segunda-feira, 30 de março de 2009

Vingança em Pelotas e Pedro Osório

Diretor Paulo Pons e ator Erom Cordeiro participam hoje e amanhã de exibições do filme nas duas cidades

Pouco mais de um mês depois da participação no Berlinale – o Festival Internacional de Cinema de Berlim – o diretor Paulo Pons, da cinematográfica Pax Filmes, comemora: “Estamos no nosso melhor momento!”.


O sucesso veio logo no primeiro filme, um longa feito como um custo final de modestos R$ 120 mil com cara de superprodução. Gravado na cidade natal do diretor, Pedro Osório, Vingança estreiou em novembro do ano passado e foi a única produção brasileira selecionada para o festival da capital alemã, que é um dos mais importantes do cinema mundial. Antes, esteve no festival de Gramado, mas não levou nenhum dos concorridos Kikitos da categoria. Em Berlim, como participante da mostra Panorama (não-competitiva) foi bem melhor recebido e recompensado. “Ir a Berlim muda o status. Faz toda a diferença quando alguém lá olha pra você e diz ‘quero o teu filme’.”


E como faz. Pons e sua equipe já estão contratados para produzir um filme que deve ser rodado ainda esse ano lá mesmo, em Berlim, com a vantagem de ter um orçamento cotado em Euros. No mês que vem o diretor voltará à Alemanha onde vai passar três semanas para conhecer a cidade que será cenário do roteiro que ainda irá escrever. O filme tem o título provisório de On Inke´s budy (No corpo de Inke) e deve circular pelo mundo contando a história de uma alemã que conhece um brasileiro radicado lá.

Enquanto isso, a Pax Filmes ainda trabalha na trilogia iniciada por Vingaça. O segundo filme, a tragicomédia Espiral, foi gravado ano passado e está em processo de montagem. Ele seria lançado no Festival de Gramado, mas por causa de pedidos dele em outros países provavelmente irá primeiro ser exibido no exterior e só no ano que vem deve passar no circuito nacional.

As expectativas em relação ao novo filme são ainda melhores que em relação ao longa que abriu a série. “Acredito que Espiral vai chamar muito mais atenção que Vingança porque ele tem uma decupagem totalmente doida, é muito diferenciado.”

Espiral conta a história de um grupo de amigos que se surpreende com o suicídio de um deles. Como todos têm algum motivo para tê-lo matá-lo, resolvem forjar um assassinato em vez de chamar a polícia. Cada personagem será acompanhado por uma câmera que gravará seu plano-seqüência, representando seu foco narrativo. Na tela, esses pontos de vista se sucedem de acordo com a história e, em momentos de transição, dois focos dividem o espaço.

O filme que fecha a trilogia será rodado ano que vem e ainda não tem título. A trama irá mostrar a relação de um astrônomo carioca e uma cientista do leste europeu que fazem uma descoberta ao mesmo tempo, em partes diferentes do mundo. Essa produção deve ter um custo maior que as duas primeiras, em torno de R$ 1 milhão, valor que nos moldes brasileiros ainda é considerado “baixo orçamento”.

Há ainda por se esperar a estreia de Maiores e Menores, terceira produção criada na linha de orçamento em torno dos R$ 120 mil. O filme trata das consequencias da exposição de imagens pessoais na vida dos envolvidos, a partir do drama que começa quando cenas de um grupo de jovens praticando sexo no estacionamento de um shopping gravadas por celular aparecem na Internet.

Um jeito diferente de fazer cinema

Na opinião do cineasta, o ponto fundamental para se conseguir fazer produções de qualidade com baixo custo é ter autonomia no processo de filmagem, com estrutura de produção, equipe e equipamentos próprios. Além disso, o orçamento apertado ainda é um estímulo à criatividade e à constante pesquisa de novas tecnologias. “Buscamos formatos alternativos. Com um investimento de R$ 200 mil foi possível equipar a produtora para fazer um filme inteiro”, diz ele, que administra a Pax Filmes dependendo apenas do aluguel de uma sala de mixagem. Como tem parceria com o estúdio, a prestação do serviço também sai barata. “O segredo é conseguir montar o filme pronto para ir para as salas de cinema e esse modelo de produção nós gostaríamos de espalhar pelo País.”

Segundo ele, o filme Espiral poderia ter sido feito com cerca de R$ 50 mil, mas como foi preciso contratar equipes extras de som e fotografia com equipamentos, em três semanas de gravações a produtora teve que pagar duas vezes o valor do equipamento.

