quarta-feira, 25 de março de 2009

Autor da LIC-RS incentiva a militância pela Lei de Incentivo à Cultura municipal

Pelotas recebeu ontem uma das figuras mais importantes da história recente da produção cultural e artísticas do Estado. Carlos Appel, um dos principais responsáveis por avanços como a criação da Secretaria do Estado da Cultura (Sedac), criação da Lei de Incentivo à Cultura do Rio Grande do Sul (LIC/RS) e criação da Casa de Cultura Mário Quintana não poderia ter chegado em momento e local mais propício: esteve na sede do Instituto João Simões Lopes Neto, que já teve diversos projetos realizados com patrocínios adquiridos via LIC, justamente para assistir ao lançamento da série de filmes Contos gauchescos, realizada através de recursos da Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura) e da LIC/RS.

"Veja quantos anos o Estado
levou para criar uma
Secretaria de Cultura...
faz apenas 21 anos.
Pelotas não está tão longe assim."
(Carlos Appel)

O ex-secretário estadual de Cultura por dois mandatos (nos anos de 1987 a 1991 e 1996 a 1998) levou mais tempo do que o previsto na estrada e chegou com mais de uma hora de atraso para a conferência, que estava prevista para as 15h. Antes de falar ao público que aguardava no auditório Carlos Reverbel, ele concedeu uma rápida entrevista ao Diário Popular.

Apesar das cobranças efervescentes pela aprovação de uma LIC municipal, Appel diz que é preciso continuar com a “pressão salutar”, mas ao mesmo tempo ter calma porque, segundo ele, a cidade não está tão atrasada assim nessa questão.


Entrevista
Diário Popular - Enquanto criador da Lei de Incentivo à Cultura do Estado e defensor desse tipo de política cultural, como o senhor sente-se ao ver o resultado de projetos como estes (do Instituto João Simões Lopes Neto e da adaptação dos Contos de João Simões Lopes Neto) realizados graças a recursos da LIC?

Carlos Appel - Eu acho excelente. Quando secretário da Cultura estimulei a pesquisa e a procura das peças de João Simões Lopes Neto. Incitamos uma busca que durou quase dois anos. No final encontramos peças manuscritas originais em um baú na casa do Victor Russomano, que hoje estão na Bibliotheca Pública Pelotense.

Assisti ao documentário Entre o real e o imaginado e hoje vou ver os outros dois filmes que estão prontos. Acho que esse é um tema por demais importante, já que o Simões Lopes Neto é o fundador da literatura do Rio Grande do Sul. O curioso é que no Tempo e o vento o Erico Verissimo retoma esse estilo que Simões tinha criado. Esses são os dois escritores considerados essenciais da cultura do Estado.

No primeiro mandato, durante quatro anos, fizemos um levantamento geral da cultura do Rio Grande do Sul. Fizemos um grande evento em Porto Alegre, durante uma semana, onde representantes de todas as regiões debateram os fundamentos daquilo que seria a futura Secretaria de Cultura do Estado. Elegemos o patrimônio como o tema fundamental.

Já naquela época, que Rio Grande do Sul tinha praticamente metade dos municípios que tem hoje, percebemos que era necessário estruturar o patrimônio de modo mais racional e, sobretudo, adequar as poucas alternativas financeiras das secretarias de Cultura aos seus projetos e ambições.

No segundo mandato nos preocupamos em viabilizar uma melhor situação financeira e econômica. Aí lutamos em todas as frentes, primeiro na frente interna, com a Fazenda e na área jurídica do Estado, e depois com o Legislativo para a viabilização da lei de incentivo. Achamos que era uma etapa fundamental, porque a lamentação da falta de verbas era não só exagerada mas compreensível pois se tinha poucos instrumentos para a produção cultural.


DP - Em Pelotas, qual o senhor acha que é a barreira definitiva para a não-implantação de uma LIC municipal? É uma questão mais cultural ou mais política?

Appel - Pelotas tem um dos maiores potenciais arquitetônicos do Estado e certamente uma cultura da maior importância não só na literatura, mas também no teatro, na música, na dança... A própria imagem da cidade é uma história que se conta por si.

Pelotas teve o auge no fim do século passado até o início desse século e deve continuar sua carreira como um dos principais centros culturais do Rio Grande do Sul. Acredito que a cidade deva ser um polo intermediário entre o Estado e os países do Mercosul, mas para isso precisa encaminhar isso em todas as instâncias.

O que falta, provavelmente, é uma intensificação desse movimento por parte da comunidade como um todo. Deve-se fazer essa pressão salutar. Devemos começar a trabalhar pela LIC desde o Carnaval de rua até uma tese acadêmica. Todas as instâncias devem se mobilizar para levar em frente esse projeto.

Mas veja quantos anos o Estado levou para criar uma Secretaria de Cultura... faz apenas 21 anos. Pelotas não está tão longe assim.


DP - Tendo em vista as polêmicas que envolveram a LIC/RS, principalmente em se tratando de denúncias de desvios de recursos - e que estão emperrando, inclusive, a aprovação de novos projetos - o que o senhor diria que deu errado na Lei de Incentivo à Cultura Estadual?

Appel - Eu resolvi ver de longe esse tema, mas acredito que certamente faltou atenção mais demorada no processo de aprovação dos projetos. Mas acho que há possibilidade, assim como está se propondo modificações na Lei Rouanet, de se aproveitar o momento também para se pensar também em mudanças na LIC/RS.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 7 | Publicado em: Pelotas, Quarta-feira, 25 de março de 2009

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