sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Capa e Contracapa

Começou a Feira do Livro em Pelotas!!!
Não deixem de conferir...


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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A pampa "de a cavalo"

Este não será o primeiro show nativista a ocorrer no Theatro Guarany, mas tem tudo para ser memorável. Isso porque Joca Martins pretende levar para lá um pouco do pampa e, na garupa, a essência e o sentimento do gaúcho. Literalmente. Além da simbologia da música, da temática que remete às origens campeiras, o músico promete carregar "de à cavalo" para o palco um pouco das tradições.

Provavelmente não seja à galope, mas numa marcha elegante, em que o bater ritmado dos cascos farão acompanhamento à melodia. Assim, com o ginete Dado Azevedo montado em um dos símbolos da cultura gaúcha perfilado do palco, Joca vai cantar o refrão de quem "tem a pampa no sangue e o coração nas esporas".

Contar como será o grande momento por um lado atiça a curiosidade, por outro estraga a surpresa. Mas não se preocupe, caro leitor. Esta não será a única da noite. João Luiz Nolte Martins, o Joca, ainda promete mais. "Parte do show vai ser dedicada especialmente à Pelotas", afirma, sem revelar detalhes da homenagem que fará à cidade-natal. Diz apenas que esta inclui uma música inédita.


Surpresas e possíveis improvisos à parte, a programação já traz motivos de sobra para os fãs da boa e nova música nativista prestigiarem o show. No repertório do lançamento do 12º disco, Joca Martins irá apresentar, além das novas, as canções "das antigas", de Domingueiro (Usadiscos, 2007) para trás, rememorando os sucessos dos mais de 20 anos de carreira.

"No pré-lançamento que venho fazendo desde setembro já pude sentir que as pessoas têm recebido bem este novo trabalho", diz ele que já marcou no público alguns dos novos refrões. "Coração nas esporas já estão cantando, porque é bastante forte. Encomenda é outra que o pessoal tem gostado bastante. É uma letra muito emocional que conta a história de um pala perdido. As pessoas gostam de histórias."


Estampa de campeiro

O "pampa" - ou a pampa - a que tanto se refere Joca está no sentimento, na essência do gaúcho, mesmo distante do bucólico cenário a que o termo remete. E se o gaúcho passou por um êxodo rural, a própria cultura o acompanhou, e se urbanizou. A bombacha e outras vestimentas típicas, por exemplo, migraram para a cidade e embora tenham sofrido adaptações, não abandonaram suas origens campeiras, defende o músico. "Antigamente era mais fácil identificar a região de origem do gaúcho. Dava pra ver se era da serra, da fronteira ou do litoral. Rio-grandense, uruguaio ou argentino", diz Joca, que se lembra da época em que as bombachas eram confeccionadas ao gosto do freguês. "No meu tempo de guri a gente comprava a 'fazenda' e ia na costureira encomendar um 'feitio'", brinca.

"De certa forma a cultura hoje está mais homogênea, apesar de não ter perdido completamente suas peculiaridades. O lado bom disso é que a gente vê que o pessoal voltando a usar essa vestimenta, do seu próprio jeito", diz ele, que embora costume optar por trajes mais convencionais não se sente incomodado com a combinação bombacha-e-tênis e outras tantas misturas "modernas" até condenáveis pelos mais ferrenhos tradicionalistas, mas que desfilam despreocupadas e confortavelmente pelas ruas da cidade.

"A partir dos inúmeros e-mails e manifestações do público, principalmente de quem vive fora do Estado, a gente vê que as pessoas gostam e fazem questão de expressar o orgulho pelo Rio Grande. Daí surgiu a idéia da gente criar uma linha de roupas" diz a assessora de imprensa Gabriela Mazza, que idealizou o projeto de criar uma espécie de "grife" Joca Martins e transformou o bordão "aí que eu me refiro" em marca.

A frase, assim como o primeiro verso da faixa-título do CD Pampa viraram estampas das camisetas que começam a ser vendidas no show de amanhã. Um dos dois primeiros modelos ainda reproduz o detalhe da grega bordada, modelo argentino, que enfeita palas, rastas e outros apetrechos da vestimenta gaúcha e que também aparece estampada na capa do disco. Tudo para agradar os adeptos de um estilo gaudério, que combina tanto com jeans quanto com bombachas. "A intenção é fazer outros produtos com essa temática para que as pessoas possam levar consigo. As camisetas são apenas o início", comenta a assessora.


Pra reunir a gauchada:

O quê:
Show de Joca Martins - lançamento do CD Pampa
Quando: Amanhã, às 21h
Onde: no Theatro Guarany
Quanto: ingressos antecipados a R$ 10,00, à venda no posto Cidadão Capaz (rua Tiradentes, esquina com a Félix da Cunha). CD´s estarão à venda no local a R$ 15,00 e camisetas a R$ 20,00.


Texto: Bianca Zanella | Foto: Divulgação | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Quinta-feira, 30 de oububro de 2008

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Lei do Tempo



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Minuto


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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Linha de Impacto

Quadrinhista pelotense Rafael Sica expõe em Porto Alegre nuances monocromáticas da realidade

A cor é cinza. Cinza-choque. Os traços são inconfundíveis, dão forma à personalidade inquieta de um desenhista "de cara com o mundo". Rafael Sica faz dos quadros uma zona de impacto. Seus desenhos vão além dos limites quadriláteros. Em quadrões e quadrinhos, as densas criações com a assinatura de Sica são versáteis e indiferentes às escalas: se enquadram bem em qualquer situação e nenhum espaço é pequeno demais para caber fragmentos de uma realidade quase sempre desproporcional.


"O que mais me choca é o comportamento das pessoas e como a nossa existência é miserável em todos os sentidos. É uma opinião pessimista, mas é isso aí, a gente tá f... mesmo", diz sem alterar o tom de voz calmo, que contrasta com a acidez das linhas rebeldes e inconformadas.

Seja pela fala, seja pelo traço, as expressões do ilustrador são marcadas pela espontâneidade do realismo escrachado com alguns toques de humor.

Rafael Sica conduz o lápis e a borracha no papel com liberdade. O retrato caricato do mundo real tem lá suas partes borradas, apagadas. Em meio ao caos, à confusão do mundo moderno, a miséria e o vazio se repetem em formas variadas. "Esse vulto branco que aparece em todos os quadros, em cada um de uma forma diferente. Ele é propositalmente um elemento estranho. É algo que eu uso pra deslocar olhar da realidade."

Algumas impressões do cotidiano urbano registradas pelo ilustrador estão na exposição Cinza-Choque, que vai até o final de novembro no Museu do Trabalho em Porto Alegre. Os desenhos vão dos tons de cinza mais escuros ao branco.

Além dos 14 quadros da série, esboços, tiras, e outros trabalhos "de gaveta" fazem parte da mostra que poderá passar por Pelotas após a temporada na capital. A confirmação, segundo Rafael, depende ainda de ajuste de datas e local para a exposição.


Trajetória

De uns tempos pra cá, e não se sabe até quando, as figuras assumiram um caráter mais realista e os quadros, antes saturados, agora sintetizam as percepções em menos elementos. "Isso faz parte da evolução natural e tem tudo a ver com encontrar um caminho no traço", diz ele, que como todo desenhista não sabe qual será o rumo que o próximo risco irá tomar. "Meu desenho está mais definido, essa é uma escolha proposital. Mas de repente tu tens que decidir seguir ou não com aquele esquema."


Rafael Sica nasceu em Pelotas, tem 28 anos e uma carreira ascendente. Seus desenhos já estiveram nas páginas do Diário Popular, ilustraram revistas como Mundo Estranho, Superinteressante, MTV, VIP e Trip... Atualmente podem ser vistos com freqüência no jornal Metrópole, de Salvador, na revista Caros Amigos e no blog Quadrinho Ordinário.

Sica viveu quase três anos em São Paulo antes de se mudar para Porto Alegre, onde mora desde 2006. Segundo ele, o lado positivo de desenhar em um lugar estranho é a possibilidade de enxergar a realidade "de fora". "O que acontece no lugar onde tu nasceu não te choca tanto, porque tu cresce acostumado com aquilo. Aí de repente tu te vê num lugar que não é teu. Por mais que tu te sintas perdido, é mais surpreendente ver as coisas dessa forma."


Confira in loco
O quê: Cinza-Choque, exposição de desenhos de Rafael Sica
Onde: no Museu do Trabalho em Porto Alegre (rua Andradas, 230)
Quando: visitação até o dia 30 de novembro, de terça-feira a domingo, das 13h30min às 18h30min

Confira na Internet * Rafael Sica publica uma tira nova por dia no blog Quadrinho Ordinário
* Para saber mais sobre o Museu do Trabalho acesse o site <http://www.museudotrabalho.org>



Texto: Bianca Zanella | Foto: Divulgação | Imagens: Rafael Sica | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 27 de oububro de 2008

Diversão e Arte

Começa hoje em todo o Estado a programação do Sesc em comemoração à Semana do Comerciário

Setenta e seis anos depois que foi publicado no Diário Oficial da União o decreto-lei 4.042/32, que regulamentou a jornada de trabalho dos comerciários e reduziu de 12 para 8 a carga horária diária, o Serviço Social do Comércio (Sesc-RS) comemora a data (30 de outubro) com uma semana de atividades culturais.

Ao todo, 11 grupos de teatro e música circularão por 50 municípios gaúchos com atrações que fazem parte programação do projeto Arrte Sesc - Cultura por toda pate.

