terça-feira, 24 de junho de 2008

Na levada recifense do Combat Samba

Do surgimento do manguebeat até aqui lá se vão 16 anos, mas a Mundo Livre S/A, banda recifense que deu o pontapé inicial ao movimento - junto com Chico Science e a Nação Zumbi - continua aí para contar e reescrever essa história.


Era início dos anos 90 quando na capital de Pernambuco um grupo de músicos misturar ritmos e gêneros tradicionais do nordeste com levadas contemporânea, modernizando manifestações folclóricas como o Maracatu e a Ciranda numa onda de "samba-punk-rock", com pegadas de hip hop, música eletrônica e o que mais viesse à cabeça. O resultado, como a própria banda brinca de rotular, é algo como "Johnny Rotten e Jorge Ben no mesmo groove".

Assim, utilizando uma metáfora dos mangues - considerados o ecossistema biologicamente mais rico do planeta - o movimento manguebeat se propunha a formar uma cena musical tão rica e diversificada como os manguezais.
Mais do que uma tendência musical, o movimento extrapolou os limites do som, reverberou por outras manifestações culturais - afetou a moda, as artes plásticas, o comportamento - e repercutiu por todo o País.


A manguetown é logo ali

De Pernambuco ao Rio Grande do Sul, entre os muitos quilômetros que separam os dois estados e as inúmeras peculiaridades que os distanciam culturalmente há lugar para encontrar também afinidades, que os integrantes da Mundo Livre descrevem como uma curiosa relação que se dá, ironicamente, pela própria linguagem da banda, apesar dos sotaques tão diferentes: "Sempre nos identificamos particularmente com os gaúchos. O público daqui é muito politizado, se interessa pela música engajada que nós fazemos. Não é à toa que Porto Alegre é a sede do Fórum Social Mundial...", analisa o vocalista Zero Quatro, em entrevista por telefone, poucas horas antes de subir no palco para o show que a banda fez ontem, na capital do Estado.


Contra a ditadura da música

A busca pela autenticidade da Mundo Livre S/A chegou a ser concretizada no quinto álbum da carreira, O Outro Mundo de Manuela Rosário, lançado em 2004. O CD foi o grito de independência da banda em relação à ditadura do mercado fonográfico que imperava na época, optando por um selo dali mesmo, do Recife. Era a primeira vez que a Mundo Livre lançava um disco fora de uma grande gravadora.

Levantando esta bandeira, o álbum conquistou reconhecimento e importantes prêmios, mas ao mesmo tempo a banda chegou a receber severas críticas por colocar a mensagem politizada das músicas em primeiro plano e dar à sonoridade musical uma importância secundária. Com a convicção de que o disco nasceu para ser polêmico, Zero Quatro defende que dar ênfase ao discurso não significa que as músicas sejam pobres em melodia, e afirma: "Quando o fizemos, tínhamos a consciência de que ele seria encarado como uma total heresia à cartilha da música pop. Esse tipo de música não foi feito para ser mais uma mera canção pra ser assobiada, mas isso não foi inventado por nós".

Superada a resistência, hoje o álbum é considerado um dos mais importantes da carreira da Mundo Livre e deixou sua marca na história da música brasileira.


E se a gente seqüestrasse o Trem das Onze?

A curiosa expressão, que serve de subtítulo ao CD Combat Samba, atualmente lançado em turnê nacional, foi tirada de um livro sobre a história do punk no Brasil. "Não lembro a quem foi atribuída a frase, só sei que dizia que o punk tinha vindo para 'pintar de negro a Asa Branca, seqüestrar o Trem das Onze e fazer da Amélia uma qualquer'", lembra Zero Quatro.

Em 13 faixas coletadas no acervo discográfico da Mundo Livre e uma inédita - Estela (A Fumaça do Pajé Miti Sbitxxi) -, o Combat Samba é uma versão tupiniquim do álbum Combat Rock (1982), símbolo do movimento punk britânico representado pela banda The Clash.


Prestigie!

O quê:
Show da banda Mundo Livre S/A
Quando: Hoje (terça-feira, 24), a partir das 23h
Onde: no Hora Extra Bar & Restaurante (Rua Gonçalves Chaves, 1135)
Ingressos: Antecipados à venda até às 20h no Café Panqueca (Rua Almirante Barroso, 1176) e na Woodstock Discos (Rua Dom Pedro II, 838), com preço único de R$ 20,00.


Texto: Bianca Zanella | Foto: Divulgação | Extraído de: Jornal Diário Popular / Caderno Zoom / Página 4 | Publicado em: Pelotas, Terça-feira, 24 de junho de 2008

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