terça-feira, 30 de setembro de 2008

Shakespeare, aqui e agora

Para uns, um reencontro. Para outros, uma oportunidade de se apaixonar à primeira vista pela obra Shakespereana. A primeira Mostra Sesc de Teatro - que trouxe ao circuito pelotense de quarta-feira a domingo oito espetáculos, além de oficinas e workshops - envolveu atores e platéias nas tramas de um dos maiores mestres na arte de fazer rir e chorar.
Lado a lado, o cômico e o trágico. De um lado Shakespeare e do outro também. Foi um prazer ver ou rever, assim tão bem.

A discussão temática foi além. Nada melhor que uma agradável conversa. Muitos assistiram com uma finalidade analista, um olhar estritamente crítico. Há quem foi apenas pelo prazer da apreciação estética, pelo gosto pelas artes cênicas. Em ambos os casos, quem esteve no Sete de Abril ou nos demais locais que abrigaram a programação teve motivos para sair satisfeito.

A sátira de temas cotidianos, a reflexão intimista, a análise das complexas relações humanas são ainda tão presentes e dizem tanto à realidade atual que não são necessárias mais que adaptações sutis para que se pense que tal texto possa ter sido recém-concebido. Por isso, diz-se "clássico".

Porém um bom espetáculo se faz de um bom texto, mas não apenas disso. A qualidade técnica e interpretativa, e a emoção dos atores escancarada no palco deram nova vida à Shakespeare e a seus personagens, em releituras excelentes e minuciosamente bem cuidadas. Contemporâneas e arejadas, as peças ganharam também personalidade. Hamlets, Antífolos, Drômios, Valentinos e Proteus assumiram uma vida própria e jamais serão iguais àqueles que foram vistos em Pelotas na semana que passou. Foram, sem dúvida, apresentações únicas. Variações criativas e atuais para personagens que em essência ainda falam muito a qualquer público.

Merece destaque o incentivo dado pelos organizadores às produções locais, que valoriza e oferece crédito a um trabalho que começa a se desenvolver. O Núcleo de Teatro da Universidade Federal de Pelotas, que contribuiu para enriquecer a programação da Mostra, demonstra que vem adquirindo maturidade, e apresentou um bom trabalho mesmo ao lado de elencos consagrados, como os grupos Nós do Morro, do Rio de Janeiro, e as companhias Rústica, Santa Estação e Stravaganza, de Porto Alegre.

O êxito do projeto vem a confirmar a qualidade dos eventos culturais realizados pelo Sesc Pelotas. A Mostra de Teatro foi mais um, de tantos grandes e bons espetáculos a que o público pelotense tem tido a oportunidade de assisir. Merece ser aplaudido de pé. Merece bis.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Terça-feira, 30 de setembro de 2008

Lugar de mulher... é na arte

Uma história mal-contada. Raras vezes lembradas nas coleções e historiografias oficiais da arte universal, as mulheres reivindicam seu espaço, no passado e no presente. O assunto foi o mote da palestra de abertura do Simpósio sobre Gênero, Arte e Memória (Sigam), que começou ontem no Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas (ICH/UFPel). O evento que pretende discutir a presença feminina nas artes e na filosofia continua até amanhã (1º de outubro).

"Esses vazios na história da mulher na arte é um tipo de silêncio ruidoso, e também uma forma de representação, uma tomada de posição ao lado de quem já detém a legitimidade", analisa Luciana Loponte, doutora em arte e educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O reconhecimento no meio artístico é para poucos, e geralmente para aqueles que pertencem a um perfil pré-determinado. "Os que são considerados 'gênios da arte', normalmente se enquadram no estereótipo de homens, brancos, europeus. Todos mortos", analisa. "À mulher é reservado o papel de musa, de objeto da representação e quase nunca o de agente criador. As mulheres se expõem. Os homens expõem as mulheres."

À crítica, soma-se a concepção de mito de democracia de gênero. O fato de haver mais mulheres envolvidas com a arte contemporânea por si só não garante, segundo a pesquisadora, que haja maior discussão sobre o tema. "Porque as mulheres estão em toda parte não quer dizer que o discurso tenha deixado de ser 'generizado'. As pessoas não vêem mais sentido em falar de feminismo, como se todas as questões estivessem superadas", diz a professora, que é ainda mais enfática: "Só citar Tarsila (do Amaral) e (Anita) Malfat não basta para reconhecer a participação da mulher na arte brasileira".


Recortes contemporâneos

Pouco privilegiada no aprendizado das artes, ou com acesso limitado aos ambientes próprios, ditos "femininos", as mulheres ficaram relegadas a fazer desenhos e pinturas com temas amenos. Flores, frutas, natureza morta. Entre as que se permitiram "manobras radicais" ou "discretas ousadias", rompendo com barreiras de estilo ou inovando na temática, a pesquisadora mostra que a arte, assim como a política, é uma esfera de poder. A gente olha para a coisa e a coisa também nos olha.

Para Luciana Loponte, que faz coro a recentes linhas de pensamento, é preciso estudar as conseqüências dessa troca. "As mulheres se conhecem apenas por imagens feitas por homens e não por elas mesmas. Não que a visão dos homens seja falsa, mas é preciso deslocar o olhar que estamos acostumados, diversificar o ponto de vista."

Quando se busca e se encontra, nas lógicas sutis - fora da historiografia oficial - a presença feminina no contexto cultural predominantemente masculino, os exemplos mostram que a diferença está na cara, bem diante dos olhos. Um mesmo episódio diplomático - a Independência do Brasil - parece dois fatos distintos nas leituras de Pedro Américo (O Grito do Ipiranga, 1888) e de Georgina de Albuquerque (Sessão do Conselho do Estado, 1922). A diferença é o foco. No segundo, a protagonista, representada em primeiro plano, é a Imperatriz Leopoldina, enquanto no primeiro a figura heróica é representada por Dom Pedro I. "Pela primeira vez a mulher era colocada como a principal na cena. Apesar do estilo acadêmico de pintura ser mantido, Georgina ousa representar um assunto político, e faz isso de forma diferenciada."

Para a pesquisadora, a importância de se duvidar das convenções não é apenas uma questão de corrigir uma injustiça histórica, que se perpetua nos dias atuais. "É preciso entender como os processos de representações e o ato de olhar para a arte se relacionam com as condições com que os homens e mulheres olham, na vida", conclui, ao citar a pensadora Michelle Perrot.


Confira

As palestras ocorrem às 14h e às 19h no auditório da Faurb/UFPel (rua Benjamin Constant, 1359) e as comunicações das 16h às 18h nas salas do Instituto de Ciências Humanas da Faculdade de Educação (ICH/Fae/UFPel), na rua Alberto Rosa, 154. As comunicações são abertas ao público e têm entrada franca para ouvintes (sem certificado). Para assistir às palestras é preciso efetuar a inscrição no evento, que custa R$ 15,00.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Terça-feira, 30 de setembro de 2008

[Clique na imagem para visualizar em maior resolução.]
* Isto não é um post pago. Anuncie aqui.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Estudos Budistas


[Clique na imagem para visualizar em maior resolução.]

* Isto não é um post pago. Anuncie aqui.

Questões de gênero - Programação

Programação SIGAM - Simpósio sobre Gênero, Arte e Memória

Segunda-feira
14h - Palestras
- Mulheres e artes visuais no Brasil: veredas e memórias descontínuas
- Donas da Beleza - a imagem feminina pelas artistas plásticas do século XX

16h - Comunicações
Eixo temático: artes, gênero e memória (sala 101 - ICH)
- A Poética da Dor: Maria, Frida e Camille
- Nazareth Pacheco: dor e encantamento
- Mãos que batucam: os casos de três Tamboreiras de Nação do extremo sul brasileiro
- A Docência na Literatura de Érico Veríssimo: um estudo do romance Clarissa

Eixo temático: educação, gênero, arte e memória (sala 103 - ICH)
- Contribuições do universo artesanal da cerâmica à formação dos professores de arte
- Uma experiência no ensino das artes visuais revisitada através da "lousa mágica"
- Meditações entre história de vida, letramento e gênero: a história de Sônia à luz do meu olhar de hoje
- Mulheres, adolescentes e grávidas...

Eixo temático: história, gênero, arte e memória (sala 134 - ICH)
- Os homens vivem, as mulheres esperam: as relações de gênero na obra Presença de Anita
- Crimes de defloramento nos anos de 1920-30: dentro dos processos jurídicos da 2ª Vara Civil de Soledade-RS
- Costurando vidas: os itinerários de Ana Aurora do Amaral Lisboa (1860-1951) e Júlia Malvina Hailliot Tavares (1866-1939)
- O tecido que cobriu as mulheres artistas durante a Idade Média: finas amarras de opressão

19h - Conferência de Abertura
- La 'razón poética' como discurso femenino del exilio en el pensamiento de María Zambrano
- A Caixa de Pandora - arte e pensamento feminino no século XX

Terça-feira
14h - Palestras
- Estudos de Gênero em Música: Panorama e duas musicistas brasileiras
- As noções de desejo e erotismo no 'ku torno das batucadeiras de São Martinho Grande (Ilha de Santiago - Cabo Verde)

16h - Comunicações
Eixo temático: artes, gênero e memória (sala 101- ICH)
- A representação romântica e contemporânea de Lucrécia Bórgia
- Lucrécia Bórgia sua Imagem no Renascimento
- Arte das cidades-estados na África Ocidental
- Problematizando as relações de gênero através do teatro-fórum: reflexões acerca de uma prática na escola

Eixo temático: filosofia, gênero e memória (sala 134 - ICH)
- Os Incríveis: disciplina, gênero e normalização
- Mulher e o infanticídio: uma abordagem sobre gênero e as relações de poder
- As mulheres e Maio de 68

Eixo temático: educação, gênero, arte e memória (sala 103 - ICH)
- O movimento feminista e os denominados novos movimentos sociais: breves apontamentos e registros a partir do olhar da filosofia (da educação)
- Educação e gênero: a não escolaridade de quatro mulheres da zona rural
- Memória, pós-modernidade e educação
- Educação e gênero: Os "Collegios Femininos Privados" e as "Aulas Particulares" como campo de trabalho das mulheres, em Pelotas-RS (1875-1890)
- Um passeio sobre as questões de gênero e sexualidade na Coleção Galeras, Paqueras (Cathy Hopkins)

19h - Palestras
- Narrar processos: mulheres e criatividade visível
- Deusas (Im)perfeitas ou apenas mulheres?