Em Pelotas, o principal evento ocorre amanhã à noite no teatro do Círculo Operário Pelotense (COP), quando se apresentará a trupe porto-alegrense do Circo Teatro Girassol com a peça O Hipnotizador de Jacarés. Na ocasião também será entregue o Prêmio Comerciário do Ano para a vencedora do Concurso Minha História no Comércio 2008. A vendedora Alzira Luísa Hernandes Ribeiro, do Macro Atacado Krolow, é a pelotense que terá seu texto publicado em um livreto junto com as outras 49 melhores histórias de comerciários de todo o Estado, que narram fatos inusitados, engraçados ou momentos de emoção vividos no ambiente de trabalho.

A entrada é franca para comerciários. Para a comunidade em geral, a doação de um quilo de alimento não perecível garante a entrada. Os donativos serão destinados a instituições sociais locais por meio do programa Mesa Brasil Sesc.

O Hipnotizador de Jacarés é um espetáculo divertido que envolve liberdade de atuação e improviso. O roteiro, centrado na figura do palhaço, é inspirado no teatro de rua e nas técnicas utilizadas pelos camelôs como pretexto para prender a atenção da platéia. Na história, os palhaços Serragem, Farinha e Farofa estão às voltas de uma caixa com furos que, presumivelmente, guarda um feroz e exótico jacaré.


Já nas lojas

Desde sexta-feira o Sesc começou a divulgação da Semana do Comerciário em Pelotas com a blitz de intervenções artísticas no centro da cidade. João Monteiro, ator do Teatro Escola de Pelotas (TEP), circulou por diversas lojas para convidar a comunidade a prestigiar o evento.

De acordo com o diretor regional do Sesc, Everton Dalla Vecchia, as ações em homenagem aos comerciários gaúchos este ano se identificam com a proposta da instituição de promover a disseminação cultural no Estado e propiciar o acesso às artes para os trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo e para a comunidade em geral.


Não perca!

O quê:
O Hipnotizador de Jacarés - Apresentação teatral com o Circo Teatro Girassol
Quando: amanhã, às 20h
Onde: no Teatro do COP (rua Almirante Barroso, 2540)
Quanto: um quilo de alimento não-perecível (opcional para comerciários)


Texto: Bianca Zanella | Foto: Divulgação | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / P. 7 | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 27 de oububro de 2008

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Fresta


"Não vendo o mundo por frestas lhe posso fazer reparos"
(Leopoldo Rassier)

Publicado originalmente em: http://rafaelsica.zip.net/

Chega de Saudade no João Gilberto (Bossas V)

O estilo inconfundível do intérprete que revolucionou a música brasileira e conquistou o mundo será homenageado hoje (22) à noite na casa da Bossa Nova em Pelotas batizada com seu nome: João Gilberto.

Melodias sofisticadas, letras singelas, improvisos... e arranjos cheios de "manhas", ou melhor, de bossas. É com esse "jeito de fazer música" que o grupo pelotense Pausa e Notas fará um tributo a meio século de história da Bossa Nova, para o entusiasmado público apaixonado pelas boas e velhas canções ao melhor estilo "um banquinho e um violão".

Uma simplicidade que pode até parecer fácil, mas que exige do músico personalidade. "Depois que eu cantei Bossa Nova, sou capaz de cantar qualquer coisa", afirma a vocalista Cibele Sá, que interpreta canções imortalizadas por Tom Jobim, Vinicius de Morais, Nara Leão, Carlos Lira, Baden Powell e Roberto Menescal, entre outros.

Versátil e constantemente renovada, a Bossa Nova é para música como o jeans para a moda: uma peça única, atual independentemente da época e insubstituível. Assim, o estilo inventado por João Gilberto e companhia continua sendo sempre o mesmo, sempre diferente, 50 anos depois.

Se o movimento da Bossa Nova realmente acabou e deu lugar à nova MPB, como dizem alguns, suas influências permanecem vivas em novas e renovadas composições. "Basta ver o que fez Sérgio Mendes e os rappers do Black Eyed Peas", lembra o violonista Beto Porto, referindo-se à versão hip hop da canção Mas que nada, de Jorge Ben. "Se a música brasileira é como é, é por causa desses caras", fala o bateirista Jhabu Franco.


Tom é o cara

Assim como a Bossa Nova surgiu, foi por acaso que o contra-baixista Dagoberto Gracioli mudou de idéia, no auge da sua juventude roqueira, e descobriu que gostava de Bossa Nova. Ele, e muitos outros músicos daquela geração. "Um dia eu ia passando por uma rua lá em Porto Alegre e ouvi uns caras sentados no meio fio tocando violão, com uns arranjos meio 'tortos'", lembra o músico radicado em Pelotas, que na época vivia a onda da Jovem Guarda. "Eu ouvia Roberto Carlos e tirava tudo de ouvido, mas estava enjoado daquele mesmo 'dó-ré-mi', 'dó-sol-fá' de sempre e decidi que queria tocar aquilo também. Pra mim, Tom era o cara."


Quem é o Pausa e Notas

O grupo é formado por Beto Porto (violão), Dagoberto Gracioli (contra-baixo), Jhabu Franco (bateria) e Neco Eidelwein (sax alto e soprano). Na apresentação de hoje dividem o palco com a vocalista Cibele Sá e o tecladista Tony del Ponte, convidados especiais da noite.


Não perca:

O quê: show 50 anos da Bossa Nova - pra fazer feliz a quem se ama
Quando: hoje, às 21h30
Onde: no bar e champanharia João Gilberto
Quanto: antecipados a R$ 8,00 e na hora R$ 10,00
Contato: reservas de mesas pelos telefones 3025-4672 e 8403-0313


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / P. 7 | Publicado em: Pelotas, Quarta-feira, 22 de oububro de 2008

Inspiração Simoniana

Instituto João Simões Lopes Neto revela os vencedores do primeiro Prêmio de Artes VisuaisJustificar
Após meses de expectativa, foram anunciados ontem os ganhadores do Prêmio João Simões Lopes Neto de Artes Visuais. A divulgação ocorreu durante a vernissage que abriu a exposição das onze obras finalistas, na galeria de arte do Instituto de Artes e Design (IAD/UFPel).

O artista porto-alegrense Elton Manganelli foi o grande vencedor da noite. Recebeu uma premiação no valor de R$ 6 mil pela obra O Sonho do Sacristão, um conjunto de três telas inspiradas na lenda da Salamanca do Jarau, que passa a fazer parte do acervo do Instituto João Simões Lopes Neto (IJSLN). Outros cinco artistas (veja os nomes na lista de premiados) receberam menções honrosas no valor de R$ 500 cada.

O presidente do IJSLN, Henrique Pires, enfatizou que este é atualmente o maior prêmio de artes visuais vigente no Rio Grande do Sul. "É o maior do ponto de vista da valorização do artista. Conseguimos oferecer um bom estímulo com a premiação de mais de 13 mil reais e ficamos muito satisfeitos com a resposta que recebemos da comunidade, pela quantidade e qualidade das obras inscritas", afirmou.

Telas, fotografias e objetos ganharam formas inspiradas nas lendas e nos contos do escritor pelotense. Por entre mantantiais, personagens da dramaturgia, cenários e símbolos da cultura gaúcha foram recriados pelas mãos e olhares dos artistas. Ao todo foram 73 inscritos de diversas cidades do Estado, que se dispuseram a buscar em Simões inspiração.

"Simões é realmente muito inspirador pra mim. Achei muito interessante a proposta do Prêmio, tinha tudo a ver com o meu trabalho", diz a artista plástica Jane Machado, que já criava sobre a literatura de Simões desde 2002. "Eu comecei pesquisando o trabalho de Nelson Boeira Faedrich (ilustrador do livro Lendas do Sul), mas logo desisti da pesquisa. Resolvi que queria criar a minha própria Teniaguá", comenta ela.

"O que mais gostei de ver é que os artistas não fizeram simplesmente ilustrações dos textos. Eles partiram dos contos e lendas de Simões e foram capazes de responder à essa obra de uma forma muito original", destaca Igor Simões, produtor cultural do Instituto.

Segundo Henrique Pires, o IJSLN já planeja uma segunda edição do prêmio. "Essa é a nossa expectativa. Não sei se para o ano que vem ou para o próximo." O Prêmio João Simões Lopes Neto de Artes Visuais foi viabilizado por recursos via Lei de Incentivo à Cultura (LIC/RS) com o patrocínio da Copesul e da Braskem, e apoio das empresas "Amigas do Instituto": Colégio Gonzaga, Livraria Vanguarda, Theo Bonow e Caixa Econômica Federal.


Os premiados

Prêmio aquisição
Elton Manganelli (Porto Alegre) - O Sonho do Sacristão

Menções honrosas
Adrian Norberg dos Santos (Pelotas) - Jogo do Osso
Isabel Ramil (Pelotas) - Tudinha e Nadico
Jane Machado (Porto Alegre) - Sem título (da série: As peles de Teniaguá)
João Genaro (Pelotas) - Palangolé Simoniano
Ricardo Garlet (Frederico Westphalen) - Caixa IV

Outros finalistas

Ana Paula Barcelos (Pelotas) - Encarnado Manantial
Kátia Costa (Cristal/Porto Alegre) - Sou Eu, o Homem
Luci Sgorla de Almeida (Porto Alegre) - Transgressão
Pauline Treicha (Canguçu/Pelotas) - Mboitatá
Rodrigo Lobato Schlee (Pelotas) - Tranças Negras


Prestigie:

O quê: Exposição das obras finalistas no Prêmio João Simões Lopes Neto de Artes Visuais
Quando: até o dia 11 de novembro (visitação de segunda a sexta-feira das 8h30 às 19h)
Onde: na galeria de arte do IAD (rua Alberto Rosa, 62)
Entrada franca


Ecos

Estimulados pela proposta do prêmio, mesmo sem interesse em competir, alunos do curso de licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal de Pelotas recriaram os personagens dos contos e lendas simonianos em formas de bonecos. "Trabalhar a obra de Simões através da linguagem da Toy Art foi um desafio proposto para os alunos, e o resultado foi muito bom", diz a professora Maria de Lourdes Reyes, orientadora do projeto.

