segunda-feira, 20 de abril de 2009

Som em consoantes

Entre parênteses, depois da vírgula e antes do apóstrofe - símbolos gráficos que fazem parte da marca da banda - a sutileza do som e da poesia de dois músicos gaúchos. Eis o Pouca Vogal - a fusão do essencial de Engenheiros do Hawaii e Cidadão Quem e muito, muito mais.


Essa história começa em um passado distante de encontros e coincidências que ligaram a trajetória de Duca Leindecker, líder da Cidadão Quem, e Humberto Gessinger, líder da Engenheiros do Hawaii, e que inclui participações especiais mútuas em produções de ambas as bandas.

Agosto do ano passado foi definitivo. Por acreditar que “só tensa a corda vibra legal” eles resolveram entrar de cabeça em um novo projeto.

Parece mentira, mas aos 45 anos e com a maturidade conquistada em mais de 20 anos de carreira, Humberto Gessinger admite que, no começo, sentiu insegurança em relação à aprovação do Pouca Vogal. Mais que isso, ele admite que era exatamente essa insegurança que ele procurava sentir de novo, como no Planeta Atlântida desse ano, em que pela primeira vez não se apresentou no palco principal para estar em um ambiente mais recolhido da multidão, onde o estilo do Pouca Vogal soa melhor.

Pode-se dizer que, apesar de apenas um duo, Duca e Humberto formam uma banda completa com direito a cordas, sopro, teclado e percussão. Humberto toca violão, viola caipira, dobro, harmônicas, piano e Midi pedalboard (um teclado tocado com os pés). Duca toca guitarra, violões com “afinações esquisitas” e bombo leguero. Em alguns momentos, quase tudo ao mesmo tempo.
O estilo é folk, experimental, minimalista, intimista se é que dá para ser definido.

Pouca Vogal tem a dinâmica de um jogo, jogado entre duas pessoas que dialogam o tempo todo. Embora musicalmente inovador, a poesia mantém a linha reflexiva que sempre caracterizou as letras de Leindecker e Gessinger. A simplicidade se traduz em consoantes, entre dentes, com a sutileza das poucas vogais, como nos sobrenomes dos músicos.

Quem ainda não conhece esse trabalho, pode conferir oito músicas inéditas, disponíveis para download free, no site . Além dessas, entram no repertório canções da Cidadão Quem e do Engenheiros do Hawaii, em novas versões, claro. Do Engenheiros, entram músicas de várias fases da banda, desde Toda forma de poder, do primeiro disco (Longe demais das capitais, 1986) até mais recentes como Até o fim.

Duca e Humberto concederam entrevista ao Zoom por telefone. Humberto estava em Floripa, onde participou no final de semana de um show do músico Fernando Deluqui. Duca estava chegando no seu estúdio, em Porto Alegre, para continuar a mixagem das músicas do Pouca Vogal que serão lançadas em CD, DVD e Blu Ray em aproximadamente três meses. As respostas mostram o quanto a dupla está afinada no novo projeto.


Entrevista

Diário Popular - Por que a Cidadão Quem parou? A banda tem previsão de voltar?

Duca Leindecker - A pausa da Cidadão e o início do Pouca Vogal foi uma grande coincidência. Paramos por causa do meu irmão, o Luciano, que teve que fazer um transplante de medula e está em tratamento. É um processo demorado. Eu mergulhei de cabeça no projeto do Pouca Vogal. Acho que seria possível conciliar os dois projetos mas atualmente não tenho nenhuma previsão, mas é possível que quando o Luciano se recuperar ele participe da turnê do Pouca Vogal. Não tem como saber o que vai acontecer daqui pra frente e esse é o bom da vida.


DP - Por que o Engenheiros do Hawaii parou? A banda tem previsão de voltar?

Humberto Gessinger - Eu já pensava em dar um tempo depois da turnê do Acústico MTV, mas aí acabamos embalando e veio a gravação do Novos horizontes. A parada acabou sendo meio abrupta. Na verdade esse lance de viagens foi ficando meio pesado. O caos aéreo e a agenda sempre lotada influenciaram muito. Coisas que antes eram relax como viajar até Florianópolis passaram a ser mais cansativas. E aí me deu uma vontade de parar que eu nunca tinha sentido antes. Não tenho previsão de voltar com o Engenheiros do Hawaii. Hoje eu tô 100% concentrado no Pouca Vogal. Para voltar só se for por um lance significativo, uma vontade interna que nesse momento não há.