Quarta-feira
14h - Palestras

- Clarice Lispector e esses vestidos colados no corpo: sobre gêneros e faceirices
- Movimentos feministas da década de sessenta e suas conseqüências diretas na arte contemporânea
- Lembrar do tempo através dos olhos das mulheres: memória da fotografia em histórias de fotógrafas

16h - Comunicações
Eixo temático: artes, gênero e memória (sala 132 - ICH)
- Camille Claudel: sofrimento e angústia rompendo a modernidade
- A escultura de Maria Martins nos anos 40
- A artista brasileira no mercado de quadrinhos
- A germanidade no feminino: representações da mulher de origem alemã no Musterreiter´s neuer historischer Kalender (Novo Almanaque Histórico dos Caixeiros-Viajantes)

Eixo temático: filosofia, gênero e memória (sala 212 - ISP)
- Natalidade: a esperança de um novo começo
- Res Publica e Liberdade em Hannah Arendt
- O conceito de poder em Hannah Arendt e o pensamento político contemporâneo

Eixo temático: história, gênero, arte e memória (sala 245 - FaE)
- Contribuições de escritoras na "Revista do Globo": Porto Alegre-RS (1929-1939)
- Imprensa feminina no sul do Brasil: Corymbo, 21 de outubro de 1939
- Mulher e gênero: sua presença nos partidos políticos e na eleição municipal do ano 2000 em Pelotas

19h - Palestras
- O Feminino na Literatura

Questões de gênero

Grupo de estudos da UFPel coloca em pauta o feminino nas artes e na filosofia

O mito grego de Pandora é a inspiração para o grupo de mulheres pesquisadoras dos cursos de artes, filosofia e ciências sociais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e mote para o ciclo de palestras e debates que começa hoje (29) e vai até quarta-feira.

O Sigam - Simpósio sobre Gênero, Arte e Memória pretende colocar em discussão a contribuição feminina para o pensamento moderno, a partir de trabalhos realizados na UFPel e em outras universidades do Estado como a UFRGS, a Unisinos e a Furg e a UBA, da Argentina.

Nos mais de 30 trabalhos e 12 palestras, quase todos os autores são autoras. A visão das mulheres sobre as próprias mulheres só não é diversificada em relação ao gênero porque eles ou não se arriscam a tentar compreender esse universo ou não têm interesse. No grupo de estudos da UFPel "Caixa de Pandora", que desenvolve pesquisas desde abril do ano passado sobre mulheres artistas e filósofas do século 20, apenas um professor preenche a exceção. "Os homens não se interessam muito pelos assuntos relacionados à mulher, ou se sentem intimidados", palpita a estudante Daniela Azevedo.

Em pouco tempo de trabalho, elas já se surpreenderam com as descobertas que serão apresentadas durante o Simpósio. "Pouco se tem idéia da produção artística e filosófica feminina, que no entanto sempre existiu".


As aparências enganam

Apesar do que se possa supor, as meninas evitam falar em "discurso feminista", pelo menos no que se refere à idéia de que a mulher é superior e totalmente independente aos homens. "Há um problema conceitual em relação a esse termo", considera uma das integrantes que explica a intenção do Simpósio de buscar a valorização de forma igualitária entre ambos os gêneros. "A temática é apenas um pano de fundo. Mais importante que o fato de serem mulheres, é a contribuição que cada uma delas para o mundo."

"Historicamente a mulher é entendida como o pólo negativo, a parte fraca, vulnerável, ardilosa, ou como o lado pecador", analisa outra pesquisadora. Na tentativa de romper com esse dualismo que consideram preconceituoso, elas contra-atacam e assumem a imagem construída pelo senso comum para contestá-la. Abrir a Caixa de Pandora - aquela que contém todos os males do mundo - significa para elas principalmente despertar a curiosidade para lugares desconhecidos das artes e do pensamento. Ou, como diz Daniela, quer dizer, "então tá: somos a Caixa de Pandora e agora vamos abrí-la para mostrar ao mundo o que é que tem lá, afinal". O convite a participar é, portanto, para quem deseja (tentar) ao menos conhecer (se não for possível compreender) o desconhecido universo feminino.


O gênero na cena

O Núcleo de Teatro da UFPel irá participar nos intervalos da programação (diariamente às 18h30) com intervenções no saguão da Faculdade de Urbanismo (Faurb/UFPel). "Vamos apresentar uma série de cenas curtas abordando a mulher e suas questões de trabalho, afetividade e principalmente políticas", adianta o coordenador do Núcleo, Adriano de Moraes. "Mas a gente não sabe exatamente como vai ser", confessa, revelando o tom de improviso que terão as montagens.


Confira

As palestras ocorrem sempre às 14h e às 19h no auditório da Faurb/UFPel (rua Benjamin Constant, 1359) e as comunicações das 16h às 18h nas salas do Instituto de Ciências Humanas da Faculdade de Educação (ICH/Fae/UFPel), na rua Alberto Rosa, 154. As inscrições custam R$ 15,00.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 29 de setembro de 2008

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Nenhum de Nós fará a abertura da Quinzena


[Clique na imagem para visualizar em maior resolução.]
* Isto não é um post pago. Anuncie aqui.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A popularidade e o requinte do violão

Conservatório de Música da UFPel traz a Pelotas o Quarteto Maogani com o repertório de Impressão de Choro

Conhecido pela criatividade e por interpretações delicadas como a música erudita e espontâneas como a música popular, o Quarteto Maogani realiza nesta sexta-feira concerto em homenagem aos 90 anos do Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas. No grupo camerístico, os músicos Paulo Aragão, Marcos Alves e Carlos Chaves são acompanhados de Maurício Marques, prata da casa.

Graduado pela UFPel em 1998, ele ingressou no quarteto em 2005 e faz parte da terceira formação do Quarteto. Marques vive em Viamão, onde trabalha como professor e arranjador. Os outros três componentes moram no Rio de Janeiro e também desemvolvem atividades paralelas.

A criação dos arranjos - quesito que mais chama atenção na produção fonográfica do grupo - é feita "na ponte aérea" ou via Internet. Os ensaios ocorrem no caminho, e assim já se vão 13 anos de estrada. Na bagagem, prêmios importantes como o Prêmio Tim de Música (2005), Prêmio Rival BR (2004) e o Prêmio Caras (2002), além do reconhecimento de ser um dos grupos instrumentais mais conceituados da música popular brasileira na atualidade, aqui e no exterior.

No mais recente trabalho, Impressão de Choro, eles apresentam composições do ritmo que é considerado uma das maiores referências da MPB, em um espetáculo que já foi assistido por platéias da Itália, Alemanha, Colômbia, Equador, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Daqui, segue para Jerusalém antes de retomar a turnê pelo Brasil. No repertório, poderão surgir também "algumas bossas", adianta Marques, gravadas no álbum anterior, feito em homenagem a Tom Jobim.


A MPB passa pelas cordas

"O violão consegue ser popular até mesmo entre a música erudita, ele se identifica em qualquer espaço", assegura o músico. Mas, quem diria, não faz muito tempo que o instrumento era mal-visto e considerado "chulo" pelas elites do passado. Hoje, entra pela porta da frente nos teatros e conservatórios. Se precisar dividir espaço, sente-se à vontade ao lado de flautas, pianos e violinos. Sonho pré-modernista do velho Policarpo Quaresma e de Lima Barreto - personagem e autor - finalmente realizado: a essência da Música Popular Brasileira finalmente vibra sem receios no dedilhado das cordas do violão, no meio urbano em ritmo do choro, ou no embalo das serestas e outros estilos regionais do interior.

"Alguém viu por aí um pianista com seu piano embaixo do braço?", pergunta Marques, e ele mesmo responde: "Deve ser por isso que o violão - uma pequena orquestra portátil, como dizem alguns - chega a todos os lugares". A afirmação tem fundamento. Não é apenas uma questão de acessibilidade física. É cultural. Apesar da ascensão, puxada por nomes como Baden Powell, Raphael Rabello e Canhoto, o violão não esqueceu de onde veio, depois que se tornou "nobre". Ainda está nas serestas de viola caipira (antecessora do violão), ao lado do banquinho nos bares ou nas ruas, nas mãos de hippies, índios, andantes... É e continua sendo versátil e indiscutivelmente popular.


Prestigie

O quê:
Recital de Violões com Quarteto Maogani
Quando: amanhã (25), às 20h
Onde: no Conservatório de Música da UFPel (rua Félix da Cunha, 651)
Ingressos: podem ser trocados no local por um quilo de alimento não perecível. As doações serão em benefício do Banco de Alimentos Madre Teresa de Calcutá.


Prática
No sábado (27) o Quarteto realiza masterclass para violonistas e grupos de câmara, das 10h ao meio-dia no Conservatório de Música com entrada franca.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Portas abertas para novas histórias

Endereço fixo da noite pelotense, o Rua XV reabre suas portas hoje (24), depois de cerca de dois meses de férias. A reinauguração recoloca no calendário de festas fora dos finais de semana as tradicionais Segunda Sem Lei (com animação de Cacá Borges e microfone livre a noite toda) e a Quarta Universitária.