Os 21 bonecos serão expostos durante a Feira do Livro, e a intenção é que o trabalho venha a itinerar pelas escolas. "Isso tem tudo a ver com o professor. Acho que vai ser legal usar essas criações para contar as histórias", acrescentou.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Quarta-feira, 22 de oububro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Bossas IV

Grupo Pausa e Notas promove um reencontro com a boa e velha Bossa Nova

O lugar não poderia ser mais sugestivo: o bar batizado com o nome do patrono da Bossa Nova abre as portas amanhã para um tributo ao jeito de fazer música imortalizado na voz e no estilo de João Gilberto.

"É praticamente uma obrigação participarmos dessa homenagem", diz o proprietário do bar, João Lopes. Mas que nada, é mais que isso. Se a Bossa Nova tem 50 anos, João Lopes tem 55 e é apaixonado pelo ritmo que se acostumou a ouvir desde pequeno. Na figura do intérprete e compositor baiano João Gilberto, ele vê o que de mais forte a Bossa Nova representa para a arte brasileira. "Ele era até um pouco desafinado, tinha uma vozinha 'assim' bem diferente dos vozeirões que tocavam no rádio, mas tinha também 'aquela puxada' no violão e um banquinho. Ele mostrou ao mundo que isso bastava para se fazer uma boa música", disse, antes de fazer uma breve interrupção na entrevista e começar a batucar no balcão e fazer coro ao grupo Pausas e Notas que cantarolava, descontraído, os famosos versos: O pato vinha cantando alegremente, quém, quém... / Quando um marreco sorridente pediu / pra entrar também no samba, no samba, no samba...

Assim, com melodias sofisticadas, arranjos desengonçados e letras singelas uma geração de músicos fez soar os acordes iniciais do que mais tarde seria rotulado como MPB. Como uma grande janela para o improviso, o estilo surgia abrindo os palcos para os músicos recriarem permanentemente, ao mesmo tempo em que interpretavam as mesmas boas e velhas canções. Afinal, uma Bossa Nova que se preze nunca será cantada, tocada ou ouvida duas vezes da mesma forma.


Nara, Tom e João

Há quem diga que a Bossa Nova foi um movimento nascido e criado no embalo da modernidade, que chegava ao país a passos largos durante o governo de Juscelino Kubitschek. Outros se recusam a aceitar essa nomenclatura e dizem que ela não tinha conotações políticas e socias, que nasceu "por acidente" de um caso mal-resolvido: da evolução do Choro com influências do Jazz. Para os músicos do grupo Pausa e Notas, que se apresentam amanhã, é algo assim como... uma filosofia.

Oficialmente, a Bossa Nova vai dos versos de Chega de Saudade, de Tom e Vinicius lançados compacto simples no ano de 1958 por João Gilberto até Arrastão, defendida por Elis Regina no primeiro Festival de Música Brasileira, em 1965. O intervalo concentra as principais referências para a composição do repertório: Nara Leão, Tom e Vinicius, João... além de outras figuras que ajudaram a reiventar a música brasileira como Carlos Lira, Baden Powell e Roberto Menescal

Os marcos históricos, no entanto, não fazem a mínima diferença para quem acredita que a música não tem começo, nem meio, nem fim. "Tem muita gente boa fazendo Bossa Nova ainda e tem gente que já transcendeu isso e está recriando esse estilo. Mas ela continua aí, atual", diz o violonista Beto Porto. "Daqui a 10, 20, 30 anos a Bossa Nova vai continuar existindo e vai continuar sendo nova, porque é moderna em todos os sentidos", afirma, com certeza, o contra-baixista Dagoberto Gracioli.


La ra ra ia...

O quê:
show 50 anos da Bossa Nova - pra fazer feliz a quem se ama
Quando: amanhã, às 21h30
Onde: no bar e champanharia João Gilberto
Quanto: antecipados a R$ 8,00 e na hora R$ 10,00
Contato: reservas de mesas pelos telefones 3025-4672 e 8403-0313


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Terça-feira, 21 de oububro de 2008

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Bossas III


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Bossas II


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Bossas I


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Prêmio


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Simões em cena nas escolas

Depois de meses de preparação e muitos ensaios, os resultados do projeto Teatro Mostra Simões chegam ao palco. Na sexta-feira (17), o grupo cênico Ditirambos, da Escola Estadual Nossa Senhora de Lourdes, realizou a primeira da série de apresentações que irá passar por 14 escolas da rede pública de ensino em Pelotas. A encenação da lenda M-boitatá ocorreu no salão paroquial da Colônia de Pescadores Z-3, para uma platéia formada por alunos de 2ª à 4ª série da escola Rafael Brusque.

"O mais legal é que estamos inaugurando essa mostra aqui, pertinho de onde Simões nasceu e passou boa parte da infância", disse o presidente do Instituto João Simões Lopes Neto (IJSLN), Henrique Pires, referindo-se à proximidade da colônia com a Estância da Graça. "Ele era praticamente um zetrezense", brincou, enquanto falava às crianças que aguardavam anciosas o início da apresentação.

O Ditirambos é um dos sete grupos que aderiram à iniciativa do Instituto de promover o acesso à obra literária do escritor pelotense através da linguagem cênica e incentivar a produção teatral nas escolas. "Hoje a gente pode dizer que atingimos mais uma vez esses objetivos, assim como na primeira edição que realizamos em 2005", afirma o coordenador geral, ator e diretor de teatro Aceves Moreno. "O projeto dá certo porque é feito de alunos para alunos", completa ele, atribuindo o êxito a pouca interferência de profissionais nas criações elaboradas pelos estudantes.

Para orientar as produções, o Instituto Simões Lopes Neto promoveu oficinas de roteiro, iluminação, figurino, maquiagem, cenografia e adereços ministradas por Bartira Franco, Ricardo Lima e Gê Fonseca.


Nota 10

"Tivemos uma ótima oportunidade de conhecer o trabalho dele (Simões). Acabamos estudando os outros contos também", diz a estudante Diésica Capitanio, que faz o papel da mítica M-boitatá. Recriar a personagem, tida como o "mau-olhado dos pampas" foi o maior desafio para o grupo, que teve que enfrentar ainda as dificuldades de compreender e interpretar o palavreado usado na lenda. "Imagina só uma 'cobra gigante de fogo transparente'", falou uma das alunas, tentando visualizar o a personagem tal qual ela é descrita por Simões. Durante a pesquisa e indispensáveis consultas ao dicionário, "abichornados" e "entanguida" foram algumas das palavras que entraram para o vocabulário da trupe.

"Essa é uma iniciativa fantástica para ressucitar o teatro nas escolas, porque isso se multiplica na sala de aula de forma interdisciplinar" reflete a professora de biologia Sandra Viégas, que aproveita a experiência de participar do elenco do Teatro Escola de Pelotas desde 1988 para coordenar o grupo de teatro do colégio.

Para as escolas que não tem artes cênicas incluídas nas atividades extra-classe, receber os grupos de teatro é um incentivo e uma oportunidade de intercâmbio. "Assim a gente vê que é possível fazer teatro mesmo de forma simples, com as condições modestas que a gente tem aqui", comentou a coordenadora da escola zetrezense Rafael Brusque, após a apresentação.

"É muito interessante esse trabalho, porque mesmo sendo um autor daqui de Pelotas os alunos praticamente não conhecem" diz a professora da 2ª série Carmen Carvalho enquanto era interrompida por um aluno que exclamava: "A historinha da M-boitatá, né tia?!" Essa eles já conheciam, pois fazia parte do conteúdo sobre o folclore gaúcho.

"Fazendo algumas adaptações, para que fique compreensível para a idade deles, é totalmente possível trabalhar as lendas e os contos do Simões Lopes na sala de aula", afirmou a professora.


Adaptações

Além da Escola Nossa Senhora de Lourdes, o Instituto Estadual de Educação Assis Brasil e os colégios Ferreira Vianna, Fernando Osório, Santa Mônica e Gonzaga fazem parte da mostra, com montagens inspiradas nas Lendas do Sul.

Hoje (segunda-feira, 20), o grupo de teatro do Instituto Assis Brasil apresenta a esquete Cadê a confiança? na quadra da escola municipal Joaquim Dias. A peça, inspirada na lenda do Negrinho do Pastoreio conta a história de Maria, uma adolescente que após ler o conto reflete sobre a violência e os maus tratos sofridos pelo personagem, comparando a situação com a realidade dos dias atuais.

O projeto Teatro Mostra Simões é uma realização financiada pelo Governo do Estado, com patrocínio da Copesul e da Braskem através da Lei de Incentivo à Cultura (LIC-RS).


Confira as datas e locais por onde a mostra vai passar

20/10 - E. M. Joaquim Dias
22/10 - E. M. Nossa Senhora de Lourdes
24/10 - E. M. Carlos Laquintinie
27/10 - E. M. Círculo Operário Pelotense
29/10 - E. M. Mário Menegueti
31/10 - E. M. Independência
10/11 - E. M. Jornalista Deogar Soares
12/11 - Instituto São Benedito
14/11 - E. M. Garibaldi
17/11 - E. M. Dr. Joaquim Assumpção*
19/11 - E. M. Bibiano de Almeida
21/11 - E. M. Campos Barreto
24/11 - Escola Nestor Crochemore


*As apresentações ocorrem sempre às 15h com exceção do dia 17/11 na escola Joaquim Assumpção, onde a encenação está marcada para as 20h. A entrada é franca.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 20 de oububro de 2008

domingo, 19 de outubro de 2008

Nos bastidores dos Contos Gauchescos

Claquete... "Ação!" Agora só quem caminha no set de gravações é o jovem ator Leonardo Machado, mas quem entra em cena e fala é Blau Nunes: "Então, Picumã. O que é que tu fazes com o dinheiro que ganhas vendendo essas prendas?" O texto é pontuado por tragadas de fumo.

