domingo, 8 de março de 2009

Recomeços, marcos de passagens e fechamentos de ciclos são sempre importantes na vida de qualquer pessoa. Eles servem de baliza para avaliações do que passou e para o planejamento de metas para o futuro, e sempre estimulam mudanças. E, se dizem que no Brasil o ano só começa depois do Carnaval, os budistas puderam comemorar seu ano-novo em momento bastante oportuno: pelo calendário lunar, seguido pelos tibetanos, a virada do ano ocorreu no último domingo, dia 1º de março.


Um pequeno grupo - formado por praticantes e estudiosos do budismo, e também curiosos por conhecer um pouco da cultura tibetana - partiu de Pelotas ainda na madrugada para ver de perto a celebração do ano-Novo budista no Chagdud Gonpa Khadro Ling, o templo budista situado no município de Três Coroas, a 32 quilômetros de Gramado. O Losar, como é chamada a festa, é uma das principais datas do calendário budista e atrai todos os anos centenas de pessoas no templo que é considerado “um pedacinho do Tibet na Serra Gaúcha”.

A passagem do Ano do Rato da Terra para o Ano do Boi da Terra foi celebrada com a tradicional dança sagrada dos lamas e exclamações de “Losar Tashi Deleg!”. É assim que os tibetanos saúdam os visitantes e desejam “feliz ano-novo”.

Ao som de tambores, flautas, clarinetes e aboés, o ritual é uma forma de expressar as boas aspirações de abundância e prosperidade para o ano que começa. Os movimentos sincronizados são repetidos como mantras entoados pelo corpo.

“A cerimônia é vivenciado de forma diferente por cada um”, disse o guia da excursão, o monge Nelson Padma Querido. “É uma forma de espalhar as bençãos psicológicas que purificam os venenos criados pela nossa própria mente.”

Vestidos com cores vibrantes, os dançarinos mascarados representam as chamadas deidades iradas que têm como objetivo afugentar as energias negativas para evitar que elas sejam levadas de um ano para o outro. “A ira é a expressão da compaixão. Internamente está tudo muito pacífico”, disse a norte-americana Chagdud Khadro, que desde a morte do fundador do Chagdud Gonpa Khadro Ling e seu marido - Chagdud Tulku Rinpoche - assumiu a direção espiritual do templo.

Bem-humorada, ela falou sobre a importância das comemorações para inspirarem fala positiva e ações positivas. “O Tibet bate um recorde mundial. Lá o Ano-novo é celebrado por duas semanas seguidas!”, brincou.

Também presente na manhã festiva, seu enteado Jigme Tromge Rinpoche falou do significado das danças para criar um círculo de proteção e purificação do karma. “Na essência todas as danças são expressão da compaixão e uma forma de invocar seres iluminados para espalharem suas bençãos sobre todos os seres, humanos e não humanos.”

Se a simbologia dos elementos presentes na dança dos lamas parece clara, o ritual é envolto em mistérios profundos cujos significados possivelmente só possam ser desvendados através da meditação e do equilíbrio interior.

De encher os olhos

Além das danças que encantam o olhar, a paisagem da serra completada pelos imensos e bem cuidados jardins que circundam o templo e a leveza das bandeiras de oração hasteadas ao vento fazem da visita ao Khadro Ling um passeio inesquecível. As esculturas, os detalhes dos templos com acabamentos entalhados em madeira por fora e pinturas magníficas por dentro são uma atração à parte.


Para completar, vale a pena também contornar em sentido horário as gigantes rodas de mantras - que nunca param de girar - para acumular méritos, como diz a tradição, para sentir a energia do lugar em movimento sendo enviada com boas intenções a todas as partes ou, nem que seja, apenas para admirar esses símbolos sagrados de rara beleza.

No centro budista as únicas proibições são fumar e fotografar o interior dos templos (para evitar que os flashes danifiquem as pinturas). Em dias calmos, é possível aproveitar a quietude do lugar e o cenário inspirador para meditar.


Dicas para quem pretende conhecer

O local recebe visitantes de terça a sexta-feira das 9h às 11h30min e das 13h30min às 17h. Nos finais de semana abre somente das 9h às 16h30min.

A visitação é gratuita. Aos domingos, às 8h, os professores residentes no Khadro Ling conduzem sessões de práticas de meditação abertas ao público.

Como pela filosofia budista deve-se respeito pela vida de todos os seres, é recomendado aos visitantes levar repelente de insetos.

O local não oferece alimentação e a hospedagem é exclusiva para os participantes de retiros. No site (www.templobudista.org) ou pelo telefone (51) 3546-8200 é possível obter mais informações.


Texto: Bianca Zanella | Foto1: Sandro Seewald (Jornal de Gramado) | Foto2: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Tudo / Capa | Publicado em: Pelotas, Sexta-feira, 6 de março de 2009

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