quarta-feira, 18 de março de 2009

Palavras à flor da poesia

A inspiração brotou de um buquê de crisântemos azuis. Era o fim de um relacionamento e o começo de uma fase criativa que promete muitas flores e frutos nas próximas estações. Nos ensaios, na casa em obras, Ana Mascarenhas cultiva em música o jardim que ainda não tem. Para a cantora, é chegada a hora de semear.


O caminho é longo até o período da safra, mas Ana Mascarenhas não tem pressa. A espera é parte da experiência de quem faz questão de dar “tempo ao tempo” e vai muito além dos 30 versos de Flor palavra. Não por acaso de uma forte relação conceitual, em 14 deles aparece a palavra tempo.

A poesia, escrita em 2005, é o ponto de partida para a mais nova investida da cantora pelotense. O projeto, em gestação, esbanja charme e originalidade. Irá crescer em partes que acompanham as fases de desenvolvimento dos crisântemos: o Plantio em março, o Crescimento em junho, a Inflorescência em agosto e a Iniciação em outubro são os preâmbulos da Colheita, que ocorre em dezembro. Passando por épocas frias e quentes, cada apresentação terá novas músicas, arranjos, músicos, elementos de luz e cenário... ao final a síntese de tudo isso será materializada em um CD, o terceiro de Ana Mascarenhas depois de Paradouro (2003) e Depois de julho (2005).

“A cada trabalho pronto sempre ficam algumas coisas em aberto que imediatamente eu vou projetando para o próximo. Acho que esse vai ser o meu disco mais completo, porque vai ser construído aos poucos, de uma forma diferente dos outros”, diz a cantora, que se demonstra hábil em “pôr para fora” os desabafos de um relacionamento acabado com romantismo e sem rancor.

Ao poetizar sobre as coisas do dia-a-dia, a compositora percebe o quanto este trabalho em especial já afetou seu cotidiano. “Apesar de estar sendo plantado, dentro de mim ele fecha um ciclo”, diz ela, que revela não ter muitos rituais no processo de criação. “Às vezes me vem um verso, depois quando eu volto para ver o que escrevi penso na melodia e pego o violão.”

Mais madura artística e pessoalmente, Ana Mascarenhas fala com a tranquilidade de quem consegue se afirmar sem impor o tom de voz. “Quando eu gravei o primeiro disco tive coragem de botar minhas coisas na rua, mas me sentia engatinhando. Agora a sensação que eu tenho é que daqui para frente não paro mais”, diz com o entusiasmo. “Pode ser que depois deste o próximo trabalho seja outro disco ou um livro de poesias... Não sei o que virá, só sei que virá.”


Letra, flores e melodia
Em Flor palavra, o lado mais terno e afetuoso da compositora já começa a aflorar nas poesias. As melodias vão se desenhando pelo som da MPB - que costuma cair tão bem ao tom de voz de Ana - com influências mil de ritmos como candomble, milonga, chamamé e samba, que vão mesclando-se naturalmente nos arranjos criados por Silvério Barcellos e Egbert Parada, com quem Ana Mascarenhas reafirma neste terceiro disco uma parceria que já completa dez anos.

Charango, cavaquinho, pandeiro e bateria farão parte das composições instrumentais, que terão ênfase no diálogo entre violões de vários timbres como o violão de aço e o de sete cordas.

Ao longo do desenvolvimento de Flor palavra, outros músicos estão cotados para integrar o projeto. Fabrício Moura e Gil Soares - que assina com Egbert Parada a direção musical do álbum - estão entre os confirmados.

A cantora e compositora, que resiste a assumir o título de instrumentista também, tocará violão na música Mãe das águas, com o acompanhamento de percussionistas.

O produtor cultural Igor Simões é o responsável pela direção artística dos shows, que terão participações especiais da bailarina Janaína Jorge e do artista visual Chico Maximila. Os dois serão possivelmente os responsáveis pelas principais surpresas que poderão surgir ao longo do desenvolvimento do projeto. “Não sabemos exatamente o que eles irão fazer”, diz a cantora. A proposta é que cada um deles crie algo, cada qual em sua própria linguagem artística, inspirado em Flor palavra, lançando assim novos olhares ao trabalho.


O plantio

O primeiro dos quatro pré-lançamentos de Flor palavra, que ocorre amanhã (dia 19, quinta-feira), inaugura também a série de apresentações musicais no Instituto João Simões Lopes Neto, do projeto Música na Casa do Capitão.

Em Plantio, Ana irá apresentar as primeiras quatro canções do novo álbum. Além da faixa-título Flor palavra, o repertório terá Outro norte, Lua de amor e alma e Mãe das águas, esta última já gravada pela cantora Giamarê.

O segundo show da sequência, Crescimento, já tem data: 10 de junho. Falta saber em qual jardim ele irá florescer.


Em busca de adubo e luz

A elaborada estética de Flor palavra vai além da pura temática do CD. A metáfora do cultivo se estende por todo o projeto: os parceiros - a Universidade Católica de Pelotas e o salão Cabelo e Cia - que incentivam a iniciativa através da prestação de serviços, são o jardim. As empresas apoiadoras - Transporte Santa Maria e Posto Cidadão Capaz - são o adubo. Os patrocinadores são a luz, que ainda falta para essa planta germinar.

Além destas, há ainda outra forma de contribuir concretamente para o sucesso da “colheita”, através de uma ideia criada para captar recursos antecipadamente ao final da produção. Como no pré-lançamento do primeiro CD da cantora, quando foram vendidos “Kits Paradouro”, a partir do segundo show de Flor palavra estarão à disposição do público “sementeiros” que incluem uma camiseta do álbum, duas canções inéditas gravadas em mp3, sementes de flores, terra e água, além de um vale para ser trocado por CD quando o disco ficar pronto. O valor do mimo ainda não foi estipulado.


Prestigie

O quê: show Plantio - Flor palavra, de Ana Mascarenhas, na primeira edição do projeto Música na Casa do Capitão Onde: no auditório do Instituto João Simões Lopes Neto (rua Dom Pedro II, 810)
Quando: amanhã, dia 19, às 20h30min
Quanto: ingressos antecipados estão à venda no Posto Cidadão Capaz (rua Félix Cunha, 553) ao valor de R$ 10,00
Contato: para informações sobre o show e sobre como apoiar o projeto entre em contato com a produtora cultural Mãos à Obra pelo telefone 3227-2538.


Texto: Bianca Zanella | Foto: Divulgação | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Quarta-feira, 18 de março de 2009

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