Nenhum imprevisto, nenhuma surpresa ou improviso teve espaço no show de Adriana Calcanhotto. A cantora porto-alegrense, com sua impecável afinação, não dividiu o palco do Theatro com nada além do que estava no script. A proibição expressa de fotografar não evitou os flashes e celulares piscando durante vários momentos do espetáculo, mas isso também já era de se esperar. Até a música em que ia errar a letra (e como era pouco conhecida, se errou ninguém percebeu) ela anunciou com antecedência. Não era um show feito para surpreender, mas a absorção ao clima do espetáculo era tanta, em certos momentos, que poucas pessoas devem ter percebido o morcego que sobrevoou o palco no refrão da 17ª música. Se bem que um morcego voando pelo Theatro também não é nada fora do comum.
A gaúcha voltou carioquíssima e como todo carioca que se preze mostrou ter uma íntima ligação com a praia. Sofisticado? Suave? É preciso mais do que adjetivos genéricos para descrever o que aconteceu no intervalo de tempo entre as 21h13min e as 23h07min. Afinal, como diria ela mesma em Maré, música-título do CD recém-lançado e que abriu o show, sendo salgado, gelado ou azul (o mar) será só linguagem. Não era apenas uma expressão, e sim um prenúncio do que viria pela frente. Por isso, para se escrever sobre a apresentação que o Guarany assistiu na terça-feira, há que se escolher as palavras como os versos de Maré foram escolhidos.
No abrir das cortinas as camadas de azul e verde-água revelaram criaturas habitantes do mar: cavalos-marinhos, polvos, golfinhos... e uma enorme concha em primeiro-plano, igual à que a cantora trazia nas mãos junto ao ouvido quando entrou no palco, e que produzia um som oco que ressoou nos amplificadores e transportou a platéia para o grande mergulho. Com uma volumosa túnica vermelha de pregas, coberta com um véu azul, Adriana era senhora das profundezas do som e do ser e a partir daquele momento ela tinha tudo sob controle ao dirigir o leme daquela embarcação, que não estava lotada. Talvez porque a passagem estivesse cara demais para muitos que ficaram em terra firme, imaginando o que aconteceria para lá das imponentes portas do Theatro.
A linha atravessada de coxia a coxia conduzia os olhares do público, por vezes iluminada de neón. Mesmo depois de revelada sua utilidade visual no cenário, permaneceu incógnita em seu significado. Seria uma rede de pescadores? Um fio de contato submarino?
Marina Lima deu as caras na segunda música da set list, com os versos de Três, seguida pela composição Seu Pensamento, uma das novas que Adriana tinha para apresentar ao público. Sucinta em falas, ela limitou-se praticamente a repetir o discurso de sempre, que serve para todas as ocasiões. Algo como "é muito bom estar aqui e vocês podem achar que eu digo isso em todos os lugares e eu digo mesmo, mas aqui é verdade". Uma declaração sincera, aplaudida aqui e em todos os lugares.
Os primeiros versos de Mais Feliz, letra de Cazuza imortalizada na voz da porto-alegrense, quebraram a monotonia que se instaurara na platéia até aquele momento. Na seqüência, Asas trouxe um retorno à temática do show e ao álbum Maresia, gravado há 10 anos.
Subiram no palco virtualmente outros compositores como Arnaldo Antunes (Para Lá), Seu Jorge (Tive Razão), Paulo Diniz e Torquato Neto (na divertida e inocente Um dia desses eu me caso com você), Guilherme Arantes (Meu mundo e nada mais) e Rodrigo Amarante (Deixa o Verão). Do fundo do mar às constelações nuas do firmamento cantadas em Teu nome mais secreto (com Waly Salomão), só o som.
Adriana tocou violão e violoncelo, arranhou guitarras, batucou no tamborim. No samba feito para Mart'nália e apropriado por Marisa Monte deu para ver também os dedos de fora no pé que calçava um chinelo, por baixo da longa túnica, marcando o compasso no chão. Algumas canções, velhas conhecidas, ganharam arranjos arejados pela maresia e alguns efeitos eletrônicos, leves como todo o resto e sem grandes inventividade, o que talvez seja exatamente o que o público de Adriana Calcanhotto mais aprecie. Ela não inventa muito, faz o que sabe fazer e faz bem.
Aos susurros e suspiros, todos acompanharam a letra e prenderam a respiração nas reticências do verso o retrato que eu te dei / se ainda tens não sei / mas se tiver... Nos segundos que antecederam o final da letra, tudo o que se ouviu foi o barulho de uma latinha sendo aberta no fundo do teatro. Alguém não poderia ter escolhido momento pior para provocar qualquer ruído, mas faz parte... Devolva-me!
Esquadros, Fico assim sem você, Vambora e Marinheiro foram as outras do velho repertório que embalaram o coro do público e sustentaram os mais longos aplausos. O insistente pedido de alguém que queria ouvir Marina provocou risos e não foi atendido. Entre as músicas novas, Porto Alegre foi a que mais animou, em um dos momentos mais acelerados do show, prova de que ninguém consegue mesmo resistir ao "ritmo do calipso".