Localizado na rua Félix da Cunha, o bar e restaurante que completa 15 anos de funcionamento em outubro recebeu esse nome em homenagem à boemia. "A rua 15 de Novembro era o grande point na época áurea da noite pelotense. Era ali que tudo acontecia", explica o proprietário André Rheingantz.

A casa de arquitetura antiga e interior aconchegante, desde o princípio foi decorada com elementos que relembram o passado da cidade. Placas, luminárias, fotos e recordações de quem "é de casa" ou de personalidades que já marcaram presença por ali dão toques descontraídos ao ambiente. "O Rua XV faz parte da história de vida de muita gente. Até casamento já aconteceu aqui. Quantas pessoas se conheceram, fizeram amigos... É nesse clima de reencontro que estamos voltando", reflete Rheingantz.

O tempo em stand by serviu para alguns retoques na pintura e na decoração, reparos na estrutura da cozinha e revisão da programação de festas e shows. Sem grandes reformas, o Rua XV continua praticamente igualzinho, tal qual é conhecido pela clientela.

A cozinha mantém a linha de petiscos para o happy hour e os campeões de pedido como o Peixe do Rabo, o Camarão Iemanjá, as Costelas do Barão e o Picado do Bar. A novidade são as opções de pratos do Tele Chef, que antes eram servidos exclusivamente a domicílio e que foram incorporados ao cardápio, como o filé à parmegiana com spaghetti e o colchão alemão com purê de aipim, sugestões da casa.

As principais atrações de hoje são a banda Black Bird e DJ Sócrates, com um variado repertório dos anos 70, 80 e 90. Universitários com carteirinha estudantil ganham uma Polar.


Serviço

O Rua XV funciona sempre a partir das 20h, segundas e quartas com festas e de quinta a sábado exclusivamente como restaurante. O endereço é rua Félix da Cunha, 555 e telefone 3025-5515. Nesta quarta, até a meia noite eles pagam R$ 10,00 e elas R$ 8,00.


Tele Chef
Para informações sobre este serviço consulte www.telechefbrasil.com.br ou ligue 3222-6000.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Quarta-feira, 24 de setembro de 2008

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Nós do Morro abre mostra shakespeareana

Para nobres e plebeus, começa amanhã uma maratona de cinco dias para se ver, ouvir, sentir e debater Shakespeare. Através do projeto Arte Sesc - Cultura por toda parte, o Serviço Social do Comércio traz à Pelotas cinco espetáculos com grupos de Porto Alegre e do Rio de Janeiro. A Mostra Sesc de Teatro terá ainda três apresentações do Núcleo de Teatro da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), uma oficina e um workshop para atores.


Seguindo a tendência estética da linguagem cênica contemporânea, as montagens colocam o ator no centro da obra e dão vida nova aos textos clássicos escritos há cerca de 400 anos. Não que Shakespeare algum dia tenha ficado ultrapassado. "Ele é sempre visceral. As questões que ele aborda não tem época, não tem país", reafirma Guti Fraga, diretor do grupo carioca Nós do Morro, que abre a Mostra amanhã à noite.

No palco do Sete de Abril a trupe irá encenar a mesma peça - Os dois cavalheiros de Verona - que há dois anos é encenada em favelas do Rio de Janeiro, em várias partes do país e nos palcos de Stratford, Inglaterra, casa do mestre da dramaturgia, para onde retornam após a passagem por Pelotas em uma nova temporada de apresentações em Londres. "Lá, por mais contemporâneos que eles sejam, ainda são também muito tradicionais", comenta o diretor que não teve medo de parecer moderninho demais frente à platéia conservadora. "O texto pede essa irreverência brasileira, tem tudo a ver e deu certo", afirma, sobre a mistura que volta a popularizar a linguagem shakespeareana e procura, ao mesmo tempo, não ferir a essência dos temas universais clássicos.

"A gente vive nessa eterna reciclagem, busca por novos estímulos. O grande barato é poder experimentar, isso não tem problema, desde que não descaracterize aquilo que o autor quis passar", opina Fraga, que garante não ter mudado uma linha do texto original nesta montagem. "O roteiro é impecável, tem coisas que só Shakespeare seria capaz de dizer", diz ele, que joga nas mãos dos atores a responsabilidade de fazer pulsar as obras.

A comédia romântica traz mais um dos triângulos amorosos shakespereanos, este vivido na corte de Milão por Valentino, Proteu e Sílvia, filha do Duque. Na trama de paixão, ciúme e traição, o plano armado por Proteu é atrapalhado por uma quarta personagem, Júlia, mulher com quem tinha prometido se casar antes de deixar Verona, que travestida de homem vai desmascara-lo.

As particularidades da montagem ficam por conta do figurino, que sai do próprio cenário, com tecidos que assumem funções múltiplas, e da trilha sonora dos prólogos, que mistura ritmos como xote, funk, balanço, samba, repente, rap e capoeira.


Agende-se:

Quarta-feira (24)
Os dois cavalheiros de Verona
Grupo Nós do Morro (Rio de Janeiro)
20h - Theatro Sete de Abril

Variações sobre um mesmo Hamlet
Núcleo de Teatro da UFPel (Pelotas)
22h - Rua Andrade Neves, esquina com a Lobo da Costa

Quinta-feira (25)
A tempestade e o mistério da ilha
Cia. Santa Estação (Porto Alegre)
14h - Theatro Sete de Abril

Máscara Hamlet
Núcleo de Teatro da UFPel (Pelotas)
22h - Rua Andrade Neves, esquina com a Lobo da Costa

Sexta-feira (26)
Sonho de uma noite de verão
Cia. Rústica (Porto Alegre)
20h - Theatro Sete de Abril

Ofélia
Núcleo de Teatro da UFPel (Pelotas)
22h - Rua Andrade Neves, esquina com a Lobo da Costa

Sábado (27)
A megera domada
Cia Rústica (Porto Alegre)
20h - Theatro Sete de Abril

Domingo (28)
A comédia dos erros
Cia Stravaganza (Porto Alegre)
20h - Ginásio do Colégio São José


Ingressos

À venda no Sesc e na bilheteria do Theatro Sete de Abril de acordo com os seguintes valores:

R$ 10,00 para o público em geral
R$ 5,00 para idosos e estudantes (mediante apresentação de carteirinha)
R$ 3,00 para comerciários e a classe artística
R$ 1,00 para crianças até 12 anos

* Os espetáculos do Núcleo de Teatro da UFPel têm entrada franca. As senhas estão disponíveis no local (rua Andrade Neves, esquina com a Lobo da Costa).


Práticas

Quinta-feira (25)

Workshop - Formação do Ator-Criador
Grupo Nós do Morro (Rio de Janeiro)
19h - Theatro Sete de Abril

Sábado (27)
Oficina - Desmontando Shakespeare
Cia. Rústica (Porto Alegre)
das 10h às 17h - Teatro do Cefet


* Inscrições para as práticas podem ser feitas no Sesc (rua Gonçalves Chaves, 914) e o valor de cada uma delas é de R$ 25,00. As vagas são limitadas.


Texto: Bianca Zanella | Imagem: Divulgação | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Terça-feira, 23 de setembro de 2008

Freak e Ronaldo Pedra premiados em festival estadual

Músicos pelotenses venceram três das principais categorias do Sesi Descobrindo Talentos

Anunciada para o final do ano no litoral norte gaúcho, a final estadual do prêmio Sesi Descobrindo Talentos - promovido pelo Serviço Social da Indústria - foi antecipada. Assim, bem antes do que esperavam, os músicos da banda Freak Brotherz e Ronaldo Pedra foram premiados no festival.

A Freak, com a música Dentro da Idéia, venceu a categoria aberta à comunidade e o baterista Clovinho Motta ficou com o troféu de melhor instrumentista. Ronaldo Pedra, com a canção Amor pode ser assim, e foi consagrado mais uma vez como o melhor intérprete do festival, repetindo o feito da etapa eliminatória realizada em Pelotas.

A semi-final regional ocorreu no mês de julho, em Rio Grande. Na ocasião, por uma falha na interpretação do regulamento, os três pré-selecionados pelotenses se classificaram para a final, quando na verdade poderiam ter se classificado apenas dois. Wagner Lopes, que concorria com a música Filhos do nada, não pôde ir à Erechim. Como ficaram sabendo na última hora da mudança de data, alguns músicos da banda não puderam viajar à tempo.

Dione Silveira, músico que acompanhou Ronaldo Pedra nas duas primeiras etapas, também não pôde comparecer à final em função de outro compromisso. "Acho que isso me prejudicou um pouco porque tive que fazer voz e violão sozinho e a música perdeu em arranjo e melodia. Com ele a apresentação teria sido mais interessante", lamentou o músico, embora esteja satisfeito com o reconhecimento que conquistou. "Ser considerado o melhor intérprete entre 19 já é sem dúvida muito bom."

Dessa vez, os participantes de Pelotas não puderam contar com a torcida, que havia comparecido em peso na etapa disputada em Rio Grande. "Todo mundo ficou sabendo na última hora. Tivemos que jogar tudo pro alto pra poder ir", disse o vocalista da Freak Brotherz Danilo Ferreira. Para ele, a postura no palco fez a diferença na escolha dos jurados. "Acho que a maturidade conquistada em 10 anos de banda pesou bastante", comentou ele que também destacou a produção: "o figurino à caráter, ou melhor, mal caráter cedido pelo Brick e Brechó Abracadabra que a gente adotou desde a gravação do clipe foi outro ponto forte", lembrou em tom descontraído, não dispensando o merchandising.


