quarta-feira, 16 de julho de 2008

Dramático, cômico e bem-humorado

A iminência da morte, o prazer inconfessável, o instinto assassino. As particularidades humanas caricaturadas na obra do dramaturgo italiano Luigi Pirandello (1867-1936) são levadas ao palco e colocadas cara-a-cara com o espectador em A Poltrona Escura, monólogo que o ator Cacá Carvalho apresenta hoje no Theatro Sete de Abril.


Mais do que cômica - ou tragicômica -, a peça é uma dramática e bem-humorada radiografia dos sentidos e sentimentos que sintetizam a condição humana, temperada pela crueldade do inevitável e pela poesia do que é cruel - e até divertido.

Para o dramaturgo italiano, criador do clássico Seis Personagens em Busca de um Autor, o humorismo é uma forma de superar o distanciamento do que é puramente cômico. Sutil e ao mesmo tempo inquietante, a graça do pirandellismo está na provocação, na sua propriedade reflexiva e lúcida. O ser humano é sua matéria-prima e a partir dessa essência, diz Cacá Carvalho, "ele pega o homem contemporâneo e faz um retrato revelador de todas as suas maravilhas e também de suas características grotescas".


Três contos

Em cena, o ator realiza um jogo de papéis em três histórias retiradas dos livros Berecche e la Guerra e Candelora. Apesar de diferentes, os personagens e tramas de Os pés na grama, O carrinho de mão e O sopro se entrelaçam na discussão dos dilemas de identidade e das verdades relativas que caracterizam a obra de Pirandello.

O tema central do primeiro conto é a sucessão de gerações e o isolamento progressivo dos que vivem a última fase da vida - a velhice, que "é sempre colocada no quarto dos fundos", como diria Carvalho. O segundo discute a identidade através da metáfora de um advogado que desmascara a miséria da condição humana.

No gran finale a peça alcança o extremo absurdo quando a platéia conhece um protagonista que descobre ter o poder de matar o próximo juntando o polegar com o indicador da mão direita e soprando neles. "É humorismo absoluto", afirma categoricamente o ator.


Sete cidades

Cinco anos depois de sua estréia - quando foi escolhida pela Associação Paulista dos Críticos de Arte como uma das seis melhores montagens do ano em 2003 - A Poltrona Escura volta a ser encenada no Brasil depois de sua terceira temporada na Itália e chega ao Rio Grande do Sul através de uma promoção do Serviço Social do Comércio (Sesc). A turnê que começou ontem em Porto Alegre vai passar ainda por outros cinco municípios gaúchos além de Pelotas.


Quem é Cacá Carvalho

O ator paraense subiu no palco pela primeira vez aos 15 anos, em Belém, cidade onde nasceu. Aos 55 anos ele faz questão de grifar sua atuação teatral, apesar de ter feito importantes e bem-sucedidas passagens pelo cinema e pela teledramaturgia. As mais conhecidas delas foram as interpretações de Jamanta (Ariovaldo da Silva), personagem que estreou na novela Torre de Babel (Globo, 1998) e reapareceu mais tarde no enredo de Belíssima (2005).

Há 22 anos Cacá está radicado na Itália, mas vive "entre lá e cá". Aqui no Brasil dirige atualmente o grupo de formação de atores da Casa Laboratório para as Artes em Teatro, em São Paulo.


Não perca!

O quê: A Poltrona Escura, espetáculo teatral com Cacá Carvalho e direção de Roberto Bacci
Quando: hoje (16), às 20h
Onde: no Theatro Sete de Abril
Ingressos: antecipados à venda na bilheteria do local e no Sesc (rua Gonçalves Chaves, 3126), a R$ 16,00 para o público em geral e a R$ 8,00 para idosos, comerciários e estudantes.


Texto: Bianca Zanella | Fotos: Divulgação / Lenise Pinheiro | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Quarta-feira, 16 de julho de 2008

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