Para o diretor, o mercado cinematográfico não é preconceituoso, e sim conservador. “Oitenta porcento dos filmes que passam em festivais nunca serão vistos nas salas de cinema porque não são vendáveis. Os filmes mais artísticos, mais arriscados, não garantem retorno de bilheteria como as grandes produções.”


Para vencer a concorrência, o principal é convencer os exibidores. “A produção tem que se viabilizar. Se não, por que alguém compraria um thriller meu, falado em português, sem atores famosos e de um diretor ‘furreca’ que ninguém nunca ouviu falar?” Ainda que seja modesto, Paulo Pons vai aos poucos fazendo seu nome ficar conhecido mundo afora e, embora não seu filme não inclua estrelas de Hollywood, Vingança conta com Bárbara Borges – em seu primeiro trabalho no cinema -, Branca Messina, Marcio Kieling, Emiliano Ruschel, Guta Stresser, José de Abreu e Erom Cordeiro, considerado um dos destaques da produção e conhecido nacionalmente por seu personagem na novela América (Globo) quando viveu o caubói que se apaixonava pelo personagem do ator Bruno Gagliasso. Definitivamente, um elenco que não é de se jogar fora.

A polêmica nas telas daqui

Vingança arranca aplausos, risos, críticas, elogios. Há quem ame e quem odeie o filme. E tanto barulho na mídia a respeito do longa não foi conquistado à custa de nada. Além da qualidade indiscutível da produção – atestada por importantes críticos – a polêmica também ajudou muito a aumentar a repercussão do filme.

E o próprio diretor admite isso, sem qualquer constrangimento. “Eu gostei muito da polêmica, mas fui ingênuo. O [José] Padilha [diretor de Tropa de Elite] é que é esperto. Se eu soubesse tinha falado mais coisas e gerado mais polêmica ainda”, afirma Pons.

A história do filme fora das telas começou quando, ao comentar o enredo em uma entrevista, após a exibição no festival de Berlim, Pons respondeu a uma jornalista brasileira que “pessoas do interior tendem a lidar com a questão da vingança com as próprias mãos porque não tem o suporte que uma cultura mais desenvolvida pode oferecer.” Em Vingança o protagonista Miguel (Erom Cordeiro) tem a noiva estuprada em Pedro Osório e, instigado pelo sogro (José de Abreu) vai ao Rio para caçar o culpado. “Um filme tem que acontecer fora do cinema, tem que ser discutido. Mas mesmo assim acho que essa polêmica não tem sentido porque começou por um comentário bobo que foi desvirtuado pela jornalista”, defende-se ele.

A declaração teria ofendido os conterrâneos do diretor, que agora vai voltar à cidade natal e disse que, apesar disso, espera ser bem recebido. Em Pedro Osório, curiosamente, a exibição do polêmico filme vai ocorrer justamente em um CTG, durante as comemorações do quinquagésimo aniversário da cidade. “Se quiserem me axincalhar lá, tudo bem, mas eu duvido que façam isso. Acho que vai ser um ótimo debate!”

Outra crítica que o filme sofreu foi por apresentar uma caricatura do gaúcho na figura do personagem do ator José de Abreu. O diretor diz que foi mal interpretado. “O personagem do Zé de Abreu é caricato mesmo. Ele teve a filha estuprada, se faz de louco e é louco. Mas naquele momento ele é o antagonista da trama. Foi uma crítica que eu quis fazer, mas os gaúchos não gostam quando se vêem nesse tipo de personagem”, diz o diretor. “Para mim eu fiz uma homenagem ao Rio Grande do Sul e ao lugar onde cresci”, completa ele.

Em Pelotas o filme fará parte do projeto Diálogos na Casa de Simões, do Instituto João Simões Lopes Neto, e é mais um evento realizado sem o auxílio de um Programa Municipal de Incentivo à Cultura, financiado com o apoio das empresas amigas do Instituto: Livraria Vanguarda, Theo Bonow, Caixa Econômica Federal e Colégio Gonzaga.


Não deixe de assistir!

Em Pedro Osório:
Quando: hoje (segunda, dia 30), em quatro sessões pela manhã e à tarde para estudantes da rede pública e à noite para convidados e autoridades
Onde: no CTG Fogo de Chão

Em Pelotas:
Quando: amanhã (terça, dia 31), às 19h
Onde: no auditório do Instituto João Simões Lopes Neto (rua Dom Pedro II, 810)
* Após a exibição do filme haverá debate com a participação do diretor Paulo Pons, do ator Erom Cordeiro e de convidados.
**As sessões tem entrada franca.


Texto: Bianca Zanella | Fotos: Divulgação | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 30 de março de 2009

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