DP - O que vocês conseguiram realizar musicalmente no PV que nas bandas de origem não podiam?

Duca - Acho que a gente conseguiu, principalmente, fazer uma coisa diferenciada. O Pouca Vogal me fez sair daquela zona de conforto. Na Cidadão a gente estava fazendo um disco atrás do outro e por mais que a gente tentasse fazer alguma coisa diferente, como tentamos no disco Sete, acabava sempre no mesmo formato “bateria, baixo e guitarra”.
Humberto - Essa mudança de ambiente me deu um novo ânimo. Tenho me sentido mais inspirado musicalmente, embora em termos de letra o estilo continue muito parecido com o que já fazíamos antes. Esse formato de duo, com vários instrumentos, me fascina.


DP - O que o Pouca Vogal traz de melhor como herança dessa influência direta das bandas Engenheiros do Hawaii e Cidadão Quem? Quais as principais contribuições de cada um nesse duo?

Duca - Como diria Beethoven: “Isso é a coisa mais satisfatória que consegui fazer com a minha pobre inspiração.” O Pouca Vogal é, na verdade, uma fusão do melhor das duas bandas. O Humberto pra mim é um mestre.

Humberto - O Duca traz uma coisa orgânica, mais relax. Tem uma suavidade musical que é muito agradável de ouvir e muito coerente também. Já eu trago mais o lance da ansiedade, da inquietação, da “encucação”. O Pouca Vogal é a soma dessas coisas.


DP - Quando o Pouca Vogal foi lançado, em agosto do ano passado, o Humberto disse em uma entrevista que concedeu a si mesmo que não pensava em agradar os fãs de Engenheiros do Hawaii, necessariamente, com o Pouca Vogal. Hoje, há cerca de sete meses na estrada com esse projeto, vocês acham que estão agradando os fãs de Engenheiros e de Cidadão Quem?

Duca - Em termos de público, em parte quem já nos ouvia antes nas outras bandas se transfere para esse novo projeto, mas o Pouca Vogal também está agregando um público próprio. Eu concordo plenamente com o Humberto. A arte tem que ser espontânea, não pode ser feita por encomenda se não vira propaganda. As coisas só têm chance de dar certo se forem verdadeiras.

Humberto - Acredito que um artista não serve pra outra coisa a não ser despertar a sensibilidade nas pessoas. O Pouca Vogal é uma nova chance que tenho na carreira de fazer isso de forma diferente. Fazemos um som que não é bem MPB, nem rock. É novidade. É diferente, por exemplo, de quando eu comecei com o Engenheiros, que a gente ia na onda do rock e todo o mundo já sabia mais ou menos o que esperar.
Quando eu disse que não queria necessariamente agradar, queria tirar um pouco a expectativa de cima do Pouca Vogal. Era a sinalização de que se a gente "tava" mudando era pra fazer uma coisa diferente. O grande barato é que a gente vê nascer um terceiro público, que não é nem do Engenheiros nem da Cidadão. É o público do Pouca Vogal.


Não perca!

O quê: Pouca Vogal, show com Humberto Gessinger e Duca Leindecker
Quando: amanhã (21), às 21h
Onde: no Theatro Guarany
Quanto: os antecipados foram vendidos até sábado a R$ 30,00. Até o fechamento dessa edição os organizadores não haviam definido o novo valor que seria adotado a partir de hoje.
Os ingressos estão à venda na Fale Com (rua 15 de Novembro, 657). Desconto para estudantes, idosos e professores apenas mediante a apresentação de carteirinhas oficiais especificadas na legislação, na bilheteria do teatro a partir das 14h de amanhã.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 20 de abril de 2009

3 comentários:

Anônimo disse...

quantos antecipados por 30pila? 10, 20? enforquem os promotores! divulgação pooooooodre!

Bianca Zanella disse...

Também não concordo com esses produtores que não estipulam com antecedência os valores de ingressos, por lote. Lamento por não poder transmitir a informação de forma mais completa.

Sem Papel e Tinta disse...

Cinquenta reais o ingresso, hoje, terça! Esses caras vivem num mundo paralelo?