O que disse a organização

Representantes do setor de Lazer do Sesi em Porto Alegre informaram que a data e o local da final do festival (20 de setembro, em Erechim) não foi alterada, e que havia sido amplamente divulgada desde as primeiras etapas classificatórias. Segundo eles, houve engano por parte das unidades regionais.

Os porta-vozes do Sesi em Porto Alegre não souberam informar o resultado oficial do Festival e justificaram que a lista ficou sob a responsabilidade dos funcionários de Erechim, que como trabalharam no final de semana estavam de folga ontem e não foram localizados. Os nomes, porém, devem ser divulgados em breve no site da instituição.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Terça-feira, 23 de setembro de 2008

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Teatro Shakespeareano

[Clique na imagem para visualizar em maior resolução.]
* Isto não é um post pago. Anuncie aqui.

Simões e as Artes

Mboitatás, Teiniaguás e Negrinhos sairam dos livros e do imaginário de artistas para as telas, objetos, gravuras, desenhos, fotografias e esculturas. Ao todo foram homologadas 73 obras, de várias cidades do Estado, na 1ª edição do Prêmio João Simões Lopes Neto de Artes Visuais, das quais 11 são finalistas.

Na opinião de Igor Simões, um dos organizadores do projeto, "o Prêmio já cumpriu com seus objetivos de valorizar a diversidade da produção gaúcha de arte contemporânea e de motivar a comunidade artística a dar novos sentidos à obra simoniana".

A lista de obras selecionadas, fechada pelo júri na sexta-feira, será anunciada oficialmente hoje à noite, no auditório Carlos Reverbel, quando toma posse a nova diretoria do Instituto João Simões Lopes Neto (IJSLN) eleita para o triênio 2008-2011.

Henrique Pires, que assume o cargo de presidente ocupado por Paula Mascarenhas desde 1999, destacou o financiamento da Lei Estadual de Incentivo à Cultura como item fundamental para a realização do Prêmio. "Esse é um exemplo de que a LIC, quando bem utilizada, é extremamente saudável para quem produz e aprecia cultura e arte, especialmente no interior" afirmou ele, que já considera a realização de uma 2ª edição do prêmio.

As obras selecionadas serão expostas na Galeria de Arte do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Pelotas (IAD/UFPel) a partir do dia 21 de outubro, quando será anunciado o ganhador do prêmio principal no valor de R$ 6 mil e das cinco menções honrosas no valor de R$ 1,5 mil cada.

O projeto realizado pela Ato Produção Cultural tem o patrocínio da Braskem e da Copesul, via financiamento da Lic, e conta com o apoio das empresas com o selo Amiga do Instituto: Colégio Gonzaga, Livraria Vanguarda, Construtora Theo Bonow e Caixa Econômica Federal. Pires pretende agora buscar outras parcerias para viabilizar a itinerância da mostra pelo Rio Grande do Sul.


Artistas selecionados
Elton Manganelli (Porto Alegre)
Pauline Trecha (Canguçu/Pelotas)
Isabel Miranda Ramil (Pelotas)
Ricardo de Pellegrin (Pelotas)
João Genaro (Pelotas)
Rodrigo Lobato Schlee (Pelotas)
Adrian Nornberg dos Santos (Pelotas)
Kátia Costa (Cristal/Porto Alegre)
Luci Sgorla de Almeida (Porto Alegre)
Ana Paula Barcelos (Pelotas)
Jane Machado (Porto Alegre)


Conheça os jurados

Aldyr Schlee - escritor, responsável pela revisão crítica da obra de Simões
Mário Mattos - vice-presidente do IJSLN, artista plástico, estudioso da obra simoniana e biógrafo do escritor
Angela Pohlman - doutora em Artes Visuais e professora de Gravura do Instituto de Artes e Design (IAD/UFPel)
Marta Freitas - doutora em Artes Visuais e professora de Escultura do IAD/UFPel
Nicola Caringi - mestre em Artes Visuais e professora de Estética e Cultura Brasileira do IAD/UFPel
Luciana Vianna - ex-diretora de Artes Visuais da Secretaria Municipal de Cultura (Secult) e professora de Teoria da Arte do curso de Moda da Universidade Católica de Pelotas (UCPel)
Daniela Palazzo - professora do curso de Moda da UCPel, formada em Artes Visuais e pós-graduada em Arte
Henrique Pires - representante do IJSLN e diretor do departamento de Arte e Cultura da UFPel


Conselheiros serão conhecidos hoje

Ao lado de Henrique Pires, tomam posse hoje o escritor e fundador do Núcleo de Estudos Simonianos Mário Mattos, que se mantém no cargo de vice-presidente do Instituto, Marley Poeta e Alda Maria Jaccottet - como primeira e segunda secretárias -, além de Vítor Azubel e Ramão Marques Costa, na função de tesoureiros. Paula Mascarenhas, que deixa a presidência, assume uma cadeira no Conselho do IJSLN, privilégio que abre precedente para que todos os ex-presidentes venham a fazer parte do grupo, ao deixarem o posto de executivos. Uma urna ficará disponível aos associados a partir das 18h30min na sede do Instituto para a eleição dos outros quatro conselheiros.

"A cerimônia será simples, tem hora para começar e hora para acabar. Assim vai dar tempo para as pessoas saírem a tempo de assistir ao concerto no Conservatório de Música", sugere. Mais informações sobre esta apresentação musical na página 6 do Caderno Zoom.


Participe

O quê:
Cerimônia de troca de diretoria do Instituto João Simões Lopes Neto e anúncio dos finalistas do Prêmio de Artes Visuais
Quando: Hoje (22), das 19h às 20h
Onde: Auditório Carlos Reverbel, na sede do Instituto João Simões Lopes Neto (rua Dom Pedro II, 810)


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 21 de setembro de 2008

Quarteto de Sopros da Amazônia apresenta Villa-Lobos

O Serviço Social do Comércio (Sesc) apresenta hoje, a partir das 20h no Conservatório de Música da UFPel o Quarteto de Sopro da Orquestra Amazonas Filarmônica, com composições de Heitor Villa-Lobos. O concerto faz parte da programação do projeto Sonora Brasil e Arte Sesc - Cultura Por Toda Parte.

Composto pelos instrumentistas Cláudio Abrandes (flauta), Ravi Shankar (oboé), Vadim Ivanov (clarineta) e Romeu Rabelo (fagote), o grupo pretende interpretar o repertório camerístico de música brasileira para esta formação e suas variantes, de solos, duos ou trios, pouco conhecidas do grande público.

Todos os integrantes do quarteto atuam nos palcos do Brasil e do exterior. Cláudio Abrantes e Vadim Ivanov tocam juntos na Orquestra Amazonas Filarmônica, aprovados em concurso internacional desde que foi criada em 1997. A eles juntou-se Ravi Shankar como músico convidado da Amazonas Filarmônica no 12º Festival Amazonas de Ópera, realizado este ano, e finalmente Romeu Rabelo, convidado especialmente para participar da terceira etapa do projeto Sonora Brasil, do Sesc. Pelotas é uma das 63 cidades, de 19 estados do Brasil, que irão receber o espetáculo.

sábado, 20 de setembro de 2008

Quinzena Gastronômica apresenta Roupa Nova


[Clique na imagem para visualizar em maior resolução.]
* Isto não é um post pago. Anuncie aqui.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

50 Anos de Boemia

A fachada estreita com janelas enfeitadas de cortinas vermelhas com bandôs de rendas brancas e os dois lances de escada são símbolos da Pelotas noturna e dos finais de tarde de domingo. Se os degraus do Sobrado falassem, certamente teriam muito o que contar. Mas como não falam, são os seus quase sócios mais assíduos os porta-vozes da história, que completa hoje 50 anos.

O Sobrado abriu as portas pela primeira vez em 19 de setembro de 1958 como restaurante e já naquela época se tornou um dos pontos mais freqüentados da sociedade pelotense. Os almoços e jantares dançantes eram transmitidos ao vivo pela TV Tuiuti que funcionava ali perto, na rua 15 de Novembro.

O proprietário era Moacir Noronha, um homem grande, como descrevem os que o conheceram, e que tinha uma forma bastante peculiar de impor a disciplina no ambiente: "Sempre que alguém se 'se passava' o Noronha arrumava a gravata. Aquele era o sinal que todo mundo conhecia para a banda parar de tocar e aí o cidadão já sabia que era para maneirar o comportamento", conta o atual proprietário, Manoel Larroque, imitando o jeito do outro.

Adquirido em 1973 por outro Manoel, o Manoel Gianpaoli, conhecido como Maneca, a casa continuou resistindo ao "liberalismo", e preservando os bons costumes. "No meu tempo eu usava um cartão. Cartão amarelo era advertência e cartão vermelho era expulsão", acha graça o Maneca, que ainda hoje mantém sua mesa cativa no Sobrado.

Se alguém exagerasse nos carinhos com a namorada ou tentasse beijar a donzela em público corria o risco de ser mandado embora e só podia voltar se o "Seu Maneca" liberasse. "Tinha uns que pegavam um mês, dois meses de suspensão e depois podiam voltar. Mas se a coisa fosse muito feia não podiam voltar mais."

Hoje as liberdades estão maiores, mas os freqüentadores ainda prezam o ambiente familiar. "Quem não se comporta bem é convidado a se retirar", diz Larroque, atual proprietário. Beijar pode. "Mas tem que ser meio disfarçado", adverte.


O chapéu do Tito

"Ah! Se eu te contasse todo mundo que passou por aqui...", diz o Maneca num ar saudoso, começando a enumerar alguns nomes. Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Alcione, Moacyr Franco, Jamelão e até o mais boêmio de todos os boêmios, Nelson Gonçalves, já subiram os degraus do Sobrado. "E teve também aquela vez, quando o Waldick Soriano esteve aqui... Lembra?", pergunta ao Manoel, que fuma um cigarro sentado junto à mesa.

