segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Joca Martins, prazer em vê-lo!

A tal da "velha certeza gaúcha" não se engana: Tinha tudo para ser um show memorável e foi. A noite do dia 31 era do nativismo, de adoração às tradições campeiras. O público recebeu Joca Martins de braços abertos e o antigo Theatro Guarany recebeu Joca com toda a pompa de sua imponência, mas com uma acolhedora simplicidade galponeira, dessas que só a querência proporciona.

O timbre inconfundível da voz rompeu o silêncio. Não havia eco, não havia oco. A casa estava cheia para aplaudir o cantor, de volta a sua terra. Ainda que ele cante com sentimento convicto que “qualquer lugar é querência, se houver cavalo crioulo”, não importa por onde ande, quando volta sabe: Pelotas é o chão de suas raízes.

Prova disso foram as homenagens emocionadas à personalidades daqui e ao sempre poético cenário pelotense. Emocionadas e que emocionaram. Não bastasse a paisagem da pampa ser, por si só, comovente, a melodia mansa da composição considerada um segundo hino do Rio Grande, em tom de oração, completou o momento em que todos cantaram baixinho os versos de Minha Querência.

Era mais uma música que a platéia, inspirada, sabia de cor. E mais um grande momento do show, como as duas vezes em que o ginete "Freio de Ouro" Dado Azevedo exibiu no palco sua habilidade e a destreza de seu cavalo. (Quem diria ver uma exibição dessas, ao vivo, em pleno Guarany!)

A platéia só não correspondeu ao chamado do cantor à participação quando a capacidade das cordas vocais não permitiu: aconteceu durante uma das músicas mais "altas". Não que o refrão não fosse conhecido, mas é que dificilmente a média "normal" do público consegue acompanhar o tom da voz de Joca, principalmente quando ele dá o melhor de si.

Ainda assim, o público abriu a garganta para soltar os tais "gritos selvagens", a variação desafinada de quem não aprendeu uma das artes do homem da pampa: "soltar um sapucai". "Aí que eu me refiro!", repetiu pela terceira ou quarta vez na noite para os aplausos e risos da platéia. "Foi com certeza mais um recorde mundial de grito selvagem e sapucai", afirmou em tom de brincadeira o Joca, a mesma piada do mesmo Joca que todos já conhecem e que ainda assim não perde a capacidade de surpreender, a cada apresentação.

No final, antes de provocar um verdadeiro "frenesi" - como poucos artistas locais provocam - no saguão do Theatro, diante dos fãs que queriam autógrafos e fotos, ainda atendeu a um último pedido feito à beira do palco: tocou "mais uma milonga pra Camaquã".

Um comentário:

Anônimo disse...

Bianca,
Que maneira mais tua de traduzir sentimentos e cultura com tamanha simplicidade. Nas vezes de assessora de imprensa, já dividimos algumas pautas e uns tantos shows. Desde Mágico de Oz e Nenhum de Nós até o meu primeiro passo no nativismo, com Cristiano Quevedo. Mas confesso que as duas pautas com o Joca (a primeira, no pré-lançamento do CD e esta, do lançamento) foram especiais. Os textos impecáveis, emoldurados pelas obras de arte do Paulinho Rossi!

Nesse momento importante da tua vida, onde o encontro com o diploma se aproxima e as voltas com o TCC te enlouquecem, quero que saibas que essa profissão já se faz orgulhosa de ter uma guria como tu.

Sempre achei que quem escreve com o coração, está a léguas de distância dos que tentam traduzir as velhas fórmulas intelectualóides. Por isso, segue firme por esse caminho, traduzindo com toda sua autenticidade momentos como esse que testemunhamos no Teatro Guarany.

Super abraço e os melhores desejos nessa estrada!

Gabi