuro da produção artística e cultural no Rio Grande do Sul - devido às recentes polêmicas envolvendo desvio de verbas de patrocínios via Lei de Incentivo à Cultura - o interior do Estado acaba de ganhar um motivo para ficar, pelo menos, mais otimista. A razão para isso está no anúncio na Associação Gaúcha de Dança (Asgadan) da eleição de seus novos diretores, entre eles a pelotense Berê Fuhro Souto como representante dos municípios da região sul.

"Sempre foi difícil entrar em Porto Alegre. Lá nunca ninguém olhava para a nossa situação e só lembravam da gente quando queriam pedir voto para alguma coisa", diz a bailarina e coreógrafa que não guarda rancores, mas comemora a conquista de mais esse espaço pela dança do interior em um cenário que, durante muito tempo, foi monopolizado pelos bailarinos da capital.

Diante da dificuldade de se integrar à dança porto-alegrense na busca de apoio, a pelotense acabou se associando a outras organizações como a Confederação Interamericana de Dança e a Associação Mundial dos Profissionais de Dança, que segundo ela mesma, lhe "abriram as portas do mundo". Agora, ela pretende aproveitar a experiência internacional para tentar implantar nos palcos gaúchos modelos de produção artística que dão certo lá fora, a começar pelo Festival Estadual de Dança, previsto para ocorrer em agosto. "É preciso criar uma mostra séria, com cachê para os bailarinos. A gente que trabalha com dança tem que se garantir enquanto profissional", afirma. "Os festivais competitivos devem ficar para as escolas. Sempre achei que arte a gente não mensura, mas esses concursos são necessários para estimular as pessoas a dançar. Se não vale prêmio, medalha, dificilmente os pais se dispõe a bancar os filhos como bailarinos, no começo", opina ela, defensora ferrenha da pedagogia "artisticamente correta".

"Hoje em dia tem muita criança brincando de dançar, mas nem sempre de uma maneira saudável. Os festivais banalizaram a arte. Atualmente aumentou muito o número de bailarinos, mas coreógrafo que pesquisa mesmo é uma figura em extinção. Aí a criança cresce achando que dançar de par é dança de salão e que basta usar o boné pra trás pra dançar street", critica. "O respeito pelo teatro, a postura enquanto bailarino, o comportamento diante do outro que está no palco deixaram de ser ensinados. Tem toda uma educação necessária por trás da arte que não está acontecendo."


Novas perspectivas

Para Berê, a representatividade do interior na Asgadan significa a possibilidade de fortalecimento da dança em todo o Estado, tanto para batalhar recursos quanto para qualificar profissionais. Em reuniões periódicas, abertas a todas as pessoas que trabalham com dança, serão discutidas as reivindicações dos municípios da região para serem levadas às reuniões gerais da Associação.

Além disso, encontros de bailarinos de todo o Estado irão acontecer aqui. "Pelotas vai voltar a ter cursos, vamos ter a possibilidade de fazer mais intercâmbios e, principalmente, promover através disso a ética no meio artístico, de forma que todos os estilos possam dialogar sem fazer julgamento entre eles, porque não existe forma de dança mais ou menos nobre."

Um dos objetivos mais imediatos da Asgadan é mapear a dança gaúcha com o apoio de cada município, já que não existe um banco de dados com o registro de quem faz e onde se faz dança no Rio Grande do Sul. Nesse ponto, defende Berê, é preciso encarar a arte de forma profissional. "Quando se fala em dança se fala em produção, figurino, cenografia, vídeo... tem muita gente envolvida nisso. Politicamente falando, a dança vive um outro momento hoje. O mundo já sabe que além de pensar é preciso sentir o que se pensa, e já está mais do que na hora da gente abocanhar esse mercado."


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Terça-feira, 6 de janeiro de 2009

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