O Maneca conta histórias do Sobrado como se estivesse vendo de novo cada cena. "Naquele dia isso aqui tudo tava lotado... todo mundo ancioso esperando a chegada do Waldick. De repente entrou o Tito, com uma roupa e um chapéu bem parecidos e todo mundo foi pra volta dele. Aí a gente teve que acalmar todo mundo até o verdadeiro chegar." O causo teve ainda outro desfecho:
"Depois o Waldick queria trocar de chapéu com o Tito, mas o Tito não quis. O chapéu dele era um chapéu fino, e o do Waldick era daqueles que ele atirava para o público", se diverte.

Outro momento gravado na memória do Sobrado foi a festa da torcida Xavante. "Em 1985, quando o Brasil foi terceiro colocado no Campeonato Brasileiro, a gente darramava barris de choppe daqui das janelas e o pessoal lá embaixo bebia de graça", lembra o Maneca.


Os donos da casa


Depois de muitos anos de funcionamento como restaurante, em meados da década de 80 o plano econômico do presidente Sarney modificou a rotina do Sobrado. Na verdade, o comportamento do público também estava mudando. "Era um horror. Por causa do congelamento de preços e da Sunab... não tinha como manter o restaurante, aí ficou só como casa noturna", diz Maneca, proprietário na época da mudança.

Em cinqüenta anos, o Sobrado só interrompeu suas atividades entre janeiro e setembro de 2006, quando passou por reformas, durante a administração do atual proprietário, Manoel Larroque. "Mas eu sempre digo que o Sobrado não é meu, eu só administro. O Sobrado é deles", reforça ele, no espontâneo espírito da casa.

Em "eles", incluem-se as amigas e bem-humoradas Ângela, Benícia e Marlaine, que praticamente moram ali, sempre envolvidas com os preparativos do próximo baile. As histórias das três são parecidas: Ângela ficou viúva e voltou a comparecer no local que antes freqüentava com o marido. "Sem isso aqui eu não vivo!", garante ela.

Marlaine se separou, disse que já arrumou um namorado no Sobrado depois disso, mas que agora está "livre e desimpedida". "Estou aberta para o amor. Se bem que o clima daqui é tão bom que a gente nem sente falta se não tiver par para dançar. Eu me divirto igual", fala às gargalhadas.

Benícia foi ao Sobrado pela primeira vez por recomendação médica e nunca mais deixou de ir. "Eu tive depressão depois que fiquei viúva, há uns 15 anos, e o médico dizia que eu tinha que sair, me divertir. Foi aí que eu entrei pra turma".

No baile desta sexta-feira serão anunciadas as novas tituladas, outra tradição. Com a presença da Miss Pelotas Bruna Petter, receberão oficialmente as faixas a Miss Simpatia, Miss Privamera, Rainha do Carnaval e a Rainha do Sobrado.

A animação ficará por conta dos músicos da casa, com um repertório eclético, mas claro, sem esquecer a identidade do ponto, que faz sucesso e é conhecido principalmente por preservar o repertório de tangos e boleros.


Programação comemorativa

O quê: Aniversário do Sobrado
Quando: hoje, a partir das 22h
Onde: no Sobrado (calçadão da Sete, quase esquina com a rua 15 de Novembro)
Quanto: R$ 10,00 para eles e R$ 3,00 para elas


Mais

O Sobrado funciona regularmente às quartas-feiras, a partir das 21h, às sextas e aos sábados a partir das 22h, e aos domingos com matinês começando às 17h.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Tudo / Capa | Publicado em: Pelotas, Sexta-feira, 19 de setembro de 2008

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Eu Vejo Cultura Aqui: Ganhamos o Congresso!

Oi pessoas,

Estou passando agora para deixar um recado: o projeto Eu Vejo Cultura Aqui, elaborado por mim e outros colegas do Jornalismo da UCPel foi premido no Congresso Acadêmico de Turismo.

Convido vocês a conhecerem esse trabalho e a participarem!

Adriana Calcanhotto, como era de se esperar

Nenhum imprevisto, nenhuma surpresa ou improviso teve espaço no show de Adriana Calcanhotto. A cantora porto-alegrense, com sua impecável afinação, não dividiu o palco do Theatro com nada além do que estava no script. A proibição expressa de fotografar não evitou os flashes e celulares piscando durante vários momentos do espetáculo, mas isso também já era de se esperar. Até a música em que ia errar a letra (e como era pouco conhecida, se errou ninguém percebeu) ela anunciou com antecedência. Não era um show feito para surpreender, mas a absorção ao clima do espetáculo era tanta, em certos momentos, que poucas pessoas devem ter percebido o morcego que sobrevoou o palco no refrão da 17ª música. Se bem que um morcego voando pelo Theatro também não é nada fora do comum.

A gaúcha voltou carioquíssima e como todo carioca que se preze mostrou ter uma íntima ligação com a praia. Sofisticado? Suave? É preciso mais do que adjetivos genéricos para descrever o que aconteceu no intervalo de tempo entre as 21h13min e as 23h07min. Afinal, como diria ela mesma em Maré, música-título do CD recém-lançado e que abriu o show, sendo salgado, gelado ou azul (o mar) será só linguagem. Não era apenas uma expressão, e sim um prenúncio do que viria pela frente. Por isso, para se escrever sobre a apresentação que o Guarany assistiu na terça-feira, há que se escolher as palavras como os versos de Maré foram escolhidos.

No abrir das cortinas as camadas de azul e verde-água revelaram criaturas habitantes do mar: cavalos-marinhos, polvos, golfinhos... e uma enorme concha em primeiro-plano, igual à que a cantora trazia nas mãos junto ao ouvido quando entrou no palco, e que produzia um som oco que ressoou nos amplificadores e transportou a platéia para o grande mergulho. Com uma volumosa túnica vermelha de pregas, coberta com um véu azul, Adriana era senhora das profundezas do som e do ser e a partir daquele momento ela tinha tudo sob controle ao dirigir o leme daquela embarcação, que não estava lotada. Talvez porque a passagem estivesse cara demais para muitos que ficaram em terra firme, imaginando o que aconteceria para lá das imponentes portas do Theatro.

A linha atravessada de coxia a coxia conduzia os olhares do público, por vezes iluminada de neón. Mesmo depois de revelada sua utilidade visual no cenário, permaneceu incógnita em seu significado. Seria uma rede de pescadores? Um fio de contato submarino?

Marina Lima deu as caras na segunda música da set list, com os versos de Três, seguida pela composição Seu Pensamento, uma das novas que Adriana tinha para apresentar ao público. Sucinta em falas, ela limitou-se praticamente a repetir o discurso de sempre, que serve para todas as ocasiões. Algo como "é muito bom estar aqui e vocês podem achar que eu digo isso em todos os lugares e eu digo mesmo, mas aqui é verdade". Uma declaração sincera, aplaudida aqui e em todos os lugares.

Os primeiros versos de Mais Feliz, letra de Cazuza imortalizada na voz da porto-alegrense, quebraram a monotonia que se instaurara na platéia até aquele momento. Na seqüência, Asas trouxe um retorno à temática do show e ao álbum Maresia, gravado há 10 anos.

Subiram no palco virtualmente outros compositores como Arnaldo Antunes (Para Lá), Seu Jorge (Tive Razão), Paulo Diniz e Torquato Neto (na divertida e inocente Um dia desses eu me caso com você), Guilherme Arantes (Meu mundo e nada mais) e Rodrigo Amarante (Deixa o Verão). Do fundo do mar às constelações nuas do firmamento cantadas em Teu nome mais secreto (com Waly Salomão), só o som.

Adriana tocou violão e violoncelo, arranhou guitarras, batucou no tamborim. No samba feito para Mart'nália e apropriado por Marisa Monte deu para ver também os dedos de fora no pé que calçava um chinelo, por baixo da longa túnica, marcando o compasso no chão. Algumas canções, velhas conhecidas, ganharam arranjos arejados pela maresia e alguns efeitos eletrônicos, leves como todo o resto e sem grandes inventividade, o que talvez seja exatamente o que o público de Adriana Calcanhotto mais aprecie. Ela não inventa muito, faz o que sabe fazer e faz bem.

Aos susurros e suspiros, todos acompanharam a letra e prenderam a respiração nas reticências do verso o retrato que eu te dei / se ainda tens não sei / mas se tiver... Nos segundos que antecederam o final da letra, tudo o que se ouviu foi o barulho de uma latinha sendo aberta no fundo do teatro. Alguém não poderia ter escolhido momento pior para provocar qualquer ruído, mas faz parte... Devolva-me!

Esquadros, Fico assim sem você, Vambora e Marinheiro foram as outras do velho repertório que embalaram o coro do público e sustentaram os mais longos aplausos. O insistente pedido de alguém que queria ouvir Marina provocou risos e não foi atendido. Entre as músicas novas, Porto Alegre foi a que mais animou, em um dos momentos mais acelerados do show, prova de que ninguém consegue mesmo resistir ao "ritmo do calipso".

O segundo e definitivo bis foi encerrado na batida empolgante da guitarra de Cazuza. Ao terminar de cantar Mulher sem razão pela segunda vez na noite, desceu do palco, por alguns instantes. Tirou fotos, abraçou fãs e foi embora dançando.

Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Que som é este?

Mozart, Liszt, Schubert, Piazzola... em meio a nomes conhecidos da música, algo vai soar estranho no concerto que ocorre hoje à noite, em homenagem aos 90 anos do Conservatório de Pelotas. Dispostos a explorar as fronteiras entre a música e o barulho, os professores Rogério Constante e Luciano Zanatta farão uma intervenção diferente no repertório consagrado de música brasileira e da chamada nova música contemporânea.