Juca Picumã, sentado ao lado, trança arreios e responde, com a voz rouca de Canabarro, o ator: "Mando tudo pra Rosa... Tudo! E ainda é pouco!"

"Rosa é minha filha! Linda como os amores...", responde, satisfazendo a curiosidade do gurisote interlocutor e de todos os que assistiam à cena. "Mas não é pra o bico de qualquer lombo-sujo, como tu..." adverte, antes de o diálogo esvair-se...

"Corta!", interrompe o diretor Henrique de Freitas Lima em voz de comando, dando início à coreografia sincronizada da equipe de produção. Todos sabem exatamente o que fazer: devem desmontar os equipamentos e remontá-los em nova posição para a próxima tomada. O elenco descansa na sombra. Roberto Birindelli, que entrará na cena seguinte, revisa o texto no roteiro amassado que guarda dentro da bota que complementa o seu figurino, uma farda azul e um lenço vermelho.

Henrique, o diretor, olha para o céu otimista. O trabalho segue no ritmo planejado, apesar das chuvas que atrapalharam a primeira tarde de gravações. Já se foram onze dias desde que o set foi instalado naquela locação. Seu assistente de direção teve que ser substituído porque machucou o pé durante as gravações, mas com sorte a equipe não terá mais nenhum imprevisto. É véspera do fim das filmagens e por isso ele observa apreensivo a direção do vento e espera que o tempo continue assim, firme, para que não atrapalhe as gravações das últimas cenas na manhã seguinte.

Estamos na estância do Inhatium, interior do município de São Gabriel, a cerca de 300km de Pelotas, onde os personagens criados por Simões Lopes Neto há quase cem anos ganham nova vida e transitam pela cochilha coberta de mata nativa. Paisagem cada vez mais rara. O cenário das aventuras do jovem recruta Blau Nunes prestes a ganhar as telas do cinema, no passado, já foi locação de episódios reais da epopéia farrapa.

O local foi paradouro para o imperador Dom Pedro II e sua comitiva na viagem que pôs fim ao cerco de Uruguaiana, durante a Guerra do Paraguai, pelos idos de 1865. Mas isso é assunto para outro causo, tema de outros contos como O Chasque do Imperador, ou O Anjo da Vitória do mesmo Simões, contador de histórias que os leitores não cansam de ler, e que artistas não cansam de recontar de diferentes formas.


Nova "tradução" carrega a essência da narrativa para as telas

Essa história, ou pelo menos essa parte dela, fala de uma certa moça que perdeu a trança no vértice de um triângulo amoroso, por conta da honra e da rivalidade dos homens. E conta ainda de uma "parada que custou vida, mas foi jogada..." por causa de um taura que apostou a mulher num tiro de taba. Jogo do Osso e Os Cabelos da China são os primeiros dos seis Contos Gauchescos que irão passar nas telas e telonas.

Além destes, Trezentas Onças, Contrabandista, No Manantial e Negro Bonifácio serão os outros episódios da série que terá no primeiro, do total de sete capítulos, o documentário Entre o Real e o Imaginado, de Pedro Zimmermann, que relembra a trajetória de Simões Lopes Neto.

A série, produzida pela cinematográfica Pampeana (a mesma que produziu o filme Concerto Campestre, em 2004), deve ir ao ar entre maio e junho do ano que vem pela TVE Piratini em todo o Estado, aos domingos, em horário nobre, e poderá entrar também na grade de programação da TV Brasil, nova rede pública nacional. A confirmação, no entanto, ainda depende de negociações.

A captação de imagens é feita no HD em vídeo de alta definição, com som direto e finalização digital. "Estamos trabalhando com uma banda internacional", diz Freitas Lima, que já pensa nos suportes necessários para colocar em prática os planos de exportar a série. "Quem sabe não fazemos uma versão em espanhol?"

Os curtas de 25 minutos terão também uma versão para o cinema, que deve estrear no festival de Gramado do ano que vem. Uma tropeada será o fio condutor da narrativa do longa metragem. Os incidentes dessa viagem vão desencadear as histórias das lembranças do personagem-narrador Blau Nunes em várias fases da vida, da juventude à maturidade.

"Os contos tem um grande potencial dramático, mas tivemos que adaptar. No texto original têm muitas frases que 'dizem tudo', mas cinema não dá pra fazer assim, simplesmente contando as coisas. No cinema a gente tem que mostrar, construir as cenas", diz o diretor, que assina também o roteiro. Por isso, ele explica, na adaptação a narrativa em off (quando um trecho da história é "contada" para "explicar" o que acontece no filme) será usada com moderação. "A breve narrativa que usamos é mais uma homenagem ao estilo de contar histórias da literatura de Simões que um recurso de encadeamento do roteiro."


Sotaque original

Os atores de Contos Gauchescos tiveram oficinas preparatórias para os papéis, mas de uma eles foram dispensados: não precisaram "treinar" para falar com sotaque dos pampas, já que o elenco é formado exclusivamente por gaúchos.

Leonardo Machado, Roberto Birindelli, JN Canabarro, Evandro Soudatelli e Renata de Lélis, são alguns dos nomes que estão no episódio Os Cabelos da China. O ator Marcos Breda foi convidado para um papel, mas não pôde participar das gravações por incompatibilidade da agenda. Não está descartada, entretanto a sua inclusão no elenco de um dos próximos curtas, que já tem o nome da atriz Daniela Escobar confirmado. São cogitadas também as participações de Júlia Lemmertz, Sílvia Pfeifer, Ittala Nandi, Paulo José e Sheron Menezes. "Alguns já são bem conhecidos, os outros não são tão famosos, mas têm carreiras ascendentes. Não precisamos trazer gente de fora pra fazer esses papéis. Temos atores muito bons que são daqui", elogia o diretor em busca de novas revelações das artes cênicas.

O episódio Jogo do Osso tem a participação especial dos músicos Renato Borghetti e Sérgio Rojas.

"É muito bom sair, porque isso te dá experiência e visibilidade, mas também é muito bom voltar. Sair me ajudou a reforçar a minha identidade, a cultura do meu lugar e me deu um referencial para o meu trabalho. Pode parecer utopia, mas eu quero ficar aqui", reflete o ator porto-alegrense Leonardo Machado, que tem no currículo os folhetins globais Malhação, O Clone e Senhora do Destino, além de várias produções cinematográficas gaúchas, como 3 Efes, do diretor Carlos Gerbase. Integrante da Companhia Rústica de Teatro, de Porto Alegre, ele esteve em Pelotas recetemente, onde encenou no palco do Sete de Abril as peças A Megera Domada e Sonho de uma noite de verão, ambas durante a Mostra de Teatro do Sesc.

"Aqui no sul a gente faz TV como quem faz cinema, com um cuidado a mais, e isso faz toda a diferença. Lá para cima são 'superproduções', mas tudo é feito em escala industrial, como se fosse uma fábrica de salsichas", compara o ator, que se diz fascinado pelo personagem Blau Nunes. "Eu li Simões pela primeira vez na escola, mas não tinha consciência de que ele era um escritor tão 'moderno'. Agora eu me dou conta do 'formigamento mental' que ele tinha", diz ele, que aos 32 anos de idade vive no cinema o Blau na fase jovem, com vinte e poucos anos. "O personagem tem toda a valentia, tem o lado heróico, mas nesse episódio ele a recém está chegando na guerra e tá meio assustado ainda."

Mais experiente em cena, o ator Roberto Pirindelli, de 45 anos, interpreta novamente um farroupilha. Com vários filmes - longas e curtas-metragens - e especiais para TV situados durante o período da revolução gaúcha, ele volta a dar vida ao arquetípico homem dos pampas. "A gente corre o risco de ser estereotipado. Os personagens são sempre os mesmos. As histórias retratam sempre o inverno, a guerra. O gaúcho veste sempre o mesmo pala. Mas eu me pergunto: onde é que está o momento de fraqueza desse homem que só pensa em vingança?", dispara, sobre o personagem que perdeu a mulher para outro homem, das tropas inimigas. A crítica, segundo ele, não é direcionada apenas à literatura de Simões, mas a toda a cultura do "gaúcho médio do interior".

"É só o herói que aparece. A gente nunca pega um personagem humano, mesmo. Só agora é que a arte começa a se libertar desse passado", avalia ele, que após ter concluído sua participação em Os Cabelos da China e nas novelas Duas Caras (Globo) e Chamas da Vida (Record) participa das gravações de um longa na Argentina e retorna ao Brasil para o início das filmagens de Vendeta, a nova novela da Record que conta a história da máfia no Brasil.


A parceria com o Instituto

Literatura e cinema andam de mãos dadas nesse projeto que pretende divulgar a obra simoniana por meio da linguagem audiovisual. O Instituto João Simões Lopes Neto (IJSLN), referência na preservação da memória do escritor pelotense, é parceiro da cinematográfica Pampeana na produção.

O Instituto possui licença de exibição dos vídeos (o documentário Entre o Real e o Imaginado já é passado nos eventos realizados pelo IJSLN) e terá os direitos exclusivos sobre a venda dos DVDs e CDs com a trilha sonora da série e do filme.

O IJSLN ainda mantém outras atividades, como a oficina de roteiro ministrada pelo também diretor e co-roteirista dos Contos Pedro Zimmermann.

