segunda-feira, 23 de março de 2009

Palavras em flor

A Ana é doce. Quem foi ao Instituto João Simões Lopes Neto na quinta-feira passada assistí-la plantar a semente de seu novo CD não duvida. Ana Mascarenhas subiu ao palco para mostrar ao público suas novas canções, com sinceridade, candura na voz e poesia. Poesia!

Na instigante composição de sombras projetadas na parede a plateia assistiu – ao som dos belos arranjos de Egbert Parada e Silvério Barcellos – ao nascimento não apenas de uma, mas de duas iniciativas que surgem para abrilhantar a cena cultural pelotense na temporada 2009. Apesar dos pesares (falta de incentivos, por exemplo), a safra cultural promete bons frutos graças à criatividade de quem vive de fazer arte.

Para Ana Mascarenhas, o show Plantio foi apenas o primeiro de uma série de quatro pré-lançamentos que levarão à “Colheita”, o show de estreia do álbum Flor Palavra, que deve ficar pronto em dezembro.

Para a comunidade pelotense, a apresentação marcou também o início do projeto Música na Casa do Capitão, que abre mais um espaço para a apreciação do trabalho de músicos daqui, esse no Instituto João Simões Lopes Neto. O projeto, aliás, teve boa plateia (um auditório quase cheinho) na estreia, mas conta com a presença do público também para o sucesso das próximas edições, ainda sem data marcada.

Além de algumas canções conhecidas de seu repertório próprio, Ana Mascarenhas apresentou quatro músicas inéditas do álbum em composição. As meigas, alegres, tristes e românticas Flor Palavra, Outro Norte, Lua de amor e alma e Mãe das águas, todas encharcadas de uma poética peculiar da doce Ana, em letras que exaltam o amor e natureza. Ela, que recusa-se a assumir-se instrumentista, até tocou violão – incentivada pelos músicos com quem dividia o palco – enquanto cantava o refrão que dizia mais ou menos assim: “vou dizer pra Iemanjá que eu tenho medo do mar”. Mas Ana tem mesmo medo de quê? Mesmo com a voz trêmula em alguns momentos, natural para quem estava visivelmente emocionada, Ana mostrou que não tem medo de cantar. De repente a voz doce virou vozeirão e a gente ouviu, com muito prazer, a interpretação de Eu sei que vou te amar, de Tom Jobim. Foi de arrepiar.

Para completar a atmosfera do show, o charme e a originalidade dos detalhes do projeto Flor Palavra, que leva a assinatura da produtora cultural Mãos à Obra, também são dignos de nota: nas poltronas, à espera de cada espectador, um saquinho, uma porção de sementes (de crisântemos azuis?) e uma poesia. Um pequeno mimo para uma bela recepção.

O artista visual Chico Maximila estava lá, captando imagens que irão se transformar em sabe-se-lá-o-quê no final desse projeto em gestação. O público, certamente vai esperar para ver isso e tudo o mais que vai florescer desse plantio.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 23 de março de 2009

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