O gênero não é exatamente novo, mas o momento é inédito no circuito pelotense. Cerca de cinqüenta anos depois da inauguração das duas principais correntes que deram origem ao estilo - a escola de Colônia na Alemanha e a escola de Paris - Pelotas assistirá pela primeira vez, ao menos oficialmente, a uma apresentação Eletroacústica.

As composições surgem da fusão entre a música concreta - sons incidentais captados no ambiente - e a música eletrônica - sons gerados por computador. Os ruídos, que em outras circunstâncias seriam indesejáveis (nos concertos clássicos, por exemplo), aqui viram matéria-prima para elaborações musicais que evidenciam a plasticidade, com altas doses de experimentação e inventividade.

Através da manipulação digital e técnicas de sintetização, os músicos moldam as propriedades essenciais do som: alteram timbres, aumentam ou diminuem freqüências, ressaltam notas. O resultado é uma seqüência sonora com estética diferenciada - de estrutura indefinida, sem ritmo constante ou melodia harmônica -, que tensiona o espectador e obriga o ouvinte a testar sua capacidade de percepção.

"O maior choque que a música eletroacústica pode causar é a ausência da relação de causa e efeito. As pessoas estão acostumadas a ver alguém que toca um instrumento e a partir dessa ação o som é ouvido. Nesse caso não há intérprete, o compositor já deixa a música pronta no computador", explica Rogério Constante, que usou como base para a composição o rangir das cadeiras cinqüentenárias do auditório. "A proposta é justamente dialogar com o ambiente", diz ele, que ainda guarda no notebook a composição que apresentará amanhã inacabada.

O método de criação é similar ao de qualquer outra música. A grande diferença, demonstrada pelos professores, é que na música instrumental é feita de sons "prontos", ainda que se considere as variações de cada intrumento e de cada instrumentista. "Na música eletroacústica o compositor pode e deve, além de compor com os sons, compor os próprios sons", enfatiza Luciano Zanatta, que preparou uma audição de piano diferente, com inserções de estalos e ruídos provocados por uma caixa amplificadora saturada, exposta ao limite da sua capacidade.


Um desafio aos sentidos em três dimensões

"A questão chave para quem vai ouvir alguma coisa pela primeira vez é descobrir o que há ali para ser ouvido. Quem for ouvir eletroacústica esperando algum tipo de estrutura musical - no conceito restrito disso - vai se decepcionar. Isso não está lá porque não é para estar", sugere Zanatta, dando pistas de como o público deverá se comportar para melhor aproveitar a apresentação. "Em alguns momentos pode ser interessante tentar identificar os sons. Em outros, o melhor é abstrair mesmo", completa Constante.

Para demonstrar o dinamismo do som uma estrutura foi especialmente planejada. Serão quatro saídas de áudio em torno do público, que facilitarão a observação nítida dos movimentos da música, em seus vários planos, no espaço.

"Todo o repertório do concerto é bastante diversificado, o que só vem a demonstrar a vitalidade do Conservatório, que consegue se renovar e ao mesmo tempo se abrir para um leque bastante amplo de tendências musicais", observa Zanatta, que adverte que por ser uma experiência estética intensa, a apresentação exigirá a atenção constante do público.

A série de concertos em homenagem aos 90 anos do Conservatório de Música, que se estende até o mês de dezembro, é uma realização da Ato Produção Cultural e conta com o apoio do Serviço Social da Indústria (Sesi) e patrocínio da Caixa Econômica Federal, que também comemora seus 120 anos na cidade.


Serviço

O quê:
Concerto de professores e convidados
Quando: hoje, com início às 20h
Onde: no Salão Milton de Lemos, nas dependências do Conservatório de Música da UFPel (rua Félix da Cunha, 651)
Quanto: os ingressos podem ser retirados antecipadamente ou na hora, mediante a doação de um quilo de alimento não perecível. Os lugares são limitados.
Contato: Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 3222-2562.


Prestigie também

O aniversário do Conservatório também será lembrado amanhã, às 19h, quando acontece a 25ª edição do projeto Tertúlias Musicais. Sob a coordenação do professor Marcelo Cazarré, participam do recital os alunos Adrian Borges, Jerônimo Collares e Washington Rodrigues com interpretações de piano, Igor Krüger e Maithan Timm no violão, e Lys Marcia Ferreira com peças de violino. A entrada é franca.


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Capa | Publicado em: Pelotas, Quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Cenas para se ver de novo

A repetição inesperada e a sensação intrigante provocada por quem "se conhece de algum lugar, mas não se sabe de onde" são a tônica do curta-metragem Double Take, que será exibido hoje, a partir das 18h30, no Theatro Sete de Abril.

Produzido por alunos do curso de Cinema e Animação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o filme foi inspirado no conceito da dramaturgia que sugere o efeito de "ver de novo". A seqüência é uma sucessão de reencontros. Quantas vezes, nos 20 minutos de duração do filme ou em uma vida inteira, os personagens já teriam se visto antes, sem no entanto se conhecer?

"Eu comecei a escrever o roteiro a partir da última cena, que realmente aconteceu comigo", diz Eduardo Resing enquanto mostra no monitor o momento em que o personagem interpretado por Leonardo Dias observa da janela a protagonista vivida por Cíntia Viana. Ela é uma funcionária da Companhia Elétrica, mas em outras cenas foi a garota que estava na parada de ônibus quando ele passou, ou aquela que escolhia um DVD enquanto ele se entretia com outros títulos na estante oposta da videolocadora. Além dos personagens, há outros elementos que se repetem nas cenas, uma provocação à observação dos espectadores.

Na avaliação dos professores e dos próprios alunos responsáveis pela produção, o filme tem muitas falhas técnicas que eles já começam a aprender a resolver, à medida em que avançam nas disciplinas do curso. Nada, porém, que comprometa o bom entendimento e o conceito pretendido com a trama. "O filme é uma mistura de várias coisas, com um resultado interessante. Tem destaque a ousadia da montagem que sai da decupagem clássica e propõe uma outra forma de articular as cenas", analisa a professora das disciplinas de teoria e história do cinema Andréa Schönhofen. Como convidada, ela participa do debate que ocorre logo após a apresentação do curta hoje a noite.

A edição apresenta diversos planos-seqüência (no mês passado foi lançado o primeiro filme do Brasil gravado em um único plano-seqüência, do diretor porto-alegrense Gustavo Spolidoro), além de referências ao estilo de diretores como Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra, 1998) e Michelangelo Antonioni (Deserto Vermelho, 1964, Blow Up - Depois daquele beijo, 1966 e The Passenger, 1975). "Essa forma de trabalhar com lacunas é mais do que oferecer ao espectador um quebra-cabeça para ser montado. É um outro modo de pensar o tempo no cinema", considera Andréa. "Lidar com o acaso e com escolhas é o que fazemos na vida a toda hora, tem tudo a ver com o cinema contemporâneo".


Confira
O quê: Double Take, em cartaz no Projeto Sete Imagens
Quando: hoje, às 18h30
Onde: no Theatro Sete de Abril
Entrada Franca


Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Quinta-feira, 18 de setembro de 2008

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Fotos legais

Não conhecia o talendo da Ândria, algumas fotos são de tirar o fôlego. Legais mesmo! Ela valoriza as linhas com uma sensibilidade incrível! Veja mais no Flickr dela e também aqui, no post sobre Bebeto Alves.



Xana Gallo é a atração do próximo Sete ao Entardecer


[Clique na imagem para visualizar em maior resolução.]
* Isto não é um post pago. Anuncie aqui.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

X-Tudo


[Clique na imagem para visualizar em maior resolução.]
* Isto não é um post pago. Anuncie aqui.

Uma escritora de primeira viagem


Era uma vez uma digitadora de laudos médicos que trabalhava em uma clínica e detestava seu emprego. Ela passava o dia escrevendo - laudos, obviamente - mas queria mesmo era escrever histórias.

Tímida e romântica, Elisiane Martins - a Lisi - escreveu um livro que não teve coragem de mostrar para quase ninguém. Até o dia em que perdeu o emprego e resolveu arriscar. Com o dinheiro da demissão mandou editar apenas trinta exemplares, fez um lançamento discreto entre familiares e amigos íntimos e nunca mais tocou no assunto.

O livro, era praticamente um segredo. Até que um belo dia ela viu no jornal uma matéria que lhe chamou a atenção. Era a história de Laura Matheus - a Dona Laura - moradora da colônia Z-3 que aos 71 anos concretizou um sonho, que sem saber compartilhava com Lisi: o de ser reconhecida como escritora.

A trajetória da pescadora de palavras até o lançamento do livro Barbiele, publicada no Caderno Zoom do Diário Popular do dia 4 de junho foi inspiradora. Mas Lisi não teve pressa. Como ela diz, tudo para ela demora a acontecer...

Meses depois enviou um e-mail à redação. Na mensagem, que pelo tom da narrativa mais parecia uma carta, ela contava a sua história e tomava coragem de finalmente mostrar ao público seu livro de estréia. Para quem estava decidida a seguir a carreira como escritora não havia mais escolha: precisava se expor à crítica.


O romantismo em tempos de MSN

O Destino de Lisa - viver além da vida, amar além do amor traz no longo título a dramaticidade e o romantismo exacerbado que carrega na trama, curta, descrita em apenas 107 páginas, mas feita para ir além, como toda história de amor.

A personagem Lisi é perdidamente apaixonada por Josef, mas mesmo depois que resolve declarar seu amor incondicional - pela Internet, de forma quase anônima -, ainda se mantém resistente em ceder à conquista do amado e ao desejo dele de conhecê-la na vida real.