No sábado passado, quando um grupo ligado ao Instituto esteve o set de filmagens de Os Cabelos da China, o cineasta Henrique de Freitas Lima e o presidente do IJSLN Henrique Pires manifestaram mais uma vez o interesse na parceria.

A visita às gravações do filme durou um dia, e teve a participação de convidados do Instituto, da produtora cultural Beatriz Araújo, de participantes da oficina de roteiro e alunos dos cursos de Cinema, Teatro, Filosofia e História da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

O artista e Mário Mattos, fundador do Núcleo de Estudos Simonianos, estava curioso para saber se o roteiro teria encaixado "a cena do amante da china fungindo em um cavalo maneado". "Esse é o clímax da história", disse, entusiasmado. A boa surpresa foi poder assistir justamente a gravação dessa cena de batalha com direito à cavalo maneado, briga com lanças, tiros e efeitos especiais.


Locações

A gravação do documentário Entre o Real e o Imaginado, realizada em Pelotas, teve o patrocínio da Ceee através da Lei de Incentivo à Cultura do Rio Grande do Sul (LIC/RS) e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) pela Lei Nacional de Incentivo à Cultura - a Lei Rouanet -, além do apoio de logística da empresa Planalto.

Esta segunda etapa de gravação recém concluída, que incluiu os contos Jogo do Osso e Os Cabelos da China, teve o patrocínio da Aracruz Celulose e da Randon através da Lei Rouanet. A Planalto mantém o apoio logístico ao projeto, que conta ainda com a parceria da arrozeira Urbano e do frigorífico Marfrig, ambas empresas de São Gabriel.

Outros dois episódios serão gravados em terras gabrielenses, já que o município faz parte da base florestal da Aracruz. Para a tropeada que servirá de encadeamento para o longa-metragem as locações também já foram escolhidas: as gravações serão no município de Aceguá. "Descobrimos que lá tem um criador de 'bois de época'", brincou o diretor, referindo-se aos rebanhos de gado crioulo existentes naquela região da fronteira.

Para os episódios finais, Piratini e Livramento disputam qual deles irá sediar as locações. Belos cenários, ambas as cidades tem. O que vai pesar na decisão de qual será o rumo que elenco e equipe de produção irão tomar será, sem dúvida, a disposição dos patrocinadores.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Estilo / Capa | Publicado em: Pelotas, Domingo, 19 de oububro de 2008

sábado, 18 de outubro de 2008

As novas bossas de Inês Rosenthal

A inspiração vem em flashes, não pára nunca. A fala é agitada, os gestos são constantes e rápidos. Inês Rosenthal também não pára nunca. Sua arte pulsa nas cores e traços abstratos ou semi-figurativos criados pela trajetória do cursor do mouse na tela do computador. A artista de personalidade explosiva, mas que porém persegue a serenidade no ato da criação, a um ano e meio resolveu que não iria mais esperar o tempo da tinta secar.

A artista pelotense só queria encontrar um jeito "de fazer a arte fluir rapidamente", e encontrou. Foi assim. Meio que por incentivo de pessoas próximas, meio que por indicação espiritual, que segundo ela descobriu que poderia incorporar a programas de computador as técnicas aprendidas na academia. "Não tenho a intenção de retratar o cotidiano. Eu nem penso na temática antes de começar a desenhar. Mas depois de pronto eu me vejo, vejo que sou eu ali... E de repente o artista já faz parte da obra, é a própria obra. A arte fica à flor da pele. A vida impulsiona a arte", divaga diante dos quadros que em breve estarão na parede.

Um curto espaço de tempo para uma criação exaustiva, armazenada no HD em forma de mais de 4 mil imagens. "As coisas vão aparecendo, realmente, muito rápido." Das milhares, difícil para a artista apaixonada pelas suas obras selecionar apenas algumas da memória digital sem limites para o limitado espaço físico das paredes de uma galeria. Na tentativa, cerca de vinte telas reproduzidas tiradas do computador para o vinil adesivado estão na sala Antônio Caringi, da Secretaria Municipal de Cultura (Secult), em exposição até o fim do mês.


Bossas

Na vernissage da exposição No Caminho do Mouse, Inês Rosenthal apresentará outras de suas bossas. As filhas Ju e Mel Rosenthal realizam no jardim do Casarão 2 um recital com repertório de sambas e bossa nova. O repertório se vai pela MPB afora. Tom Jobim, Pixinguinha, Baden Powell, Vinicius de Moraes, Paulinho da Viola, Ary Barroso, Cartola... No musical Nosso Samba, o duo de cavaquinho e violão terá a companhia da artista plástica no violino, em algumas participações especiais.


Prestigie

O quê:
exposição No caminho do mouse
Abertura: inauguração conjunta com as demais exposições mensais nas salas da Secult amanhã, às 20h no hall da Prefeitura.
Vernissage: recital Nosso Samba no jardim do Casarão 2 da Praça Coronel Pedro Osório (Secult) após a abertura coletiva das exposições.
Visitação: até 31 de outubro, com entrada franca.

Arte com fé

O crucifixo e a fina corrente dourada são discretos, mas estão sempre pendurados sobre o peito. Túlio Oliver diz que rezar antes de iniciar cada trabalho é um ritual. O próprio ofício é uma oração. O ato de acender uma vela e manejar o pincel guarda lá suas semelhanças... Com as bênçãos de todos os santos, o artista plástico revela um pouco da sua busca espiritual em Devoção. As imagens personificadas dos mártires da fé popular estão expostos até o dia 31 na sala Inah Costa.

"Essa exposição é um testemunho da minha fé, um agradecimento. O que mostro aqui é um trabalho que faço com convicção", afirma o artista-pesquisador das religiões, fascinado pelas biografias dos santificados.

Nas feições de cada santo, Oliver observa com sensibilidade as diferentes interpretações daquilo que as figuras representam, com influências artísticas e religiosas das escolas ortodoxas e barrocas. As imagens carregadas de ternura e força, emolduradas em formas que lembram altares, trazem dos oratórios uma sensação de ligação com o divino com uma postura menos formal e mais emocional.

Nessa série de pinturas, expostas perante a Bíblia, retratos de uma religiosidade sincrética. Ali estão variações de personagens que norteiam o pensamento Cristão. Santa Rita, Santa Terezinha, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da Conceição. Várias Marias, com rostos diferentes. "Penso que se juntarmos o Cristianismo, o Judaísmo, os orientalismos, o Espiritualismo, enfim... tudo é Deus." E segue. Arcanjo Miguel e a força de quem detém o controle sobre o mal. Santo Antônio, São José, São Francisco de Assis, Santo Expedito. Apedrejamentos, flechas, fogueiras. Todos mártires e todos mortos pela recusa de negar a própria fé. "São histórias exemplares. Eu sempre peço a Deus que me inspire, para que a minha arte comova as pessoas da mesma forma como me comove. Eu creio firmemente que todos eles intercedem por mim, em todos os momentos, principalmente quando estou criando."


Prestigie
O quê: Devoção, exposição individual de Túlio Oliver
Quando e onde: Abertura hoje (quarta-feira), às 20h no hall da Prefeitura. Visitação até o dia 31 na sala Inah Costa, no Casarão 2 da Praça Coronel Pedro Osório (sede da Secretaria Municipal de Cultura)
Entrada franca

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Cinza-choque 2


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Tem Festival no Sete de Abril

Em uma nova tentativa de inserir Pelotas no forte circuito de festivais de música gaúcha, ocorre neste sábado (18) no Theatro Sete de Abril a segunda Salamanca da Canção Nativa. Além de divulgar a poesia e a canção regionalista e incentivar novos talentos, o festival homenageia de uma só vez a música e a literatura gaúcha e pelotense personificada em um de seus principais representantes, João Simões Lopes Neto. As metafóricas referências à lenda da Salamanca do Jarau, explícitas nos nomes que batizam o prêmio e o grupo que o criou, são a maior prova da identidade do projeto, nascido com a proposta de cultuar a cultura tradicionalista em sentido amplo, em todas as suas formas de manifestação.

A iniciativa é do grupo autônomo Alma Forte, Coração Sereno, que semeou a idéia no interior do CTG Rancho Grande, do Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça (CAVG), onde em fevereiro do ano passado foi realizada a primeira edição do festival. "No início eram quatro ou cinco estudantes. A maior parte da gurizada estava no último ano lá, mas mesmo depois que nos formamos achamos que a gente não podia deixar a idéia morrer", conta Lillian Muller, que atualmente é estudante de agronomia e toma a frente da organização junto com Normando Bresolin e Fábio de Castro.


Aposta no entusiasmo

A cada vez que surge um levante eufórico determinado a criar um festival forte no cenário musical pelotense, a pergunta é inevitável: será que dessa vez dará certo? O Círio (Canto Interuniversitário Rio-Grandense) e a Charqueada da Canção, já extintos, são apenas dois de vários exemplos das iniciativas criadas com o mesmo objetivo que não prosperaram.

Não por falta de talentos, já que os músicos pelotenses participam com destaque de festivais em outras cidades e não raramente trazem prêmios significativos para cá. Para os organizadores da Salamanca, o público pelotense não é resistente aos festivais, e também não faltam recursos para realizar os eventos e colocar as idéias em prática. "Pelotas comporta muitos festivais e realizá-los é totalmente viável. As verbas estão aí, os talentos e o público também. Falta organização de bons projetos", defende Bresolin. O grande número de inscrições, de músicos oriundos de diversas cidades do Estado, já demonstra, segundo ele, um grande interesse dos artistas e indica uma boa participação da comunidade. "Quando os projetos são muito vinculados a alguma entidade, ou acabam ficando na mão de uma única pessoa, não vão para a frente. Mas quando tu pegas um grupo de empreendedores apaixonados pela causa e capazes de organizar isso, as coisas saem do papel. Começamos pequeno para amadurecer aos poucos", continua ele.