O segundo e definitivo bis foi encerrado na batida empolgante da guitarra de Cazuza. Ao terminar de cantar Mulher sem razão pela segunda vez na noite, desceu do palco, por alguns instantes. Tirou fotos, abraçou fãs e foi embora dançando.
Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Quinta-feira, 18 de setembro de 2008
A gaúcha voltou carioquíssima e como todo carioca que se preze mostrou ter uma íntima ligação com a praia. Sofisticado? Suave? É preciso mais do que adjetivos genéricos para descrever o que aconteceu no intervalo de tempo entre as 21h13min e as 23h07min. Afinal, como diria ela mesma em Maré, música-título do CD recém-lançado e que abriu o show, sendo salgado, gelado ou azul (o mar) será só linguagem. Não era apenas uma expressão, e sim um prenúncio do que viria pela frente. Por isso, para se escrever sobre a apresentação que o Guarany assistiu na terça-feira, há que se escolher as palavras como os versos de Maré foram escolhidos.
No abrir das cortinas as camadas de azul e verde-água revelaram criaturas habitantes do mar: cavalos-marinhos, polvos, golfinhos... e uma enorme concha em primeiro-plano, igual à que a cantora trazia nas mãos junto ao ouvido quando entrou no palco, e que produzia um som oco que ressoou nos amplificadores e transportou a platéia para o grande mergulho. Com uma volumosa túnica vermelha de pregas, coberta com um véu azul, Adriana era senhora das profundezas do som e do ser e a partir daquele momento ela tinha tudo sob controle ao dirigir o leme daquela embarcação, que não estava lotada. Talvez porque a passagem estivesse cara demais para muitos que ficaram em terra firme, imaginando o que aconteceria para lá das imponentes portas do Theatro.
A linha atravessada de coxia a coxia conduzia os olhares do público, por vezes iluminada de neón. Mesmo depois de revelada sua utilidade visual no cenário, permaneceu incógnita em seu significado. Seria uma rede de pescadores? Um fio de contato submarino?
Marina Lima deu as caras na segunda música da set list, com os versos de Três, seguida pela composição Seu Pensamento, uma das novas que Adriana tinha para apresentar ao público. Sucinta em falas, ela limitou-se praticamente a repetir o discurso de sempre, que serve para todas as ocasiões. Algo como "é muito bom estar aqui e vocês podem achar que eu digo isso em todos os lugares e eu digo mesmo, mas aqui é verdade". Uma declaração sincera, aplaudida aqui e em todos os lugares.
Os primeiros versos de Mais Feliz, letra de Cazuza imortalizada na voz da porto-alegrense, quebraram a monotonia que se instaurara na platéia até aquele momento. Na seqüência, Asas trouxe um retorno à temática do show e ao álbum Maresia, gravado há 10 anos.
Subiram no palco virtualmente outros compositores como Arnaldo Antunes (Para Lá), Seu Jorge (Tive Razão), Paulo Diniz e Torquato Neto (na divertida e inocente Um dia desses eu me caso com você), Guilherme Arantes (Meu mundo e nada mais) e Rodrigo Amarante (Deixa o Verão). Do fundo do mar às constelações nuas do firmamento cantadas em Teu nome mais secreto (com Waly Salomão), só o som.
Adriana tocou violão e violoncelo, arranhou guitarras, batucou no tamborim. No samba feito para Mart'nália e apropriado por Marisa Monte deu para ver também os dedos de fora no pé que calçava um chinelo, por baixo da longa túnica, marcando o compasso no chão. Algumas canções, velhas conhecidas, ganharam arranjos arejados pela maresia e alguns efeitos eletrônicos, leves como todo o resto e sem grandes inventividade, o que talvez seja exatamente o que o público de Adriana Calcanhotto mais aprecie. Ela não inventa muito, faz o que sabe fazer e faz bem.
Aos susurros e suspiros, todos acompanharam a letra e prenderam a respiração nas reticências do verso o retrato que eu te dei / se ainda tens não sei / mas se tiver... Nos segundos que antecederam o final da letra, tudo o que se ouviu foi o barulho de uma latinha sendo aberta no fundo do teatro. Alguém não poderia ter escolhido momento pior para provocar qualquer ruído, mas faz parte... Devolva-me!
Esquadros, Fico assim sem você, Vambora e Marinheiro foram as outras do velho repertório que embalaram o coro do público e sustentaram os mais longos aplausos. O insistente pedido de alguém que queria ouvir Marina provocou risos e não foi atendido. Entre as músicas novas, Porto Alegre foi a que mais animou, em um dos momentos mais acelerados do show, prova de que ninguém consegue mesmo resistir ao "ritmo do calipso".
O segundo e definitivo bis foi encerrado na batida empolgante da guitarra de Cazuza. Ao terminar de cantar Mulher sem razão pela segunda vez na noite, desceu do palco, por alguns instantes. Tirou fotos, abraçou fãs e foi embora dançando.
Texto: Bianca Zanella | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Um comentário:
Adorei!!! Ainda bem que fui procurar no google o teu blog!! Estás uma ótima jornalisa e crítica!! Muito bom mesmo..isso que não sou expert no assunto..mas dá vontade de ler até o final!!!
Parabénssssssssssss
um beijão da prima e fã
Ana Amélia
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