quinta-feira, 3 de julho de 2008

Homenagens na Casa do Capitão

Três, das 296 onças (moedas) douradas restantes criadas pelo Instituto João Simões Lopes Neto (IJSLN) para homenagear personalidades que se destacam contribuindo pela preservação da memória do escritor pelotense serão entregues hoje às 19h na Casa do Capitão.

O prêmio criado em 2007 já teve quatro homenageados nas duas edições anteriores. O ex-prefeito Bernardo de Souza foi o primeiro a receber a honraria, e ficou com a moeda original que serviu de matriz para a confecção das outras 299 réplicas cunhadas com a marca do Instituto. O título é uma alusão ao conto homônimo de abertura do livro Contos Gauchescos, uma das obras-primas de Simões.

Por um grande motivo ou pela soma de vários, Mário Mattos, Flávio Loureiro Chaves e Paulo Charqueiro são os três nomes indicados pela diretoria do Instituto e homologados pelo Conselho Consultivo a receber o prêmio este ano.

Vice-presidente da entidade e fundador do Núcleo de Estudos Simonianos, grupo que coordena desde 1994, Mário Mattos é uma das principais referências contemporâneas quando o assunto é literatura de João Simões Lopes Neto no município. Mattos foi um dos precursores do debate sobre os critérios de qualidade da literatura simoniana. Segundo ele, até então, os demais estudiosos só se referiam timidamente à produção de Simões, e sempre dando maior ênfase à sua originalidade que propriamente a seus valores qualitativos. "Minha maior satisfação em receber este prêmio é ganhar também um estímulo a mais para continuar trabalhando pela valorização da memória do meu patrono 'até quando meus olhos não mais olharem'", diz ele poeticamente, citando uma das passagens de Lendas do Sul.


Ao professor, ao promotor

Ao lado de Mattos na missão de divulgar e valorizar a obra simoniana junta-se o professor Flávio Loureiro Chaves, considerado o grande responsável por introduzir a literatura simoniana no meio acadêmico. Chaves é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade de Caxias do Sul. "Sinto-me muito honrado por receber esta homenagem, vinda especialmente de uma instituição que considero fundamental no panorama atual da cultura no Rio Grande do Sul", afirma ele, que estuda Simões Lopes Neto há mais de 30 anos. Em sua avaliação, a obra simoniana ultrapassou o rótulo regionalista para alcançar dimensões mais amplas, uma expressão universalista. "Seus personagens - como Blau Nunes ou o Negro Bonifácio - embora tenham nascido no contexto regional, traduzem dramas que falam ao homem de qualquer latitude", pontua.

Lutando pela mesma causa, mas pelos meios jurídicos ao invés dos meios literários, o promotor Paulo Charqueiro iniciou seu envolvimento com o Instituto João Simões Lopes Neto quando leu no Diário Popular, em meados dos anos 90, a notícia de que a casa onde viveu o escritor estava ameaçada de demolição. A partir daí Charqueiro, natural de Jaguarão e radicado em Pelotas há quase 20 anos, se tornou um dos principais pivôs no processo de defesa do imóvel que hoje é a sede do Instituto, aberta à comunidade desde março de 2006. "Agir em defesa do patrimônio público é uma postura da própria promotoria, mas a minha motivação pessoal para trabalhar nesta causa foi acreditar que devemos preservar nossa memória". O principal desafio, segundo ele, é fazer com que a comunidade se reaproprie dos bens patrimoniais depois de recuperados. "Não basta restaurar, é preciso fazer com que os prédios sejam cuidados, freqüentados, aproveitados pela sociedade", afirma ele, que diz se sentir estimulado a tomar para si esse desafio e continuar trabalhando em prol da causa.


Texto: Bianca Zanella | Foto: Divulgação | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Quinta-feira, 3 de julho de 2008

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