A Salamanca da Canção Nativa tem o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, da Universidade Federal de Pelotas e do restaurante Rincão Nativo.


Os finalistas

(Lista de músicas e intérpretes classificados por ordem de apresentação)
1. Última marcha (Richard Pereira)
2. Pra cantar ainda de espora (Alex Barcelos)
3. Onde as almas ressucitam (Maicon Gonzales)
4. Tumbeiro (Sérgio Terres Viana)
5. Relíquia (Diego Machado)
6. Quisera (Alex Sandro Moraes Moreira)
7. Joguei fora a felicidade (Flávio Mendez)
8. Romanceiro (Fabrício Marques)
9. De repontes e estradas (Igor Moraes)
10. Vai coração (Alci Vieira Júnior)
11. Um dueto pra um desfile (Gustavo Campelo)
12. Assim me faço campeiro (Rodrigo Madrid)
O júri é formado pelo escritor e compositor Édson Silva, pelo instrumentista, maestro e professor Leonardo Oxley e pelo cantor e compositor Rui Carlos Ávila.


Prestigie e incentive!

O quê: II Salamanca da Canção Nativa. No intervalo do festival, show com Rodrigo Jacques
Quando: Sábado, dia 18, às 19h
Onde: no Theatro Sete de Abril

* Após as apresentações e entrega dos prêmios haverá uma confraternização entre os participantes, o público e os organizadores do festival no restaurante Rincão Nativo (rua Félix da Cunha, 859)


1 livro = 1 ingresso

Os ingressos podem ser trocados na hora ou antecipadamente no teatro por livros - didáticos ou literários, novos ou usados (desde que em bom estado de conservação). A bilheteria do evento será em benefício da biblioteca de uma unidade de educação do interior de Pelotas. A escola que irá receber as doações ainda não definida.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Cinza-choque


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Cinza-choque
desenhos de Rafael Sica
abertura dia 18 de outubro, sábado, às 19h

Visitação de 18 de outubro a 30 de novembro de 2008
de terça a sábado, das 13h30 às 18h30. Domingos e feriados, das 14h às 18h30
Museu do Trabalho, Rua dos Andradas, 230 – Centro - Porto Alegre


O Museu do Trabalho abre nova exposição no dia 18 de outubro e leva mais um quadrinhista gaúcho para seu badalado espaço cultural no centro da cidade. Desta vez é Rafael Sica, ilustrador com vasta trajetória em jornais e publicações diversas apesar da pouca idade. A mostra traz 13 desenhos inéditos que abordam a alucinação do cotidiano. Estes trabalhos foram feitos a lápis e borracha, sobre papel canson 220 gramas, no formato 48x66cm. Também estarão expostos originais de quadrinhos, ilustrações, esboços e desenhos livres, feitos de materiais variados.


Realização:
Museu do Trabalho, Rua dos Andradas, 230 – Centro - Porto Alegre
Fone: (51) 3227 5196

Show do Joca


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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Informação

Informação
Se existe escrita, nós escrevemos
Se existe on-line, nós atualizamos
Se existe móvel, nos enviamos
Se existe em vídeo, nós exibimos
Se existe em áudio, nós tocamos

Se existisse no microondas, nós a cozinharíamos
Se existisse no ar, nos a sopraríamos

Antigamente a notícia esperava o jornal sair pra ela poder... acontecer
Hoje a notícia anda no tempo do próprio acontecimento
É aprofundada minutos depois, analisada imediatamente

Por nós, pelo seu vizinho, por você
Onde quer que você esteja
De lá você sugere, opina, busca, corrige, edita, atualiza, faz... você mesmo

Por isso um jornal tem que estar no papel, na tela, na sua mão
Tem que estar onde você quiser estar
E também tem que estar numa atitude
No envolvimento com a comunidade
No compromisso com a sociedade
Na visão de um futuro

Tem que estar na cidade, no país, no planeta
On line, on time, full time


Para quem ainda não assistiu, ou para quem quer ver de novo:
Campanha do Jornal O Globo: Muito além do papel de um jornal

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sinais do Corpo

As manchas, os riscos, sustentam as telas. As cores pontuam vazios. Os traços que percorrem caminhos, por vezes confusos, denunciam gestos, movimentos. Acusam a ação e a interferência humana no espaço. Não de qualquer pessoa. As obras detém conceito e personalidade: têm a assinatura de Vivian Herzog. A artista que transita por técnicas de desenho e pintura expõe até o dia 19 suas novas telas, na Sala dos Novos do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Malg).

Professora formada em artes visuais pelo Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Pelotas, Vivian ressalta no seu trabalho a presença do corpo e a concepção do desenho como espaço a ser preenchido. "Me interessa essa sensação de uma criança que experimenta sua atuação no espaço e também essa relação abstrata com o lugar", afirma ela. "Não gosto de cobrir toda a superfície. Prefiro manter os poros, a textura e também o caimento do tecido", diz ainda, como quem procura na arte um espaço para respirar.

Na série "Entre Lugares" ela reafirma a seqüência do pensamento desenvolvido desde o início da carreira e a constância do amadurecimento que difere as obras das "garatujas" (rabiscos infantis). Na tragetória dos traços, no colorido percurso da mão, registrado pelo bastão sobre o tecido, a espontaneidade divide espaço com a reflexão artística. "Eu corro o risco (no tecido) e corro o risco de perder o trabalho também", reflete a artista, com um natural jogo de palavras. "A diferença é essa: não é uma espontaneidade barata porque apesar de ser um desenho livre existe uma reflexão em termos de composição. Diferente de uma criança desenhando institivamente, eu organizo idéias, seleciono, coloco em ação meus repertórios."


Prestigie

O quê: Mostra Desenhos, de Vivian Herzog
Quando: até o dia 19 de outubro, com visitação de terça à domingo, das 10h às 19h. Vernissage nesta quarta-feira (8), às 18h.
Onde: na Sala dos Novos do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (rua General Osório, 725).
Entrada franca

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Do fundo do baú: imagens da geração Coca-Cola

"Aí a Raquel me disse: 'tem um espaço vago no Malg, você tem uma idéia?' E eu disse 'só preciso de um tempo'". Da conversa com a diretora do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Malg), Raquel Schwonke - à procura por uma exposição para cobrir um intervalo na agenda das salas - o interlocutor teve dois dias. Dois dias e uma idéia: tirar o pó da memória de uma geração de artistas pelotenses esquecida no acervo do museu. Quem narra o diálogo é o professor José Luís de Pellegrin, do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Pelotas, organizador da mostra Produção Anos 80 e 90.

Instigante em cada centímetro de uma desordenada linha do tempo, a exposição desperta a curiosidade dos olhos e tapa dois buracos de uma vez só. Não entendam mal e não deixem que as impressões enganem. O furo da agenda está notoriamente aproveitado, tanto quanto se houvesse sido planejado tempos atrás. O principal furo que a exposição trata de cobrir é a lacuna histórica deixada até agora. "Quando eu falo da arte pelotense dessa época meus alunos ficam me olhando, não sabem do que estou falando. Mas também, se hoje eles têm 20 anos, naquele tempo estavam nas fraldas..."

Nostálgica para os remanescentes da geração Coca-Cola e surpreendente para a geração que já não se surpreende facilmente diante do inquietante e inquieto mundo contemporâneo, o conjunto de obras é, sobretudo, provocante. Talvez porque de certa forma traduza a gênese do que se vive hoje. Talvez por despertar uma expressão de questionamento parecida com a de uma criança que olha para cima e pergunta "Mãe, de onde é que eu vim?". Ao olhar para esta exposição do Malg, senhoras e senhores de vinte e poucos anos terão certeza de que sua origem é pop: a identidade e identificação com as obras não há de negar que culturalmente falando nasceram dos fecundos anos 80 e 90.

Ali está (bem) representado o ontem. Um passado não muito distante, que é ainda presente e mais vivo que o pretérito-mais-que-perfeito da história das artes, já gasta, tanto para as enciclopédias clássicas quanto para a Wikipédia. "O tempo passou e a gente não viu. A gente fez tanto e não teve tempo de pensar sobre o que fez", reflete Pellegrin, admirado de sua própria (re)descoberta ao passar em revista, mais uma vez, diante dos painéis.
Harly Couto, uma das artistas que fazem parte da exposição, surpreende-se também em frente a pinturas que há tempos não via, mas que continuam familiares, preservadas na memória exatamente como no acervo. "Eu olho e sinto como se estivesse pintando esse quadro na Cascata. Não sei dizer por quê, nem como é. Só digo o que sinto, agora, como quando pintei", diz, ao tentar descrever o indescritível enquanto repousa um olhar reflexivo sobre as telas.


Arte no descontexto pelotense

A história da arte universal dá conta de correntes clássicas, renascentistas, vanguardistas, modernistas, pós-modernistas... Pelotas, como o resto do mundo, não ficou alheia a estes movimentos no espaço e no tempo, muitas vezes de nomes repetitivos por falta de verbetes mais adequados. Mas as influências mais determinantes para a arte daqui foram outras.

Partindo do início dos anos 50, até meados da década de 60, basta um breve retrospecto para o encontro de contrapontos. Enquanto lá fora o mundo vivia a grande explosão chamada de neovanguardismo e mergulhava de vez na abstração, em Pelotas a Escola de Belas Artes - fundada em 1949 - vivia seus tempos áureos e cheios de didáticas, tendo como um de seus principais nomes Aldo Locatelli. "De lá para cá a arte pelotense foi muito inspirada na escola clássica e a gente carrega essa tradição nas costas até hoje na nossa arte moderna", afirma o professor.

