terça-feira, 21 de outubro de 2008

Bossas IV

Grupo Pausa e Notas promove um reencontro com a boa e velha Bossa Nova

O lugar não poderia ser mais sugestivo: o bar batizado com o nome do patrono da Bossa Nova abre as portas amanhã para um tributo ao jeito de fazer música imortalizado na voz e no estilo de João Gilberto.

"É praticamente uma obrigação participarmos dessa homenagem", diz o proprietário do bar, João Lopes. Mas que nada, é mais que isso. Se a Bossa Nova tem 50 anos, João Lopes tem 55 e é apaixonado pelo ritmo que se acostumou a ouvir desde pequeno. Na figura do intérprete e compositor baiano João Gilberto, ele vê o que de mais forte a Bossa Nova representa para a arte brasileira. "Ele era até um pouco desafinado, tinha uma vozinha 'assim' bem diferente dos vozeirões que tocavam no rádio, mas tinha também 'aquela puxada' no violão e um banquinho. Ele mostrou ao mundo que isso bastava para se fazer uma boa música", disse, antes de fazer uma breve interrupção na entrevista e começar a batucar no balcão e fazer coro ao grupo Pausas e Notas que cantarolava, descontraído, os famosos versos: O pato vinha cantando alegremente, quém, quém... / Quando um marreco sorridente pediu / pra entrar também no samba, no samba, no samba...

Assim, com melodias sofisticadas, arranjos desengonçados e letras singelas uma geração de músicos fez soar os acordes iniciais do que mais tarde seria rotulado como MPB. Como uma grande janela para o improviso, o estilo surgia abrindo os palcos para os músicos recriarem permanentemente, ao mesmo tempo em que interpretavam as mesmas boas e velhas canções. Afinal, uma Bossa Nova que se preze nunca será cantada, tocada ou ouvida duas vezes da mesma forma.


Nara, Tom e João

Há quem diga que a Bossa Nova foi um movimento nascido e criado no embalo da modernidade, que chegava ao país a passos largos durante o governo de Juscelino Kubitschek. Outros se recusam a aceitar essa nomenclatura e dizem que ela não tinha conotações políticas e socias, que nasceu "por acidente" de um caso mal-resolvido: da evolução do Choro com influências do Jazz. Para os músicos do grupo Pausa e Notas, que se apresentam amanhã, é algo assim como... uma filosofia.

Oficialmente, a Bossa Nova vai dos versos de Chega de Saudade, de Tom e Vinicius lançados compacto simples no ano de 1958 por João Gilberto até Arrastão, defendida por Elis Regina no primeiro Festival de Música Brasileira, em 1965. O intervalo concentra as principais referências para a composição do repertório: Nara Leão, Tom e Vinicius, João... além de outras figuras que ajudaram a reiventar a música brasileira como Carlos Lira, Baden Powell e Roberto Menescal

Os marcos históricos, no entanto, não fazem a mínima diferença para quem acredita que a música não tem começo, nem meio, nem fim. "Tem muita gente boa fazendo Bossa Nova ainda e tem gente que já transcendeu isso e está recriando esse estilo. Mas ela continua aí, atual", diz o violonista Beto Porto. "Daqui a 10, 20, 30 anos a Bossa Nova vai continuar existindo e vai continuar sendo nova, porque é moderna em todos os sentidos", afirma, com certeza, o contra-baixista Dagoberto Gracioli.


La ra ra ia...

O quê:
show 50 anos da Bossa Nova - pra fazer feliz a quem se ama
Quando: amanhã, às 21h30
Onde: no bar e champanharia João Gilberto
Quanto: antecipados a R$ 8,00 e na hora R$ 10,00
Contato: reservas de mesas pelos telefones 3025-4672 e 8403-0313


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Terça-feira, 21 de oububro de 2008

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