O livro, têm o ritmo do diálogo em mensagens instantâneas e o andar romântico de um malandro galanteador cortejando alguma moça que desfila pela rua. E tem também um pesar. Um ar de tensão, um medo e um sentimento de perda de quem nunca teve. A história mescla a ingenuidade adolescente, a anciosidade de resposta imediata e sua antítese - uma espera nada imediatista de um amor platônico.

Às vezes soa inocente demais, idealizado demais, sentimental demais, mas... é mais um modo de se ver a vida. "As mulheres de hoje precisam se valorizar", defende. "Acho que mulheres como a Lisi existem, mas são raras. No fundo Josef (par romântico da difícil Lisi) é mais idealizado que ela. Porque é ela quem define os rumos da história o tempo todo e não deixa muitas escolhas para ele, que mesmo assim não desiste do relacionamento", diz, ao comentar os desvios de comportamento e caráter dos personagens que criou. "O livro também toca no assunto do preconceito racial. Acho que todo escritor deve se sentir responsável por falar nessas coisas", afirma.

As histórias de Lisi e Lisa têm muito em comum. A autora e a protagonista estão sempre conectadas no mundo virtual: MSN, Orkut, e-mail... mas não perdem o ar sonhador.

A ficção toma emprestado alguns fatos da vida real. Como a mãe da personagem do livro, a mãe da escritora também teve um grande amor, que foi prorrogado por tempo demais. "Depois da separação minha mãe levou muitos anos até ir procurar o homem por quem ela realmente era apaixonada. E quando ela decidiu fazer isso descobriu que ele tinha falecido", conta Lisi, que é casada e confessa que também viveu um grande e primeiro amor.

Editado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores, o livro é a primeira parte de uma história que já tem continuação. O segundo volume, com título provisório de O Segredo de Lisa, está quase concluído, mas ainda não tem previsão de lançamento. Nessa espécie de retorno à escola Romântica adaptada aos dias atuais - em que ao invés de cartas se escrevem e-mails apaixonados (será?), a grande pergunta que o livro faz ao leitor é se as ferramentas do mundo virtual sufocam os relacionamentos ou se ao contrário, o romantismo está reconquistando seu espaço na vida das pessoas e ainda é capaz de sensibilizar o público através da literatura.

Como quase todo livro de estréia, este ainda não é uma obra-prima, mas um bom começo. Quem deseja ser escritor precisa, ao menos, escrever.


Leia um trecho

Deixou o micro conectado à Internet e com o volume alto para que pudesse ouvir quando ele entrasse.

Estava comendo distraidamente o segundo pedaço de sanduíche que preparara, quando ouviu o sinal no seu micro e correu ainda mastigando, quase tropeçando nas escadas de tão agitada e atrapalhada que ficara. Sentou-se rapidamente na cadeira em frente à sua mesa do computador e seus olhos mal acreditavam no que estava vendo.

Era ele, era Josef, que acabara de entrar. Sua emoção era tão grande que mal conseguia respirar e seu coração parecia explodir. Respirou fundo e digitou:

- Oi Josef! - fechando os olhos, como se estivesse fazendo uma prece para que ele respondesse.
- Oi Lisa!
- Ele respondeu. - Ele respondeu! - pensou Lisa, paralisada em frente ao micro.
- Tudo bem com você? - foi a única coisa que conseguiu digitar.


Contato

O livro O destino de Lisa pode ser encontrado na Livraria e Café Dom da Palavra. Contato com a escritora e encomenda de exemplares pelo telefone 9161-5960 ou através do e-mail lisi.martins@yahoo.com.br.


Texto: Bianca Zanella | Imagem: Divulgação | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Terça-feira, 16 de setembro de 2008

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Conservatório chega aos noventa

No Conservatório de Música Pelotas, há 9 décadas, muda-se o compasso mas não se perde o ritmo. A música não pára nunca. Ali, tudo é feito de som desde que José Corsi e o professor Guilherme Fontainha, então diretor do Conservatório de Música de Porto Alegre, idealizaram uma nova proposta artístico-cultural, no início do século 20. O tempo era de auto-afirmação. Quando já se anunciava a antropofagia que viria escancarada na Semana de Arte Moderna de 22, o que se pretendia em termos regionais, lá em 1918, era a criação de um movimento cultural autônomo no Rio Grande do Sul.

Na prática a idéia propunha o estabelecimento de uma rede de centros culturais que permitisse a circulação permanente de artistas nacionais e internacionais, e que pudesse servir também para promover a educação musical da comunidade. A estratégia tratava de resolver o problema logístico, um dos principais empecilhos para o intercâmbio artístico na época do quase-pré-histórico mundo pré-globalizado, quando - imaginem! - não havia como fazer downloads das últimas composições, ou assistir no You Tube o vídeo do mais novo concerto do circuito europeu.
As obras, os artistas, continuavam a viajar - com piano e tudo, se necessário fosse - de navio até aqui. O itinerário - do qual Pelotas e outras 16 cidades faziam parte - não eliminava a epopéia dos músicos que se aventuravam a chegar até a pampa, mas ao menos facilitava o acesso às novas tendências musicais e rendia assunto para as conversas nas rodas em que circulava a intelectualidade pelotense.

A fundação do Conservatório se deu no embalo do positivismo. A intenção era formar músicos e platéia, e estabelecer uma educação musical de forma ampla. Era prioridade que as mulheres, na função de primeiras educadoras, desenvolvessem seus dotes musicais e seus conhecimentos gerais. "Desde o início as atividades do Conservatório jamais desvincularam o ensino da música da prática, da vivência de concertos. Mais do que promover o acesso à música, a idéia era incentivar as pessoas a pensarem sobre cultura, arte e filosofia", explica a diretora da instituição e pesquisadora Isabel Nogueira.


O som da idade

Tijolos de dó, ré, mi, portas de fá, janelas de sol, lá, música, si. Talentos que entram e saem mantém as portas da instituição quase centenária sempre abertas. Por elas, arejadas, sopra um vento à favor da continuidade descontinuísta. Um ar de renovação. Aos noventa, o Conservatório é ainda como um jovem músico a experimentar os primeiros acordes. Mas a estrutura...

A idade faz barulho. Se o tempo tem outro som além dos tics e tacs, este som é o do rangir das articulações. Sobem a escada. Os degraus gemem. Caminham pela ante-sala. No salão ao lado, os passos viram um acompanhamento indesejável para os acordes de perfeita harmonia. A melodia às vezes inquieta. Diante do palco de tábuas corridas e plena concentração, basta que um ouvinte se acomode na platéia para que todas as cadeiras, ouvintes de todos os concertos desde 1950, desacomodem-se também. Presas ao chão, seus acentos exclamam, porque os parafusos fizeram casa, reclamam e fazem sua própria melodia de madeira e verniz.

Se a música é tempo, o espaço de oito salas ficou pequeno para acomodar mais gente. Por isso os projetos são de reformar e ampliar as acomodações, que hoje limitam o grupo de alunos em cerca de 150.


Conservador, nem tanto

Por definição, conservatórios são locais de ensino de música e também onde se conservam certos valores culturais e intelectuais. A prática, no entanto, não necessariamente se associa à idéia engessada de conservadorismo.

Ao longo do tempo, as diversas formas de interação de culturas e criações têm dissipado as fronteiras entre a música popular e a música erudita, em todos os lugares, e no Conservatório também.

Quando completa noventa anos de atividades ininterruptas, o Conservatório quer renascer. Afinal, não é para isso que servem os aniversários? "Eu vejo o conservatório hoje como um espaço que sedia um novo movimento de contra-cultura. Afinal, aqui resiste uma forma de música que é diferente daquela que está exposta na mídia. O que toca aqui não é trilha de nenhuma novela". Essa é a resposta que Isabel Nogueira tem na ponta da língua para os críticos que afirmam que o Conservatório é uma casa elitista. "Este lugar foi construído com um caráter muito humano, sobre pilares de um idealismo muito forte. A casa sempre esteve aberta e além disso, muitos alunos que passam por aqui desenvolvem projetos fora. Através deles o Conservatório e a música se aproximam da comunidade".

Municipalizado em 1937 e vinculado à Universidade Federal de Pelotas desde 1983, o Conservatório de Pelotas, é um dos remanescentes do projeto original, acompanhado das instituições de Rio Grande, Bagé e Porto Alegre, que seguiram trajetórias parecidas e ainda hoje se mantém em funcionamento.

Na noite de quinta-feira, 18 de setembro, professores da casa e convidados farão soar instrumentos em homenagem à data que marcou a fundação da instituição. O repertório vai do folk e popular ao erudito e inclui nomes como Liszt, Mozart, Schubert e Piazzola.


O concerto soará também em tom de novidade: propiciada pela recém criação do curso de composição musical da UFPel, os professores Rogério Constante e Luciano Zanatta farão uma apresentação eletroacústica. O gênero inédito no local é caracterizado pela técnica de composição que utiliza sons produzidos ou processados eletronicamente. "Pode ser um choque, em princípio, porque a música não tem uma estrutura a que o público está acostumado a acompanhar. Mas vai ser interessante", adianta a diretora.

Este será o segundo de uma série de sete concertos, inaugurada em agosto com o pianista Alexandre Alcântara - por ocasião da passagem dos 39 anos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) - e que terá seqüência até o final do ano.

A programação é também alusiva aos 120 anos da Caixa Econômica Federal em Pelotas e tem o apoio do Serviço Social da Indústria (Sesi).