Dos anos da ditadura e expressões tímidas ou rebaixadas ao underground aos tempos de abertura política, novas mudanças de postura e linguagem. "Nessa época houve a transição, a Escola de Belas Artes virou ILA (Instituto de Letras e Artes) e depois IAD (Instituto de Artes e Design). Houve algumas manifestações de certa ousadia por parte dos artistas daqui, mas talvez não tenham sido incorporadas no todo."


Em novas dimensões, arte

Nos anos 80 sobrou tempo e dinheiro para ser gasto com arte. Gêneros artísticos que haviam sido dispensados foram retomados, como a pintura e a escultura. Mas a escultura saiu dos pedestais, foi para o chão, as telas deixaram as paredes para ir para a rua e para todos os lugares. "Virou uma arte que não é uma coisa nem outra, mas é isso mesmo", define indefinidamente o professor. Em um mundo onde ficção e realidade estão intrínsecos, os novos artistas não vêem possibilidades de expressar as imagens que fazem do mundo de maneira segmentada. Impossível separar gravura de desenho, de pintura, de escultura. Linguagens diferentes dividem em harmonia espaços com humor, dramaticidade, cultura popular, a liberdade gráfica e a publicidade e todos os demais reflexos dessa geração de consumo. "Enquanto os modernistas do início do século queriam ir para o futuro, no final do século os artistas pós-modernos queriam ir para toda parte."

No fluxo veloz das imagens a proposta é de contrafluxo. "A resistência é se dar conta de que mesmo que eu siga o fluxo não é preciso se submeter a ele nem engolir tudo goela abaixo", fala Pellegrin no convite à um olhar mais apurado sobre o que foi produzido de arte localmente nas duas últimas décadas do século passado.

"Tudo bem que a nossa arte não seja tão moderna assim, nem tão transformadora. Mas ela é boa, feita por artistas que construíram uma bela trajetória. A gente ainda é conservador. Nossa pintura, de certa forma, ainda está pendurada na parede. Mas enfim, é a nossa história. E é de verdade."


Confira

O quê: Produção Anos 80 e 90
Quando: até o dia 12 de outubro, com visitação de terça a domingo das 10h às 19h. Vernissage nesta quarta-feira (8) às 18h.
Onde: nas salas Marina Moraes Pires e Luciana Araújo Renck Reis, do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (rua General Osório, 725)
Entrada franca



Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa| Publicado em: Pelotas, ? de oububro de 2008

Cenários da Infância

Paisagens e personagens inspirados nos livros de história. Cores, muitas cores. Traços singelos feitos com a técnica de quem desconstrói a própria técnica e retoma em desenhos menos elaborados a simplicidade infantil. Esses são alguns dos elementos que estão nas criações de Mônica Praz e Túlio Oliver apresentadas em Infância, exposição do Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas (MAPP) em homenagem ao Mês da Criança. A mostra, que começou sábado, segue até o dia 26 no Shopping Zona Norte.

As pinturas, expostas paralelamente a trechos do Estatuto da Criança e do Adolescente fazem parte da proposta do MAPP de estimular o acesso à cultura, à educação e ao lazer no que diz respeito ao segmento da arte, e que é assegurado pela lei.

Com uma linguagem lúdica, os conjuntos de telas e tapetes procuram retratar o universo infantil para decorar os quartos dos pequenos. "O quarto é o cenário de um período da vida", reflete a arquiteta. Para Oliver, é também uma forma de ensinar o gosto pelas artes. "Oferecer para a criança uma decoração personalizada, feita por artistas daqui, é uma forma de ensiná-las a valorizar esse trabalho artisticamente elaborado e não o que vem de fábrica em modelos padronizados."

Os elementos que decoram os espaços da casa destinados aos pequenos também são bem-vindos em outros ambientes fora dos limites residenciais, onde as crianças estão presentes e precisam se sentir à vontade como consultórios pediátricos e escolas.

"É preciso abandonar a técnica em busca de linhas mais puras", diz o artista plástico e tapeceiro Túlio Oliver sobre o processo de criação. "E também resgatar a suavidade da infância, traduzir essa alegria", completa a parceira neste projeto, a arquiteta Mônica Praz.

Além dos cuidados com as formas e cores, os artistas também se preocupam com as tendências e novidades no mercado de interiores. As tintas são anti-alérgicas e os temas seguem a moda. "Hoje em dia o lilás está em alta. Ninguém quer saber de 'rosinha', embora princesas, fadas e bailarinas ainda façam parte do imaginário infantil. Para os meninos, esportes, fazendinhas, florestas e carros estão entre os temas preferidos", diz a artista, apontando para as principais escolhas feitas geralmente pelas mães, ou pelas próprias crianças.


Confira

O quê:
Exposição Infantil, de Mônica Praz e Túlio Oliver
Quando: até o dia 26 de outubro, com visitação de segunda à sexta das 9h às 19h e aos sábados das 9h às 13h
Onde: no Shopping Zona Norte (avenida Fernando Osório, 20)
Entrada franca


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 6 | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 6 de oububro de 2008

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Espaço reservado para a cultura

Estas linhas pertencem aos movimentos e expressões culturais daqui. As entrelinhas também. Cada imagem, cada palavra, cada ponto e cada vírgula. Em cada pausa, um espaço a mais para refletir a arte, a cultura, a cidade e as pessoas.

Há um ano o Diário Popular lançava a primeira edição do Caderno Zoom, com o propósito de atender uma demanda que sempre existiu: colocar no papel e nas rodas de conversa a farta produção artística de Pelotas e da região. A leitura de segunda a quinta-feira se tornou praticamente obrigatória, hábito prazeroso no cotidiano de muita gente, como a estudante de administração Aline Kochhann, de 23 anos, que chegou de Uruguaiana mais ou menos na mesma época que o Zoom foi lançado. "Eu gosto de saber sobre literatura, ir ao teatro e a outros espetáculos, por isso sempre leio o caderno de cultura do Diário Popular que é um dos únicos lugares onde a gente encontra isso em Pelotas".

As páginas são estações de trânsito por onde passaram artistas consagrados que aqui vieram e nomes próprios, mas desconhecidos, nem por isso menos talentosos.

Por falar em nomes... a primeira capa do Zoom tratava justamente desse tema, às avessas. Em tons de vermelho vivo, falava de anônimos, como prova de que não é necessário renome para ser reconhecido e merecer destaque. O primeiro Salão de Pintores Diletantes, no Museu da Baronesa, inaugurava no dia 2 de outubro de 2007 uma seqüência de cerca de duzentas edições e mais de 1,6 mil páginas reservadas à multiplicidade de expressões, conhecidas e reconhecidas, ou não.

"Em outros lugares, os jornais agem como se estivessem prestando um imenso favor ao divulgar os artistas. Publicam apenas notas. Destaques são raros, e geralmente para os grandes espetáculos 'que vêm de fora'", conta o músico Cardo Peixoto, que hoje vive em Caxias do Sul e fez da valorização dada aos artistas locais pelo jornal pelotense o seu cartão de visitas. "Quando saí de Pelotas, levei comigo uma matéria publicada sobre o meu trabalho no Diário Popular. Era assim que eu me apresentava."


Na pauta

Por aqui os leitores visitaram exposições, pularam o Carnaval antes e em série, em alas, viram os preparativos de cada escola. Passearam por Pelotas e por Satolep na história de Vitor Ramil. Ficaram sabendo de iniciativas e ações voltadas para a educação e para a saúde, relacionadas ao desenvolvimento artístico, sem esquecer dos temas ligados à filosofia e à espiritualidade, entendidas também como fenômenos culturais.

Houve também as entrevistas, os perfis, que deram destaque a pessoas com boas histórias ou opiniões perspicazes a compartilhar. Celso Loureiro Chaves trouxe novos ares às velhas discussões sobre a fortuna deixada de herança por Simões.

Além de apresentar os espaços existentes na cidade, abertos às artes, o caderno Zoom criou também seu próprio espaço diferenciado. Uma galeria sem paredes, um palco de papel. Aqui como nas linguagens contemporâneas, a arte está por toda parte.

Por ver a cultura em tudo, e tratá-la como tema essencial, além do entretenimento muitas vezes visto como fútil, o Zoom procura descontruir a cada dia a idéia de que ao "segundo caderno" devem ficar relegados temas de menor importância.

Nas colunas do caderno também não faltou espaço para questões polêmicas. Quando foi preciso, obras, livros, cenas, personalidades ou músicos deram lugar ao desenrolar de debates, especialmente sobre as políticas culturais do município e o cotidiano da comunidade. O caderno acompanhou discussões, propôs outras.

Os filmes foram morar em outros lugares com o fechamento dos cinemas. Outros segmentos também ficaram sem-teto. A Casa de Cultura ainda não saiu, nem a Lei Municipal de Incentivo à Cultura mas ao menos ninguém pôde esquecer-se delas. O debate continua em pauta.

Enquanto isso, os grupos de teatro continuaram suas cenas, a orquestra continuou seus ensaios, os bailarinos prosseguiram a dança e os pintores não deixaram de colorir. Os produtores independentes também não pararam de escrever roteiros, criar e exibir seus filmes. Tudo segue acontecendo, e cada vez melhor, nos teatros, nas ruas, nas galerias... e nas páginas do Zoom.


A opinião de quem lê e contribui com o conteúdo das páginas do Caderno

"Leio várias vezes todo o jornal, mas geralmente vou da chamada de capa ou da contracapa direto para o Zoom. Ninguém pode se queixar que em Pelotas 'não tem o que fazer'. O Caderno mostra que todos os dias têm opções e como eu gosto desse tipo de atividade cultural, o Zoom fecha bem comigo. Além disso, quando uma exposição é divulgada no Caderno a gente pode ter certeza de que será bem freqüentada. As matérias fazem toda a diferença porque funcionam como mediadoras entre as pessoas e os eventos." Raquel Schwonke

"O Zoom foi um enorme ganho para a cultura em Pelotas. Ler o Caderno acabou se transformando em hábito para quem faz e para quem consome arte e cultura. Eu considero ele hoje um elemento indispensável para a vida cultural na cidade pela importante divulgação das ações, mas principalmente pelas provocações que faz ao desenvolvimento da cultura local." Igor Simões, ator e diretor teatral e representante do Instituto João Simões Lopes Neto

"O Zoom é uma iniciativa primorosa. É excelente a forma como as iniciativas locais são valorizadas nos espaços do Caderno. Já é um trabalho qualificado e tende a melhorar ainda mais." Annie Fernandes, Diretora do Theatro Sete de Abril

"Pelotas tem um espaço para a divulgação da sua produção artística que nem de longe se encontra em outras cidades. Houve momentos em que já ficamos órfãos de páginas especializadas em cultura, mas nos últimos tempos o Diário Popular mudou de postura em relação a isso e hoje trata o assunto com um bom destaque. Há 20 anos trabalhando com isso, todas as pessoas que eu já vi passar pela parte de cultura no jornal tinham conhecimento sobre o assunto, ou correram atrás para aprender. Essa mudança também ajuda a dar uma ventilada." Cardo Peixoto, músico e produtor cultural

"Há muito tempo que a gente clamava por um caderno como o Zoom. É a primeira parte do jornal que eu leio. O meu canal direto com os acontecimentos culturais de Pelotas hoje é o Diário Popular. Só o que sinto falta ainda é de um espaço de crítica mais freqüente. Fora isso, o Zoom mostra que não é um caderno alienado quanto toca em assuntos importantes, como as políticas culturais. Assim ele cumpre o papel de tirar da acomodação os próprios artistas." Berê Fuhro Souto, coreógrafa e bailarina.

"Como promotor cultural e leitor assíduo do caderno eu diria que o Zoom é muitas vezes o ponto definitivo para o sucesso de um espetáculo. A gente confirma no dia-a-dia que ele chama a atenção até mesmo de pessoas que não têm o hábito de participar de atividades culturais normalmente. É uma forma de despertar o interesse da comunidade e contribuir com a formação de platéias." Luis Fernando Parada, gerente do Serviço Social do Comércio (Sesc) em Pelotas

"As matérias de capa do caderno sempre me agradam. O que a gente vê no Diário Popular é justamente a diversidade cultural de Pelotas estampada nas páginas do Zoom. Esse é o espaço onde a gente tem voz e como artistas ficamos feliz quando o nosso trabalho aparece no Caderno. Dá uma sensação de reconhecimento. Além disso ele me estimula a freqüentar outras atividades culturais, fora do teatro. Só acho que o espaço de crítica deveria ser mais rotineiro e a agenda separada por tópicos como 'exposições' ou 'espetáculos'." Adriano de Moraes, coordenador do Núcleo de Teatro da Universidade Federal de Pelotas.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa e Contracapa | Publicado em: Pelotas, Quinta-feira, 2 de oububro de 2008

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Arte sem limite de idade

No palco, a comédia é exemplo de vida. No elenco, pessoas convencidas de que rir - e não se entregar ao ócio - é o melhor remédio para viver bem a fase da vida que começa aos primeiros sinais da idade. Nesse teatro não se sabe se são os atores que dão vida aos personagens ou o contrário.

Quem disse que elas já passaram da idade de "fazer arte"? Para os integrantes do Clube da Maturidade Ativa de Ijuí, "ser velho demais" para qualquer coisa é apenas um desafio que inspira ações há mais de dez anos. O grupo faz parte do projeto do Serviço Social do Comércio (Sesc) para a Melhor Idade e na terça-feira (30) encenou no auditório da Universidade Católica de Pelotas a peça Faustino, releitura regionalista gaúcha inspirada no conto Fausto (de Goethe) e nas adaptações populares do nordeste registradas na literatura de cordel.

"Aqui ninguém reclama da vida, ninguém tem depressão. A gente nem tem tempo pra isso", diz Edith Pockios, que aos 70 anos passa o tempo envolvida com os ensaios do teatro e de dois corais, além das reuniões e atividades sociais. "Tem uma peça em que eu interpreto uma velha caduca", diz ela, que como os outros se diverte no palco e nos bastidores, quando também se ocupa com a produção das apresentações e com os preparativos dos cenários e figurinos.

Problemas de memória? Ninguém tem também. São onze peças no repertório e outra quase pronta para estreiar. Elvira Dalmas, a mais velha da trupe, aos 88 anos tem tanta facilidade para decorar as falas quanto a mais nova, de 54. "Ela lembra as falas dela e a das outras", garante uma das companheiras de elenco. "Eu pego o texto num dia e no outro tô me apresentando. Nunca ensaiei com papel na mão. Decoro fácil porque sempre dei trabalho para o meu cérebro", diz em tom de quem dá um conselho.

O radialista aposentado Valdir Vieira, de 60 anos, é o único homem do grupo. Cercado das faladeiras, ele empresta o vozeirão para o personagem de diabo. "O melhor de tudo é a convivência. Cada vez que a gente sai de casa pra viajar com a peça por outras cidades vai com uma bagagem pequenininha e volta com uma bagagem enorme, cheia de histórias pra contar", fala com alegria. "Como é bom poder dizer, com essa idade, 'eu tô aprendendo'. Dá vontade de fazer mais coisas", confirma. "Assim a gente esquece que está envelhecendo. Minha neta acha o máximo que aos 72 anos eu ainda tenho um 'professor'", completa a colega Sylvia Schoefer.


Diversão e arte

Aos 63 anos, Marlene Drewin revive a emoção que sentia nos palcos da infância. De papéis passados, ela lembra de um que interpretou ainda na escola. "Eu era a moça que temperava a salada e dizia 'essas verduras estão queimadas de sol'", recorda a fala. "Meu marido me dá a maior força pra eu continuar porque ele diz que lembra da primeira vez que me assistiu interpretando essa cena", conta, romântica.

Na interpretação, as vovós e o vovô demostram para a platéia que com o tempo até se pode perder agilidade física ou a cor dos cabelos, mas de forma alguma se perde a graça. "O teatro não apenas faz parte da vida deles. O teatro é a vida. A experiência e a vitalidade que eles têm supera qualquer limitação física", elogia o diretor e professor Alberto Rodrigues, de 44 anos. "Acho ótimo que as crianças tenham vindo assistir também, porque senão fica uma coisa restrita à 'velhos', como costumam dizer por aí. Quando eu comecei, também tinha esse preconceito", admite ele, que aprendeu a conviver pacificamente em uma zona que geralmente é de conflito: o encontro de gerações.

A determinação e o talento do grupo são reconhecidos pela platéia. "Achei lindo! Adorei! Elas são muito simpáticas! Sem contar a força de vontade que elas têm, por serem idosas e fazerem tudo isso", impressiona-se Tamires Fonseca, de 14 anos, que assistiu a peça na companhia dos colegas da escola Nossa Senhora Medianeira e no final fez questão de cumprimentar os atores um a um. "Conheço poucos idosos que são assim, mas também conheço muitos jovens bem menos ativos que esses aqui. Até a gente mesmo é assim, fica um tempão na frente do computador...", entrega a amiga Daiane Ferreira, de 15 anos.


Por um papel na sociedade

Mais importante que os papéis que interpretam no palco é a postura que os idosos ativos assumem diante da sociedade. Tereza Moreira da Silva, de 59 anos, é hoje a presidente do Clube da Maturidade em Pelotas e afirma que a principal responsabilidade do grupo é modificar a idéia de que idoso é sinônimo de cidadão incapaz. "É preciso acabar com o preconceito dos jovens e dos próprios idosos, que muitas vezes resistem a assumir a 'melhor idade'", diz ela, que pretende deixar de herança uma nova consciência para as novas gerações. "Não é justo que a gente fique em casa sem fazer nada quando ainda temos tanto vigor, sem contar a experiência. A sociedade perde a nossa força de trabalho e nós perdemos de viver!".

O diferencial do Clube da Maturidade Ativa, segundo o gerente da unidade do Sesc em Pelotas Luis Fernando Parada, é que é o próprio grupo que se auto gerencia. "Nós do Sesc somos apenas facilitadores, são eles que escolhem o que querem fazer", diz ele, que ainda destaca o cuidado com a terceira idade, antes da maturidade chegar. "Também é uma preocupação desse projeto ajudar as pessoas a se prepararem para envelhecer bem."


Participe, em Pelotas

O Clube da Maturidade Ativa do Sesc, formado há cerca de um ano, reúne cerca de 70 pessoas a partir dos 50 anos de idade. O grupo realiza atividades esportivas, culturais e sociais. Os encontros ocorrem sempre às quintas-feiras, a partir das 14h, no Sesc (rua Gonçalves Chaves, 914). Mais informações pelo telefone 3225-6093.


Assista Faustino em Bagé e Rio Grande

Nesta quarta-feira (1º), a peça Faustino será apresentada em Bagé, às 14h30, no Teatro Justino Quintana. Cada litro de leite vale um ingresso. Toda a arrecadação será repassada aos asilos José e Auta Gomes, e Vila Vicentina.
Na sexta-feira (3) o grupo de Ijuí se apresenta no Theatro Municipal, em Rio Grande, às 17h30min. A entrada é franca, mas aceita-se doações espontâneas de alimentos não perecíveis.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Viva Bem / Páginas Centrais | Publicado em: Pelotas, Quarta-feira, 1º de oububro de 2008