Programação

Esta semana
Dia 18, concerto com professores e convidados

Em setembro
Dia 26, Quarteto de Violões Maogani (São Paulo)

Em outubro
Dia 10, Olinda Alessandrini, Hella Frank e Inge Schmiedt - piano, violino e violoncelo
Dia 22, Laura de Souza e Max Uriarte - canto e piano
Dia 28, Nancy Lee Harper - piano solo (Portugal)

Em dezembro
Dia 5, Lucas Debevec Mayer, Rosana Schiavi e Carlos Moejano - canto e piano (Argentina/Brasil)



* Todos os concertos ocorrerão no Salão Milton de Lemos, nas dependências do Conservatório de Música da UFPel (rua Félix da Cunha, 651.

** Os ingressos são distribuídos local, mediante a troca por um quilo de alimento não perecível. Os donativos arrecadados serão repassados ao Banco de Alimentos Madre Tereza de Calcutá.


Texto: Bianca Zanella | Imagem: Divulgação | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 6 | Publicado em: Pelotas, Segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Eu esperava mais...

O debate de ontem à noite entre os candidatos à Prefeito de Pelotas transmitido pela TV COM foi morno. Tão morno que não chegou a assar nem o "Peru do Anselmo". Explico a piada, para quem não assistiu: o candidato "mais esquentadinho" já de saída afirmou: "Eu não sou Peru da Sadia pra preparado". A primeira participação do imprevisível e teatral Governaço prometia bem mais, mas mesmo suas outras "tiradas" não chegaram nem perto do impacto desta.

Marroni e Fetter ficaram o tempo todo fazendo o DNA do asfalto, principalmente, e de outros projetos. Os outros candidatos - pelo menos os que foram articulados o suficiente para elaborar alguma estratégia - trataram de fazer perguntas entre si que atacassem por tabela os dois candidatos mais fortes. Foi o caso do Professor Lucas, Gilberto Cunha e Mateo Chiarelli que não perderam oportunidades para dizer que existem prioridades menos superficiais do que colocar asfalto. "Se preocupar com isso é a mesma coisa que um doente que precisa de um tratamento para câncer gastar dinheiro fazendo uma cirurgia plástica!"

Anselmo atacou a todos e não teve excrúpulos para dizer que tudo o que os outros prometem fazer, ele já fez. Rejane não atacou ninguém. Não teve capacidade. Apesar de ser a candidata que conhece mais profundamente os problemas da cidade (pois cada resposta ela começava contando uma vivência pessoal de como já sofreu com aquilo) ela só conseguiu incentivar um sentimento coletivo de vergonha alheia e piedade. Tudo ela considera "um absurdo". Caiu em todos os "pega-ratões" que lhe aplicaram, e não foram muitos porque os demais candidatos até a pouparam de perguntas mais difíceis. De qualquer forma, suas breves participações foram suficientes para deixar explícito o despreparo da candidata. Mostrou que pensa pequeno demais e que não tem visão global para resolver problemas grandes. A questão do turismo, por exemplo, ela resumiu como a falta de um ônibus para levar as pessoas que chegam de outras cidades para conhecer Pelotas. De que turismo ela está falando? Aí o Fetter, na réplica, se lavou...

Como é que ela acreditou quando disseram que ela estava preparada para ser candidata, e muito pior, prefeita? Alguém poderia ter evitado toda essa pagação de mico...
Do Lucas se esperava bem mais. O candidato tem um discurso muito bom, mas para o enfrentamento no debate faltou ser mais claro e, principalmente, prático.
Mateo ficou no disco repetido de que é "O Diferente". Apresentou propostas, tentou não bater de frente com ninguém. Parece, no entanto, que falta-lhe carisma e um pouco mais de espontaneidade para crescer na campanha.
Alexandre Nunes surpreendeu, estava bastante articulado, apesar de parecer que tinha treinado horas na frente do espelho, decorando tudo o que ia falar. Mesmo assim, foi bem.

No final das contas, além do asfalto, que já se esperava, seria o tema principal no confronto Fetter - Marroni, ficaram de fora algumas questões elementares, assuntos em que ninguém ousou tocar.
O termo ecologia, por exemplo - que é um dos assuntos mais importantes e preocupantes da atualidade - não foi citado em nenhum momento. A não ser o eucalipto, mensionado levianamente como um problema "turístico" e nada mais, não se ouviu ninguém falar diretamente sobre isso. Por que será?


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Um pouco sobre Bebeto Alves

Uma noite de casa cheia. Ali, na "avenida" João Gilberto, no encontro cenográfico entre as ruas Pelotas e Uruguaiana, no entrecruzamento entre o rock progressivo, o reagge e a milonga, eis que estava Bebeto Alves e seu violão.


Era quarta-feira e eu jamais havia imaginado encontros tão improváveis. Musicalmente falando. Pessoalmente falando. Em seu novo CD - Devoragem - o compositor, nascido em Uruguaiana, leva a antropofagia ao pé da letra, à raiz do verso, ao ápice do som. Bebeto Alves cutuca a palavra com vários ritmos, em várias variações, e assim é capaz de provocar a intersecção de tribos distintas: dos adeptos da bicho-grilagem - com suas túnicas e colares de sementes - aos gaudérios - de boinas, botas e bombachas. Com semblates sonhadores, um tanto quanto impacientes, estavam todos lá naquela noite, se apinhando (e nem sei se essa palavra existe, realmente) nos nichos do bar, em torno do pequeno palco, naquela incomum esquina do som.

Composições familiares soaram estranhas. Eu conhecia um lado poeta de Bebeto Alves sem saber que o conhecia e sem saber que ao lado dele havia um outro lado - intérprete -, de voz rouca e sentimento. Ouvi-lo cantar não é o mesmo que vê-lo cantar, de olhos arregalados e com o cacoete de assoprar e sacudir os ombros enquanto toca o violão. Cena linda foi quando ele teve nas mãos um enorme tambor, batucou suave, cantou de leve, olhando ao longe como se tivesse a lua no colo...


Era noite de cantar o novo, mas o público não esquece o passado. A platéia queria ouvir Homem Invisível, pedido que não foi negado, mas ficou pro bis. Para ser mais intimista, faltou intimidade do público para saber se comportar em momentos sonores e raros como aqueles. Pudera ter feito dois shows: e todos ficariam mudos, estarrecidos, manifestando-se apenas quando fosse convenientemente estético (fazendo coro aos refrões, ou repetindo vocalizações). Pena que o público não é tão eclético quanto o próprio compositor, pois quando variava o estilo enquanto uns curtiam a canção, outros eram puro tédio e descontração. Desatentos, batiam papo enquanto perdiam as melhores partes. Volta e meia, as melodias eram arranhadas por pedidos de silêncio. shiiiiiiiii....

Em silêncio, termino, enfim. Não sei as letras das músicas. Eu não sabia que gostava de Bebeto Alves. Mas acho que valem uns versos que descobri aquele dia e que encontrei por aí...

Eu tento compor minha música
Fazer o meu trabalho, estar na pelo dos loucos
Onde a inveja dos outros, hipócrita e cínica
Maneja o freio conforme o cavalo

Mas só quem charla com a alma
Merece o batismo de alguma milonga
Cutucando a palavra
Seguindo a estrada do seu coração

Vivo o que escrevo, sensitivo de mim
O tiro do instrumento o bom da coisa ruim
E creio que vale a pena
Lavar a erva do chimarrão

Gosto de usar a paisagem mapear as imagens num fundo de campo
Gosto da tropa de cria, chamando a poesia pra perto do rancho
Gosto da prosa sem lado pescando dourado no Rio Uruguai
Das crinas do salso, roçando no braço do meu violão

(Ah milonga, milonga, milonga, milonga palavra dos meus peçuelos
Contigo o tempo não tem segredos, por onde eu for)


Texto: Bianca Zanella | Fotos: Ândria Halfen | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Terça-feira, 16 de setembro de 2008

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Duo Kurtz-Morejano

No próximo dia 12 de setembro, o Auditório Milton de Lemos será palco de mais um Recital do DUO KURTZ-MOREJANO, formado pela soprano Luísa Kurtz e pelo pianista Carlos Morejano, professores do Conservatório de Música da UFPel.



O Duo, que iniciou suas atividades em 2005, apresentará canções de E. Granados (Goyescas y Tonadillas), M. de Falla (Siete Canciones Populares Españolas); R. Schumann (Liederkreis, op. 39) e H. Villa-Lobos (Quatro Canções da Floresta do Amazonas), além de árias antigas de A. Lotti e A. Caldara. A renda deste recital é destinada ao Instituto São Benedito, tradicional entidade assistencial da cidade de Pelotas.



Serviço


O quê: Recita Beneficente Duo Kurtz-Morejano

Quando: Sexta-feira, 12, a partir das 20h

Onde: no Conservatório de Música da UFPel

Quanto: R$ 5,00 (ingressos no local)

Mostra de Teatro e Dança de Origem Africana

Inscrições terminam dia 15

A V Mostra de Teatro e Dança de Origem Africana é um evento anual organizado pela Cia. De Dança Afro Daniel Amaro na cidade de Pelotas/RS, sempre no início do mês de novembro, com oficinas, palestras e apresentações artísticas, tendo como objetivo fomentar o intercâmbio dos Grupos e Cias que trabalham com a cultura afro-brasileira no país.

Em 2008 acontecerá nos dias 8 e 9 de novembro, na Cervejaria Original Bier - rua Tamandaré n.º 52 e tem como atração confirmada o Grupo Caixa-Preta - Porto Alegre , que apresentará a peça Hamlet Sincrético, Grupo Sovaco de Cobra e a DJ Helô.

Mais informações e solicitação de regulamento pelo e-mail mostradeorigemafricana@bol.com.br ou pelos telefones 3027-1614 r 9136-9328.

Foto: Cia. Aérea de Dança - RJ / Divulgação


* Isto não é um post pago. Anuncie aqui.